Esses são alguns dos achados da pesquisa inédita da JLeiva Cultura & Esporte, com patrocínio do Itaú e do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Rouanet, Lei Federal de incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. O projeto também contou com a parceria da Fundação Itaú. Os resultados da pesquisa foram apresentados no início de fevereiro e uma série de seminários está sendo realizada em algumas capitais. A pesquisa completa está disponível neste link.
O estudo ouviu mais de 19.500 pessoas moradoras de todas as capitais e do Distrito Federal e abordou três mil moradores de São Paulo, entre fevereiro e maio de 2024, sobre suas práticas culturais ao longo dos 12 meses anteriores.
A capital paulista tem índices de acesso acima da média das capitais brasileiras em oito das 14 atividades pesquisadas: livros, jogos eletrônicos, cinema, locais históricos, museus, bibliotecas, teatro e saraus. Na maioria dos outros casos, São Paulo está um pouco abaixo ou um pouco acima da média, dentro da margem de erro — as exceções são circo (12%, contra 14% da média das capitais) e festas populares (33%, contra 36% da média geral). Além dessas atividades, a pesquisa avaliou o acesso a shows de música, dança, feiras do livro e concertos de música clássica.
O percentual de moradores da capital paulista que vão ao teatro é de 28%, enquanto 41% declaram ter ido a shows de música no ano anterior à pesquisa. Depois da leitura de livros (66%), as opções culturais mais acessadas na capital paulista são jogos eletrônicos (55%) e cinema (52%).
Em 2017, a JLeiva pesquisou os hábitos culturais de 12 capitais brasileiras. Na comparação entre 2017 e 2024, o acesso a atividades culturais diminui em todas as capitais visitadas.
Os resultados em São Paulo seguem essa tendência. Houve diminuição no acesso a praticamente todas as atividades (a exceção foi jogos eletrônicos) em comparação com 2017, mas a queda foi maior em duas das regiões de menor renda da cidade: Norte e Sul. O acesso a shows, por exemplo, ficou praticamente estável no Centro, na Zona Leste e na Oeste, mas caiu na Zona Norte (-11 pontos percentuais) e na Sul (-6 pontos percentuais). O acesso a museus, por exemplo, só caiu nessas duas regiões.
Público potencial
Além do acesso, a pesquisa avaliou o interesse dos moradores de São Paulo por cinco atividades culturais. Quem não foi a uma determinada atividade nos 12 meses anteriores à pesquisa, mas indicou alto interesse em ir, é considerado público potencial.
Os resultados apontam que shows de música, festas populares, museus, espetáculos de dança e de teatro têm grande potencial de crescimento no alcance do público. Teatro e dança, por exemplo, com taxas de acesso de 28% e 26%, respectivamente, teriam potencial para dobrar seu público. Entre os 72% da população que não foram ao teatro, 32% deram notas de 8 a 10 para o seu interesse pela atividade, sendo considerados, assim, público potencial. No caso da dança, o público potencial chegou a 26%. As demais atividades pesquisadas têm potencial de crescimento de alcance que vai de cerca de dois terços a 50%.
Desigualdade no acesso por região
Em nível nacional, o estudo aponta que o acesso à cultura é influenciado por uma combinação de fatores, como escolaridade, renda, gênero, idade e raça. Em São Paulo, a maior capital do país, os índices de exclusão também se relacionam à disponibilidade e distribuição de espaços culturais pela cidade. A maior parte dos residentes das Zonas Sul (54%), Norte (57%) e Leste (58%) realiza atividades culturais fora do bairro onde moram, enquanto na região central apenas 24% dos moradores precisam sair de seus bairros para acessar a maior parte das opções culturais.
A tendência vai na direção contrária à do número de habitantes. O acesso é maior nas regiões central e oeste, as menos populosas da cidade, com 3% e 9% da população, respectivamente.
Os índices de acesso são maiores no Centro para 11 atividades: bibliotecas, cinema, museus, teatro, dança, shows de música, concertos, festas populares, leitura e visita a locais históricos e feiras literárias (a última com o mesmo percentual da Zona Oeste). A Zona Oeste também lidera em saraus.
Manifestações populares, eventos e culinária
As festas juninas lideram em participação, com 81%, enquanto o carnaval atrai 38% (blocos) e 25% (desfiles) dos 33% dos entrevistados que costumam ir a festas populares. A pesquisa perguntou a todos os entrevistados qual evento cultural consideram o mais importante da cidade. A resposta era livre e foram citados mais de 270 eventos, mas a Virada Cultural se destacou como o mais lembrado pelos entrevistados em termos de relevância – 4% citaram feiras e eventos literários, como a Bienal Internacional do Livro.
