Frequência de atividades culturais não volta ao patamar pré-covid, aponta pesquisa
PublishNews, Redação, 25/08/2022
Realizada pelo Datafolha, em conjunto com o Itaú Cultural, pesquisa Hábitos Culturais mostra que cinema foi a atividade que perdeu mais público, mas queda afeta também apresentações artísticas e espetáculos infantis, entre outras

Biblioteca Parque Villa-Lobos | © Equipe SP Leituras
Biblioteca Parque Villa-Lobos | © Equipe SP Leituras
O Itaú Cultural e o Datafolha divulgaram os resultados da nova edição da pesquisa Hábitos Culturais, que abrange as atividades culturais presenciais e virtuais dos brasileiros nos últimos 12 meses e, nesta edição, analisa as perspectivas com a reabertura total dos espaços, após o arrefecimento da pandemia.

O levantamento ouviu 2.240 indivíduos de 16 a 65 anos em todas as regiões do país e classes econômicas. A região Sudeste teve 1.361 entrevistados (43%), Nordeste aparece em seguida com 27%. Depois Norte e Centro-Oeste (16%) e Sul (14%). Destes, 55% são mulheres e 45% homens.

O que se viu no estudo foi que, mesmo com o arrefecimento da pandemia, a maioria dos brasileiros ainda não retomou por completo a rotina de atividades culturais no país, sejam presenciais, sejam on-line, já que 62% dos entrevistados disseram realizar atividades de cultura e de lazer em frequência menor que antes da pandemia, enquanto somente 12% disseram ter aumentado a frequência.

A menor frequência de realização de atividades culturais foi vista entre as mulheres (67%). Segundo Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, esse dado pode ter a ver com o fato das mulheres terem sido mais afetadas economicamente durante a pandemia. "E, pelo fato das escolas terem ficado fechadas por muito tempo, foram as mulheres que mais tiveram que segurar a onda. Por isso, elas estão demorando mais nessa retomada", analisou durante a coletiva de imprensa para apresentação da pesquisa. "Não estou dizendo que o dado visto na pesquisa pode dizer exatamente isso, mas é importante lembrar que o consumo cultural se dá muito em virtude do seu horário livre. Então ter trabalho com carteira assinada te permite um horário livre. Quando se está num emprego informal - o que aumentou muito durante a pandemia –, você não tem horário fixo”, sugeriu Saron.

Principais atividades culturais realizadas

As atividades online foram as mais citadas como realizadas no último ano. Ouvir música online aparece em primeiro lugar, com 80% dos entrevistados dizendo ter realizado a atividade. Assistir filmes e séries online, vem logo em seguida, com 70%.

O destaque positivo vai para a terceira posição da lista: ouvir podcasts. 42% dos entrevistados pelo estudo disseram ter realizado a atividade no último ano. Em 2021, esse número era de 32%, ou seja, um aumento expressivo de 10 p.p.

Em contrapartida, o hábito de ir ao cinema foi um dos mais afetados pela queda de frequência. Na pesquisa realizada em 2021, 59% declararam ter ido ao cinema antes da pandemia. O levantamento feito agora mostra que apenas 26% realizaram essa atividade nos últimos 12 meses. Ler livros digitais (e-books) também aparece na lista com 30% dos entrevistados dizendo ter realizado a atividade.

Também registraram queda os espetáculos infantis (de 23% para 18%), as aulas e oficinas de arte (de 21% para 10%), a visitação a centros culturais (de 15% para 11%) e exposições e museus (de 11% para 8%), as oficinas de criação para crianças (de 15% para 7%) e os projetos artísticos guiados (de 12% para 6%).

Sobre sentir falta, Cinema é a atividade que mais gente sentiu falta de fazer: 58%, visitar bibliotecas aparece em segundo lugar com 28%.

Online x Presencial

A pesquisa Hábitos Culturais verificou que, depois de mais de dois anos de pandemia, cresceu o interesse dos brasileiros pela participação em eventos culturais presenciais, em detrimento dos oferecidos em plataformas online.

No caso de shows musicais, 72% dos entrevistados disseram que dariam preferência à experiência presencial. Em 2021, o índice era de 62%. Os que optariam pelo online somaram 19%, ante 32% verificados em 2021. Os espetáculos de circo, teatro e dança seguem a mesma tendência: 73% disseram que dariam preferência à fruição presencial (eram 64% em 2021) e apenas 24% optariam pelos eventos online (eram 32% em 2021).

