Festival de BH lembra os 50 anos do Suplemento Literário de MG
PublishNews, Leonardo Neto, 18/09/2017
Nascido em plena ditadura, o Suplemento é um dos mais longevos cadernos de literatura do país

Em 1966, em plena ditadura militar, nascia, em Belo Horizonte, o que hoje é um dos mais longevos cadernos de literatura do País. Com 50 anos de história, o Suplemento Literário de Minas Gerais – nascido Suplemento Literário do Minas Gerais, em referência a’O Minas Gerais, o diário oficial mineiro – foi um dos destaques do Festival Literário de Belo Horizonte e da Primavera Literária de BH, que encerraram a sua programação no último domingo (17). “O Suplemento nasceu como um suprimento para quem tinha fome de literatura”, apontou a escritora Branca Maria de Paula, que trabalhou na redação do Suplemento, ao lado de Murilo Rubião (1916-1991), o seu fundador.

Ângelo Oswaldo, Eneida Maria de Souza, Branca Maria de Paula e João Barile participaram da mesa 'Um gigante da resistência: 50 anos do Suplemento Literário de Minas Gerais' | © Ricardo Laf
Ângelo Oswaldo, Eneida Maria de Souza, Branca Maria de Paula e João Barile participaram da mesa 'Um gigante da resistência: 50 anos do Suplemento Literário de Minas Gerais' | © Ricardo Laf

O jornalista Ângelo Oswaldo, hoje secretário de Estado da Cultura de Minas Gerais e que também participou da mesa, lembrou que, em 1966, o Brasil já tinha uma certa tradição de suplementos literário, “mas Murilo [Rubião] quis um suplemento que tivesse um compromisso com a qualidade e com o novo”. Ele lembrou ainda que junto com o surgimento do suplemento, acontecia o boom latino-americano que apresentou nomes como Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e Julio Cortazar ao mundo. Ângelo ressaltou que o Suplemento era aberto a essas novidades que apareciam no mundo e não ficava restrito ao universo das letras mineiras. “Não é um suplemento provinciano. Ao contrário, ganhou projeção nacional e internacional. Se fosse provinciano, não teria durando meio século”, pontuou.

Capa da edição especial em comemoração ao centenário de Murilo Rubião, fundador do Suplemento Literário de Minas Gerais | © Reprodução
Capa da edição especial em comemoração ao centenário de Murilo Rubião, fundador do Suplemento Literário de Minas Gerais | © Reprodução

A ditadura

Mesmo em plena ditadura, Murilo Rubião obteve carta branca por parte do governo mineiro para construir o Suplemento, que era encartado no Diário Oficial do Estado. Mas, em dois episódios, o Suplemento sentiu a mão pesada do governo militar. Primeiro, quando Rui Mourão teve que ser afastado do cargo de editor do Suplemento. “Ele tinha sido professor da UnB e lá assinou um manifesto em favor dos professores e isso o deixou estigmatizado”, lembrou Ângelo.

O secretário lembrou ainda que nos anos 1970, quando Aureliano Chaves governava Minas Gerais, a redação do Suplemento foi empastelada. Segundo Ângelo, isso foi causado por um ciclo de denúncias por parte de escritores que não eram contemplados no Suplemento. Depois disso, o Suplemento ser suspenso por algum tempo.

O Suplemento tem edição bimensal, com 13.500 exemplares físicos que são distribuídos gratuitamente em centros culturais de Minas Gerais. As edições digitais podem ser acessadas pelo site da Biblioteca Pública de Minas Gerais.

Vozes de todos os cantos

O Festival Literário Internacional de Belo Horizonte abraçou pela segunda vez a Primavera Literária, feira de livros organizada pela Liga Brasileira de Editores (Libre). Os curadores – Adriane Garcia e Francisco de Morais Mendes – propuseram como tema “Vozes de todos os cantos” e fizeram em BH uma programação polifônica, reunindo 152 convidados, entre autores nacionais e internacionais. Além das mesas da programação principal, que aconteceram no auditório do Centro de Referência da Juventude, na Praça da Estação, no Centro da capital mineira, o Fli-BH montou um simpático palco na rua de onde a plateia, sentada em espreguiçadeiras coloridas, podia assistir a sessões de contação de histórias, shows musicais e saraus, ampliando a multiplicidade de vozes.

Uma costura da diretoria da Libre, intermediada pela Câmara Mineira do Livro, possibilitou que alunos e professores da Rede Estadual de Ensino tivessem vouchers nos valores de R$ 20, para alunos, e R$ 50, para professores, que puderam ser trocados em livros durante os dias da feira que contou com 49 editoras associadas à Libre. Ao todo, mais de R$ 110 mil foram injetados na feira por meio dos vales.

[18/09/2017 11:04:00]