Roda de Leitura do Itaú Cultural relembra tragédia em Brumadinho
PublishNews, Redação, 24/02/2023
Textos de Prisca Agustoni sobre a tragédia ambiental abrem os encontros da Roda de Leitura de 2023 no Itaú Cultural

A primeira Roda de Leitura do ano no Itaú Cultural, realizada virtualmente, ocorre na próxima quarta-feira (1), às 19h30, e terá como tema principal a obra de Prisca Agustoni. Com o título ‘Roda de Leitura – um dedo de poesia: Prisca Agustoni’ o encontro terá duração de 60 minutos, é de indicação livre e gratuito. No evento, mediado pela poeta Ana Laura Estaregui, os participantes refletem sobre três textos da poeta e crítica literária: Watu é seu nome…, O gosto dos metais e Rabo de animal ferido, encontrados no livro O gosto amargo dos metais, ganhador do Prêmio Cidade de Belo Horizonte, em 2021. A reserva de ingressos para participar do bate-papo pode ser feita aqui.

Nesta obra, Prisca produz um longo poema dividido em partes, no qual discorre sobre o crime ambiental de Brumadinho (MG), em 2019, com o transbordamento de barragens de rejeitos da mineração, resultado de diferentes formas de exploração ao longo da colonização extrativista. Essa trama de excessos e destroços, alturas e abismamentos é atravessada pelo refrão que faz o poema começar e recomeçar pela palavra Watu, nome ameríndio do Rio Doce, que deixou de existir.

No texto O gosto dos metais, por exemplo, Prisca escreve: “no começo era lama. Logo irrompe uma pata de cavalo, nódoa, osso sem rédeas ou crina, rótula ou tronco desgalhado, cartilagem nua aflora do lodo, resvala feito pedra dormente lúcido olho enterrado, ruína na cerca dos fetos: enredam-se líquens ao seu redor como serpente, como mãos que apalpam”.

De acordo com a escritora Célia Pedrosa em seu dossiê sobre o livro, para a Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, a autora aborda a temática de modo a transformá-la em figura de um movimento de amplitude imagética e extensão sintática, que transtorna fronteiras discursivas e espaço-temporais. Mistura memória mítica e histórica, luto e desejo, narração e convívio lírico-dramático de vozes, atualizando o poema longo como forma de experimentação estética e encenação de um novo modo de pensar e habitar a terra.

Prisca Agustoni nasceu na Suíça e vive entre seu país de origem e o Brasil desde 2002. É professora de Literatura Italiana da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais. A sua obra, seja em prosa ou poesia, transita entre diversos idiomas, pois além de autora, Prisca dedica-se à tarefa de auto tradução. Além disso, propõe diálogos entre vários idiomas, sendo a discussão sobre fronteira, a condição do estrangeiro e do migrante recorrentes em seu trabalho. Uma outra abordagem que vem sendo feita por ela é a aproximação do tema da natureza, como se vê em O gosto amargo dos metais.

Ana Laura Estaregui é poeta formada em Artes Visuais pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e mestra em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É autora de livros contemplados pelo ProaC de Poesia, e finalista do Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Biblioteca Nacional, em 2017. Em 2018, ela recebeu o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura na categoria Poesia. Colabora no conselho editorial da Revista Intempestiva e realiza oficinas livres de criação em escrita e arte. Ministra o curso Encruzilhadas: poesia e artes visuais – como pensar poéticas de procedimento? no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). 

[24/02/2023 08:00:00]