Ainda de acordo com a pesquisa, 30% dos entrevistados disseram que a razão da preferência pelas atividades culturais presenciais se deve à oportunidade de travar contato com outras pessoas (em 2021 o índice era de 37%). 16% disseram que o presencial passa mais credibilidade e 13% acham que ações presenciais têm mais emoção. Prender mais a atenção (12% ante 8% em 2021) e poder sair da frente do computador (7% agora ante 10% em 2021) também aparecem como razões da preferência pelos eventos presenciais.

Já a comodidade e a flexibilidade de horário são apontadas como as principais razões de escolha para o grupo que opta pelos eventos online, com 27% das menções neste estrato.

Os adeptos dos eventos online também apontam a localização para evitar deslocamentos (16%), desejo de evitar aglomerações e não pôr a saúde em risco (12% agora e 9% na edição anterior) e a praticidade de assistir em casa (10% agora contra 5% em 2021) como fatores determinantes para a preferência pelo virtual.

Saúde mental

O estudo também investigou o impacto das atividades culturais na saúde mental dos brasileiros. De acordo com o levantamento, houve aumento nos eventos de problemas de saúde mental nos domicílios no comparativo com a pesquisa anterior. Em 2021, 36% declararam que alguém do domicílio tinha registrado problemas de saúde mental. Na pesquisa atual, o índice subiu para 49% dos entrevistados. 68% informaram que a pessoa afetada procurou ajuda especializada.

Já o índice declarado de satisfação com atividades culturais aumentou e ficou em 60%, 15 pontos percentuais a mais que os 45% declarados na edição de 2021 da pesquisa.

A satisfação com a vida como um todo avançou de 74% para 78%. O índice de satisfeitos e muito satisfeitos com a moradia flutuou de 84% para 83%, e a satisfação com o trabalho se manteve em 77% nas duas amostras.

Para 48% dos respondentes, as atividades culturais online contribuíram para melhorar a qualidade de vida (eram 44% em 2021) e diminuíram o estresse e a ansiedade (53% agora ante 48% em 2021).

O levantamento mostrou também que cresceu o interesse por atividades culturais online (65% agora ante 57% no ano anterior) e 72% (mesmo índice da pesquisa anterior) disseram que atividades online deram acesso a conteúdos que não estariam disponíveis de outro modo.

Nas atividades presenciais que mais contribuíram para o bem-estar, a prática de esportes ocupa a primeira colocação para 57% dos entrevistados. Outras atividades de lazer (praia, piscina e zoológico vêm em seguida na menção de 35% da amostra). Atividades culturais ocupam a terceira posição nas atividades presenciais que produzem bem-estar, com 28% das menções.

Gasto médio

O estudo apontou também que os brasileiros gastam em média R$ 178 mensais com atividades culturais presenciais. Já o gasto médio mensal com atividades culturais online é menor, de R$ 128,38.

Considerando a base total dos 2.240 entrevistados, 8% disseram dispender R$ 50 por mês com atividades culturais presenciais. Para 12%, os gastos mensais nesta modalidade variam de R$ 51 a R$ 100 por mês. Os que gastam de R$ 151 a R$ 200 por mês em atividades presenciais representam 8% da amostra. Só 1% gasta de R$ 201 a 250 e 5% gastam acima de R$ 301 ao mês com cultura.

No caso das atividades online, considerando as respostas da amostra total da pesquisa, 15% disseram gastar até R$ 50 por mês. O cardápio inclui plataformas de streaming e compra de filmes e séries. Os gastos entre R$ 51 e R$ 100 foram declarados por 21% dos respondentes.

Gastos por classe, escolaridade e etnia

Os gastos da classe AB com cultura em eventos presenciais é de R$ 210,28 ao mês. Entre os indivíduos da classe C, o valor é de R$ 161,74. Na DE, o valor é de R$ 173,32.

Por grau de escolaridade, quem tem apenas o ensino fundamental gasta em média RS 160,65 ao mês com cultura presencial. Entre os consumidores com ensino médio, o valor sobe para R$ 174,71. Entre os que têm ensino superior, o gasto é de R$ 192,23.

O levantamento detectou variações também por etnia e cor da pele para os gastos presenciais com cultura. Entre os brancos, o gasto médio mensal com atividades do gênero é de R$ 191,81, e os indivíduos de cor preta dispendem R$ 170,55. Os pardos, R$ 165,87

No ambiente digital, o gasto médio com consumo de cultura é de R$ 167,76 no estrato da classe A/B. Na classe C, o valor dispendido é de R$ 120,00 e, na D/E, o valor é de R$ 102,35 mensais.

O levantamento também verificou os gastos com cultura na web com estratificação por etnia. A média de gasto mensal declarada pelos indivíduos de cor branca é de R$ 143,74. Entre os indivíduos de cor preta, o valor e de R$ 112,17. A média mensal declarada pelos pardos é de R$ 119,71.

[25/08/2022 11:40:00]