Saraiva demite em massa
PublishNews, Leonardo Neto, 14/04/2020
Corte incluiu funcionários do centro de distribuição e das lojas, incluindo níveis de gerências

Como medida de contenção da disseminação do coronavírus, a Saraiva adotou, no seu centro de distribuição (CD) localizado em Cajamar, na Grande São Paulo, um revezamento de turnos. Na última quinta-feira (09), no entanto, a empresa solicitou a um grupo de funcionários que comparecesse ao CD na segunda-feira (13), mesmo que não fosse o seu dia de trabalho. “Quando chegamos não passamos a nossa digital no [catraca de] torniquete, já fomos direcionados para uma parte do galpão que já estava vazio”, contou uma funcionária que preferiu não se identificar. Ali, os empregados se encontraram com um representante do RH da empresa e com pessoas do departamento jurídico do sindicato que representa os colaboradores.

O PublishNews teve acesso ao áudio gravado durante a assembleia. O representante da empresa explicou: “Hoje vivemos um momento um pouco complicado, que não é só na Saraiva. Não é só em São Paulo. Não é só no Brasil. É no mundo. Devido a esse momento, tivemos que tomar algumas decisões para salvar todo mundo. Estamos em um barco que começou a afundar e precisamos fazer uma manobra para que o barco não afunde. Alguns terão que continuar e outros terão que ficar”. Além do áudio, o PublishNews recebeu um vídeo no qual se vê pelo menos 80 pessoas aguardando o início da assembleia.

As demissões não ficaram restritas ao CD. Gerentes de lojas e de regionais também engrossaram o número de demitidos. O PublishNews falou com alguns desses gerentes. Um deles, que também pediu para não ser identificado, resumiu: “Ela [a Saraiva] está indo para um caminho incerto e ontem mostrou realmente isso, pois boa parte do conhecimento que restava na empresa saiu ontem”.

“A impressão que tenho é que foi uma marola perto do que está por vir. Sinto demais presenciar e fazer parte deste momento tão difícil. Creio que foi apenas o início de algo bem maior”, declarou outra pessoa demitida com quem o PublishNews conversou.

Segundo outra fonte ouvida pelo PN, nesta terça-feira, a onda de demissões chegou ao escritório central da empresa, na avenida Henrique Schaumann.

A empresa, que está em recuperação judicial, informou aos seus demitidos que terá que parcelar as verbas rescisórias (saldo de salário + 13º proporcional + férias proporcionais + ferias vencidas + 1/3 de férias) e a multa de 40% sobre o FGTS. A empresa prometeu incluir neste parcelamento a multa referente ao artigo 477 da CLT que inclui o valor de um salário base às verbas rescisórias.

O parcelamento será feito em até 20 meses, respeitando sempre o mínimo do salário atual. Ou seja, um sujeito que tem a receber R$ 10 mil e tinha um salário de R$ 2 mil receberá cinco parcelas de R$ 2 mil ou aquele que tinha a receber R$ 150 mil e um salário de R$ 5 mil receberá 20 parcelas de R$ 7,5 mil.

A empresa prometeu começar os pagamentos em dez dias a contar desta segunda-feira e as demais parcelas devem cair na conta do ex-funcionário a cada dia 15.

Os ex-funcionários reunidos na assembleia com o sindicato no CD de Cajamar aceitaram a proposta.

Segundo o último relatório mensal de atividades, a empresa tinha até fevereiro 1.758 funcionários.

O PublishNews procurou a Saraiva, mas até o fechamento desta edição, a empresa não tinha se manifestado.

De acordo com apuração da Folha, a Saraiva demitiu cerca de 500 funcionários: 300 do seu centro de distribuição e mais 200 trabalhadores das lojas distribuídas pelo estado.

[14/04/2020 10:00:00]