Argentina: varejo cai, mas governo salva indústria do livro em 2017
PublishNews, Leonardo Neto, 02/05/2018
No ano passado, o governo de Macri comprou 3,8 milhões de exemplares. É um número 533% maior do que o que se comprou em 2016, mas muito menor ainda do que se comprava antes disso

Fernando Zambra se encontra novamente com o PublishNews na Feira do Livro de Buenos Aires | Leonardo Neto
Fernando Zambra se encontra novamente com o PublishNews na Feira do Livro de Buenos Aires | Leonardo Neto

Há exatamente um ano, o PublishNews publicava um artigo em que apresentava a evolução do mercado de livros na Argentina. A matéria, intitulada Sem compras governamentais, mercado argentino desaba em 2016, apresentava dados da consultoria Promage, encabeçada por Fernando Zambra (na foto acima), que apontava queda de 15% no número de exemplares vendidos no mercado privado. O artigo chamava a atenção ainda para a suspensão das compras governamentais. Se em 2015, foram comprados 8,6 milhões de exemplares, em 2016, esse número caiu para 600 mil.

Na Feira do Livro de Buenos Aires cuja programação segue até o próximo dia 14, o PublishNews se reuniu novamente com Zambra para acompanhar a evolução do mercado dos nossos hermanos em 2017. Como um todo, o mercado cresceu 6% em volume de exemplares vendidos. Mas muito disso se deveu à retomada das compras governamentais, que subiram impressionantes 533% na comparação com o ano anterior. Claro, saiu de da ausência quase absoluta para uma compra considerada “normal” pelo histórico argentino. No entanto, aqui é interessante notar que essa quantidade ainda é baixa na comparação com anos anteriores. Em 2013, por exemplo, o governo comprou 14,2 milhões de exemplares. Em 2014, 9,7 milhões e em 2015, 8,6 milhões. O varejo, no entanto, caiu 3% também na mesma base de comparação.

Zambra relembra que o mercado argentino tem uma peculiaridade importante que dificulta a análise do faturamento nessas comparações anuais. É que a inflação no país corre a passos largos e os dados oficiais nem sempre são confiáveis. Segundo estimativa apresentada por Zambra ao PublishNews, a corrosão da moeda local foi de 25% no ano passado.

Mas, para quem tiver curiosidade, o mercado geral (considerando aqui compras privadas e governamentais) totalizou 10,3 bilhões de pesos argentinos. Olhando para esse número, poderia dizer que houve crescimento importante de 27% na comparação com o ano anterior quando os nossos vizinhos gastaram 8,1 bilhões de pesos. Mas, de novo, há que considerar a inflação e as suas incertezas. Por isso, Zambra prefere falar em número de exemplares vendidos e não em faturamento.

A matéria do ano passado, chamava a atenção ainda para a suspensão de uma série de barreiras que dificultavam a importação de livros no país. Em um mercado de língua única, como é o caso do espanhol, esse dado é realmente relevante, já que o livro produzido na Espanha pode ser facilmente consumido por argentinos, mexicanos ou colombianos.

Críticos do próprio mercado levantaram a voz ao perceber o número crescente nas importações de livros. A grosso modo, esse tipo de transação cresceu, segundo números oficiais, de US$ 78,4 milhões em 2016 para US$ 126,2 milhões para 2017. Em volume, o salto foi de 33,6 milhões de cópias para 55,8 milhões.

Essa enxurrada de livros, diziam os analistas mais críticos, inundaria o mercado argentino, dificultando a vida de muitos editores. Zambra nada contra essa maré. Ele aponta que esse número é “contaminado” por outros itens que não são exatamente livros.

Segundo sua análise, desse universo de US$ 126,2 milhões, apenas US$ 29 milhões são de fato importações comerciais de livros por editoras que não operam na Argentina. A cifra restante se refere a o que Zambra chamou de (1) importações industriais de livros argentinos (U$ US$ 11,3 milhões), que são aqueles livros produzidos por editoras do país, mas impressos no exterior, por exemplo; (2) importações alheias ao mercado editorial (US$ 26,5 milhões), mas que por alguma razão foi computado nessa conta e (3) importações industriais de livros estrangeiros (US$ 59,4 milhões), importados por casas multinacionais com sede no país. Aqui, Zambra faz uma nova consideração. Segundo a sua apuração, desse montante de importações industriais de livros estrangeiros, a grande maioria (US$ 41,6 milhões) era colecionáveis, vendidos nos famosos Kioskos, um ícone onipresente na cena urbana do país, ou encartados nos principais jornais. Portanto, não competem com os livros (não pelo menos quando o assunto é espaço em livraria).

[02/05/2018 08:10:00]