Um monstro despertando o ódio dos homens
PublishNews, Thales de Menezes, 07/06/2022
'A serpente de Essex', romance fantástico da inglesa Sarah Perry, é mais uma combinação de sucesso entre livro e série de TV, misturando uma criatura misteriosa e uma relação amorosa proibida que despertam a ira de uma cidadezinha

Cena da série 'A serpente de Essex' | © Divulgação Apple TV+
Cena da série 'A serpente de Essex' | © Divulgação Apple TV+
Alguns romances ganham notoriedade porque seus autores costuram muito bem tramas paralelas ou entrelaçadas em seus enredos. A inglesa Sarah Perry usa e abusa desse recurso em A serpente de Essex, lançado no Brasil pela Intrínseca. Seu livro pode ter vários resumos diferentes.

A história de uma mulher que, depois da morte do marido, muda para uma cidade pequena e tem problemas de adaptação. Uma cobra gigante, ou algo parecido, está matando habitantes de uma cidadezinha e surge uma heroína inesperada para enfrentar essa coisa. Uma mulher de hábitos, digamos, modernos, chega a uma comunidade e seduz o vigário da igreja local, que é casado, atraindo toda a hostilidade dos moradores.

A serpente de Essex é tudo isso, junto e misturado, num texto temperado em todas essas situações com uma discussão constante sobre o obscurantismo sustentado pela fé. O medo vem da ignorância e produz violência. Um mal de vários lugres e vários tempos na história do mundo. No caso do livro de Sarah Perry, na Inglaterra vitoriana no fim do século XIX.

Difícil é saber se a série baseada no livro, exibida em streaming pela Apple TV+, alavanca a venda do livro, ou é o romance que atrai mais olhares para o aplicativo da Apple. De qualquer forma, são dois produtos culturais que valem a pena.

Os protagonistas são conhecidos de fãs de séries. A viúva Cora Seaborn é interpretada por Claire Danes, estrela de Homeland. O vigário Will Ransome é o papel de Tom Hiddleston, conhecido como o Loki nos filmes de cinema e na série da Marvel. Os dois têm a responsabilidade de carregar a tensão sexual entre seus personagens. É essa relação que amarra todos ao lados da trama.

Cora, depois da morte do marido com o qual tinha uma relação abusiva, sai de Londres e vai morar em Essex. Chegando lá, descobre que uma monstruosa criatura, talvez uma serpente, espalha o terro no lugar. Naturalista amadora, ela quer encontrar o animal. A recepção nada acolhedora dos habitantes da cidade só piora quando começa a circular a ideia de que a presença dela estaria atraindo o tal monstro. E, para completar, ela e o vigário começam a lidar com uma atração mútua. Aí Cora realmente vai virar objeto de ódio entre os fiéis, que não aceitam o que percebem como assédio da moça moderna de Londres em cima do vigário casado e querido por todos.

As mudanças do livro para a série não são muitas, mas suficientes para que quem gostar de um possa se aventurar a conhecer o outro sem ficar entediado. A combinação dá certo. Um levantamento da revista americana Variety apontou que cerca de 120 filmes ou séries disponibilizadas este ano nos canais de streaming americanos são baseados em livros.

A SERPENTE DE ESSEX
Livros: Intrínseca, 416 pp, R$ 69,90. Tradução de Regina Lyra
Streaming: disponível na Apple TV+

[07/06/2022 09:00:00]