
A escritora Nélida Piñon morreu neste sábado (17), aos 85 anos, em Lisboa. Um dos nomes de maior relevância da literatura nacional no exterior, Nélida foi também a primeira mulher a ocupar a presidência da Academia Brasileira de Letras, onde era titular da cadeira 30. A causa da morte ainda não foi confirmada. O sepultamento será no mausoléu e a ABL fará uma Sessão da Saudade no dia 2 de março de 2023 em homenagem à autora.
Nélida Piñon estreou na literatura com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961, que tem como temas o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus. No romance A república dos sonhos, baseado em uma família de imigrantes galegos no Brasil, ela faz reflexões sobre a Galícia, a Espanha e o Brasil. Sua obra já foi traduzida em inúmeros países, tendo recebido vários prêmios ao longo de mais de 60 anos de atividade literária. Sua obra era publicada no Brasil pela editora Record.
Em 1996, tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a Academia Brasileira de Letras. Formou-se em Jornalismo em 1956 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Colaborou em vários jornais e revistas literárias e foi correspondente no Brasil da revista Mundo Nuevo, de Paris, e editora assistente dos Cadernos Brasileiros.
Autora de mais de 20 livros, entre romances, contos, crônicas e infantojuvenis, ela recebeu muitos prêmios nacionais e internacionais. Entre eles, destacam-se o Prêmio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, em 1995 (pela primeira vez para uma mulher e para um autor de língua portuguesa); o Bienal Nestlé, categoria romance, pelo conjunto da obra, em 1991; e o da APCA e o Prêmio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance A república dos sonhos. Em 2005, pelo conjunto de sua obra, ela recebeu o Príncipe de Astúrias, um dos maiores prêmios de literatura do mundo hispânico – mesmo ano em que venceu o Prêmio Jabuti com a obra Vozes do deserto, nas categorias "Melhor Romance” e “Livro do Ano – Ficção”.
Nélida era também catedrática da Universidade de Miami desde 1990, e foi escritora-visitante das universidades de Harvard, Columbia, Johns Hopkins e Georgetown. Ela recebeu o títutlo de doutora honoris causa das universidades Poitiers, Santiago de Compostela, Rutgers, Florida Atlantic, Montreal e UNAM. Em 2012, foi nomeada Embaixadora Ibero-Americana da Cultura.
Seu livro mais recente foi Um dia chegarei a Sagres (2020), um épico passado no século XIX, em um Portugal profundo, produto da fé na tradição oral e na cultura da memória.
Diversas instituições, escritores, colegas e amigos prestaram homenagens à autora nas redes sociais.
Profundamente sentida com a partida de Nélida Piñon, primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras. O país perde uma de suas maiores escritoras. Tenho certeza que seu legado seguirá conosco, vivo em suas obras. Meu abraço aos amigos e familiares.
— Margareth Menezes (@MagaAfroPop) December 17, 2022
Entre as belezas de 2022 teve o prêmio da União Brasileira do Escritores para o “Nada digo de ti, que em ti não veja”, o encontro com a @nelidapinon e uma conversa linda sobre André Rebouças onde ela me pediu: “fale dele, querida”. Falarei, Nelida. Falarei… Descanse na luz.pic.twitter.com/0AOX3PQMG0
— ElianA Alves Cruz (@cruz_elianalves) December 17, 2022
Um silêncio inacreditável se faz na alma dos que amam a literatura. A minha querida amiga de tantos anos, #NélidaPinon nós deixou, há pouco, em Lisboa. Ela me mandou esta foto semana passada, prometendo estar hoje no Rio para um almoço. Tristeza imensa. A. pic.twitter.com/nSgVHiuxTg
— Afonso Borges (@afonsoborges) December 17, 2022