A Folha publicou entrevista com o autor japonês Kotaro Izaka, que viu seu romance de estreia, Trem-bala (Intrínseca), ganhar repercussão mundial. Esse sucesso deve aumentar muito com adaptação cinematográfica da obra, prestes a estrear. Será difícil o filme não fazer grande bilheteria tendo o roteiro alucinado extraído das páginas que contam um jogo de gato e rato engraçado e violento entre cinco assassinos profissionais que viajam a bordo do trem ultrarrápido japonês. Ajuda também ter o astro Brad Pitt encabeçando o elenco. Se uma das coisas que mais se fala sobre o livro é que ele parece um filme de Quentin Tarantino, o esperado é um resultado frenético.
Também na Folha, o escritor e cientista político português João Pereira Coutinho analisou Zero gravity (Arcade Publishing), uma reunião de textos publicados por Woody Allen na revista New Yorker, acrescidos de um conto feito originalmente para o livro, Growing Up in Manhattan. Coutinho destacou que o livro apresenta as mesmas obsessões intelectuais do cineasta, já bem conhecidas do público, mas essa prosa continua bem-sucedida na forma como usa a alta cultura para parodiar os esnobes da alta cultura.
O Estadão publicou entrevista com o antropólogo Roberto DaMatta, que recebeu o prêmio Machado de Assis na cerimônia que celebrou os 125 anos na Academia Brasileira de Letras. A reportagem destacou um especial interesse do antropólogo por peculiaridades brasileiras: a hierarquização da sociedade, disfarçada de proximidade; o Carnaval como ritual que mistura ricos e pobres, suspendendo temporariamente regras e diferenças; a dicotomia entre o coletivo simbolizado na rua, e o privado sintetizado no lar; e o fascínio pela esperteza da malandragem.
A Academia Brasileira de Letras continua assunto. O Globo dedicou vários textos à entidade, que tem forte identificação com a capital no estado do Rio. Além de descrever as atividades de comemorações no 125 anos, o jornal trouxe uma entrevista com o escritor e jornalista Merval Pereira, atual presidente da ABL. Ele prioriza o papel da academia na defesa da liberdade de expressão, principal causa motivadora no trabalho de renovação empreendido na ABL.
Outro destaque no Globo foi a entrevista com a psicanalista e historiadora francesa Elizabeth Roudinesco, que vem ao Brasil em outubro para participar da programação do Fronteiras do Pensamento. Ela vai lançar no país o livro O eu soberano: ensaio sobre as derivas identitárias (Zahar). Segundo a autora, a obsessão do prisma identitário no debate contemporâneo teria feito a militância progressista perder seu rumo ao fixar infinitos conceitos de gênero e raça. Roudinesco também critica a maneira como a extrema direita explora conceitos do século XIX sobre raça e território.
E tem mais um nome da filosofia francesa nas páginas do Globo. Malcom Ferdinand, que tem seu livro Uma ecologia decolonial, lançada no Brasil pela Ubu, afirmou em entrevista que o assassinato de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira é tentativa de intensificar a dominação dos povos indígenas e a exploração da floresta. Para ele, as lutas ecológica e antirracista são indissociáveis.