Música
No campo musical, a capital paulista segue a tendência nacional, com sertanejo (40%) e MPB (29%) liderando as preferências. Outros gêneros, como rock (26%) e gospel (21%), também têm forte presença. A maior parte dos moradores consome música por meio de celulares (85%), utilizando aplicativos como YouTube (88%), Spotify (49%) e TikTok (27%).
Audiovisual
Cerca de metade (52%) dos entrevistados em São Paulo disse ter ido ao cinema pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores à pesquisa. Já em casa ou em trânsito, a TV (83%) e o celular (58%) são os principais meios para ver filmes e séries; os serviços mais utilizados para isso são os streamings (56%), seguidos de TV por assinatura (40%) e TV aberta (39%).
Museus
Museu do Ipiranga (26%), Masp (11%), Pinacoteca (8%), Museu da Língua Portuguesa (5%) e Catavento (4%) foram os museus mais citados na pergunta sobre o último museu ou exposição visitados no Brasil. No total, 119 diferentes espaços culturais foram citados pelos 32% da população que disseram ter visitado algum museu ou exposição nos 12 meses anteriores à pesquisa. Dois terços desses entrevistados (65%) disseram que sua última visita foi gratuita.
Os dados apontam que 17% dos entrevistados afirmaram que costumam ir sozinhos a museus e exposições. A maioria costuma ir com alguém: em família com crianças (36%), em casal (19%), com amigos (18%), com parentes sem crianças (6%) ou em grupo (3%).Por fim, 14% dos entrevistados disseram ter acessado o site de um museu para conhecer sua coleção.
Teatro
Menos de um terço (28%) dos entrevistados em São Paulo foi ao teatro no último ano. Dentre os que foram, a frequência foi maior no teatro adulto (69%) e em musicais (56%). A maioria, 42%, costuma fazer esse programa em família e com as crianças, enquanto 12% costumam ir sós ao teatro. Para 64% dos que foram ao teatro, a última visita foi paga. Entre as razões para não ir, as mais citadas são falta de tempo (39%), de interesse (25%) ou questões econômicas (22%).
Práticas culturais e motivações
Segundo os resultados do estudo, 37% dos moradores praticam alguma atividade ligada à cultura, como dança, teatro ou artesanato. A razão mais citada para a prática é o cuidado com a saúde mental (51%), evidenciando a relevância dessas atividades para o bem-estar.
Espaços culturais e oportunidades de crescimento
O Ibirapuera é o espaço cultural mais frequentado pelos moradores da cidade, conforme resposta aberta em que foram nomeados mais de 470 espaços. Apesar da ampla diversidade cultural de São Paulo, muitos espaços icônicos permanecem pouco visitados. Muita gente conhece, mas nunca foi ao Theatro Municipal (46% dos que disseram conhecer nunca foram ao local), Masp (34%) e Museu do Ipiranga (33%).
Seminários nas capitais
O projeto Cultura nas Capitais contempla seminários em todas as cidades analisadas pela pesquisa. Confira as próximas datas já definidas:
- 19 de fevereiro - Rio de Janeiro - Museu do Amanhã
- 26 de fevereiro - Brasília - IPEA
- 12 de março - Belo Horizonte - Sesc Palladium
Demais seminários serão anunciados gradativamente.
Metodologia
Nesta edição da pesquisa Cultura nas Capitais a JLeiva Cultura & Esporte ouviu 19.500 pessoas, moradoras de todas as capitais brasileiras – as 26 estaduais, além de Brasília – com idade a partir de 16 anos, de todos os níveis socioeconômicos, entre os dias 19 de fevereiro e 22 de maio de 2024. As pessoas foram abordadas pessoalmente em pontos de fluxo populacional. Ao todo, os pesquisadores foram distribuídos por 1.930 pontos de fluxo (entre 40 e 300 por capital), em regiões com diferentes características sociais e econômicas. Os entrevistados respondiam até 61 perguntas, além das relacionadas a características sociais e econômicas (como escolaridade, cor da pele etc.). O instituto responsável pelo estudo é o Datafolha.
Além da pergunta sobre renda, a pesquisa também adotou o Critério Brasil de Classificação Econômica, um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau de escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população em classes: A, B, C, D ou E (Fonte: ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa).
