O setor movimentou R$ 226 bilhões e o gasto médio mensal familiar com atividades culturais foi de R$ 282,86 em 2018. Esse índice aponta o nível de desigualdade no país: as famílias com rendimento de até R$ 1.908,00 comprometiam apenas 5,9% de seus gastos com atividades culturais (R$ 82,15), abaixo da média nacional de 7,5%, ao passo que aquelas com renda superior a R$ 23.850,00 destinavam 7,9% de suas despesas à cultura (R$ 1.443,41).
O estudo apontou um dado alarmante: as livrarias estão sumindo da paisagem urbana do Brasil. Para efeito de metodologia, o IBGE usa os dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais para considerar o estabelecimento uma livraria. O estudo anual usa como fonte primária de dados as próprias prefeituras.
Em 2001, 2.374 municípios brasileiros (42,7% do total) contavam com pelo menos uma livraria. Em 2018, apenas 985 dos 5.570 municípios brasileiros (17,7%) tinham esse tipo de estabelecimento.
Quando posto em perspectiva, nota-se um decréscimo quase que constante desse índice relativo de número de municípios com livrarias, como mostra o gráfico abaixo. Em 1999, 35% das cidades brasileiras contavam com esse tipo de comércio. Em 2001, houve um crescimento (42,7%), mas depois a curva veio apontando para baixo até 2014 quando teve uma ligeira melhora (27,4%) para chegar ao índice mais baixo em 2018 (17,7%).
A pesquisa aponta que tem mais municípios com videolocadoras (lembram-se delas?) do que com livrarias. Segundo o estudo, 23% das cidades brasileiras ainda têm esse tipo de estabelecimento.
Os dados do IBGE não surpreenderam Bernardo Gurbanov, presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL). “É a confirmação de algo que a gente vem falando há muito tempo”, disse em entrevista ao PublishNews. Ele aponta que, entre o fim dos anos 1990 e o início dos 2000, o mundo viveu uma transformação nos hábitos de consumo, com o surgimento da internet. “No fim do século 20, você tinha praticamente um canal para chegar ao livro: a livraria. Hoje, entrando na segunda década do milênio, nós temos uma situação diametralmente oposta: quando você precisa de um livro, tem n possibilidades de busca. A oferta se multiplicou de forma tão extraordinária que a livraria deixou de ser o local de referência na busca pelo livro e quanto mais se avança a tecnologia, mais se multiplicam os canais. Isso é preocupante”, disse.
Indo além da pesquisa, Gurbanov aponta uma concentração do número de livrarias no Sudeste, em especial em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “As livrarias estão nos locais onde há maior concentração de renda. A Região Norte, que ocupa 51% do território nacional, possui apenas 4% das livrarias brasileiras”, disse. “Esse é o mapa da desigualdade e ao mesmo tempo que ele evidencia isso, ele mostra que há oportunidades”, completou esperançoso.
Outro dado apresentado pela pesquisa é o percentual de municípios brasileiros onde têm instaladas bibliotecas públicas. Esse índice alcançou 97,1% em 2014, mas caiu para 87,7% na última pesquisa, referente a 2018, ou seja, 524 municípios perderam suas bibliotecas entre 2014 e 2018.