serrote chega à 42ª edição com ensaio sobre populismo e democracia
PublishNews, Redação, 12/12/2022
Artigo da pesquisadora italiana Nadia Urbinati é destaque do volume, que ainda conta com ensaio do escritor Teju Cole sobre Edward Said e textos dos vencedores do concurso de ensaísmo serrote

A Revista serrote, publicada pelo Instituto Moreira Salles (IMS) com enfoque em ensaios, artes visuais, ideias e literatura, lançou sua 42ª edição. Com artigos de autores brasileiros e internacionais, o novo número, já disponível nas livrarias, trata de temas centrais do debate atual, do enfraquecimento das democracias às disputas pela memória.

O principal destaque da edição, o ensaio de Nadia Urbinati, pesquisadora italiana, analisa como o populismo tem transformado as democracias representativas por dentro, subvertendo a ordem institucional. Segundo a pesquisadora, “o populismo não é um movimento subversivo, mas antes um processo que se apropria das normas e ferramentas da política representativa. Como vemos hoje, os populistas exploram as disfunções da democracia constitucional e por vezes tentam remodelar a constituição. Daí a novidade do populismo contemporâneo, que se desenvolveu dentro de democracias constitucionais. Essa novidade reforça o fato de que as formas populistas espelham justo a ordem política contra a qual elas reagem.”

A revista traz também os textos dos três autores premiados na edição deste ano do concurso de ensaísmo serrote. Primeiro colocado, o escritor e tradutor soteropolitano Igor de Albuquerque (1989) assina o ensaio Modos de sentar, no qual investiga como a sexualidade, os papéis de gênero e as disputas de poder são representadas nos hits da música nacional, do pop ao sertanejo. “Mais do que mera obsessão com uma posição específica, a onipresença da sentada nas letras concentra uma série de significados, contradições, tensões e perspectivas”, afirma.

O historiador porto-alegrense Guilherme Moraes (1987) ficou em segundo lugar com o texto Esboço para uma teoria do conformismo. O autor analisa a presença do sentimento de conformismo no Brasil, cuja preponderância beneficiaria as classes dominantes. Em sua argumentação, identifica três elementos centrais na criação e manutenção desse sentimento: a religiosidade messiânica, o comodismo mercantil e a repressão.

No ensaio Greve nos canaviais, terceiro colocado no concurso, o sociólogo pernambucano Guilherme Benzaquen (1989) aborda o episódio de paralisação dos trabalhadores rurais de Pernambuco em 1979, durante a ditadura militar. A partir dos relatos dos grevistas, enfatiza a potência emancipatória da memória em todas as lutas.

A revista publica ainda um texto em homenagem ao pensador palestino Edward Said assinado pelo escritor nigeriano-americano Teju Cole (1975) e um texto da filósofa Denise Ferreira da Silva (1963), Nem mesmo pela lei daqui, o primeiro capítulo do livro Acumulação negativa: valor e negridade, com previsão de lançamento em 2023 pela Companhia das Letras. Na edição, ainda outros artigos de Claudio Medeiros (1988), da escritora mexicana Margo Glantz (1930), um dos maios famosos autores da literatura argentina, Ricardo Piglia (1941-2017), um ensaio da romancista norte-americana Mary Gaitskill (1954), e um texto do consagrado filósofo checo Vilém Flusser (1920-1991).

A serrote #42 publica ainda dois ensaios visuais assinados pela artista Andréa Hygino: Prova de estado (2013), série de oito gravuras obtidas a partir da impressão de tampos de carteiras escolares antigas, e Exercício da destreza (2016), na qual a artista trata, a partir de desenhos, da prática violenta de exigir que canhotos escrevam com a mão direita. Também estão presentes trabalhos dos artistas Kika Diniz, Jonathas de Andrade, Mauro Piva, Marcelo Macedo, Rommulo Vieira da Conceição, Ishiuchi Miyako, Laís Amaral, Gustavo Nazareno, Ignasi Aballí e Arthur Arnold.

[12/12/2022 11:20:00]