
Na edição da última terça-feira, veio a resposta. O secretário municipal de Cultura, André Sturm, escreveu um artigo defendendo que as bibliotecas são uma prioridade para o município; chamou o colunista de desinformado; argumentou que o projeto Biblioteca Viva está de acordo com o Plano Municipal do Livro, Leitura e Biblioteca e, por fim, acusou o último diretor da Mário de Andrade, Luiz Armando Bagolin, de ter gerido de forma elitista a biblioteca, com compras de coleções de fotografias no total de R$ 700 mil nos últimos três anos e nenhum exemplar de livros no último ano de sua gestão à frente da biblioteca.
Hoje, veio a resposta de Bagolin, atualmente curador do Prêmio Jabuti. Na resposta, que pode ser acessada na íntegra logo abaixo, o ex-diretor da Mário de Andrade refuta que a sua administração tenha sido elitista. Explica que a compra de coleções de fotografias – assim como de obras raras, gravuras, desenhos, livros de artistas e etc – faz parte da natureza da Mário de Andrade. Explica ainda que em três anos – entre 2013 e 2015 – a sua gestão comprou oito mil desses itens. Explica ainda que, em 2016, nenhum item – nem fotografias, nem livros – foi comprado pela biblioteca dada a grave situação financeira da prefeitura, mas que, nos anos anteriores, foram comprados, por meio de processos de licitação, cerca de R$ 50 mil por ano em livros para recompor o acervo da biblioteca.
Rebate ainda os números apresentados pelo secretário no que diz respeito à abertura da biblioteca no período da madrugada: “obviamente, quando se retira a programação cultural que havia antes e era intensa, se limita o acesso a tomadas para recarregar laptops e celulares, se persegue o samba e outras manifestações da cultura popular que foram trocadas apenas por programação ‘erudita’ e elitista, o número de pessoas vai cair e a biblioteca ficará ociosa rapidamente, mesmo às 22 horas ou 20 horas”.
Leia abaixo a íntegra da resposta de Luiz Armando Bagolin:
“Em resposta aos comentários de André Sturm, gostaria de esclarecer que, em primeiro lugar, nunca vi a biblioteca como "um castelo" mas como um lugar público que durante a minha gestão esteve aberto a todas as pessoas independentemente de posição social ou ideológica, e que a prova disso é o franqueamento do espaço a todas as linguagens e meios de expressão. Durante a minha gestão moradores de rua e refugiados eram bem-vindos diferentemente do assédio que sofrem agora!
Em segundo lugar, os números de minha gestão são bem diferentes dos atuais porque a média era de 60 usuários por madrugada na BMA, sendo aos sábados cerca de 100. Obviamente, quando se retira a programação cultural que havia antes e era intensa, se limita o acesso a tomadas para recarregar laptops e celulares, se persegue o samba e outras manifestações da cultura popular que foram trocadas apenas por programação "erudita" e elitista, o número de pessoas vai cair e a biblioteca ficará ociosa rapidamente, mesmo às 22 horas ou 20 horas. Na minha opinião houve um retrocesso à década anterior.
Por fim, o secretário demonstra ignorância ou má fé ao dizer que no lugar de livros, em 2016, comprei coleções de fotografias. A biblioteca Mário de Andrade detém um acervo de livros, mas também de obras raras, gravuras, fotografias, desenhos, livros de artistas, etc. Houve um investimento durante a minha gestão também nestes acervos que eram estimados em 55 mil obras. Após 3 anos, de 2013 a 2015, deixei 63 mil. Houve, portanto, um aumento de 8 mil itens, gravuras, livros e fotografias, o que pelo valor declarado pelo secretário implica em dizer que gastamos cerca de R$ 87,50 por item.
Compramos livros comuns através de processos de licitação em 2013, 2014 e 2015, investindo cerca de R$ 50 mil por ano. Nada, no entanto, nem livro e nem obra rara ou especial (nenhuma fotografia, portanto) foi comprado em 2016, porque devido à grave situação financeira da prefeitura e da secretaria o orçamento da BMA ficou o ano inteiro congelado.
Cabe ao poder público dar condições para atrair as pessoas, e sedimentar uma boa nova ideia como a BMA 24 horas (que infelizmente o Sturm não teve). O programa que ele chama agora "Biblioteca Viva" é pífio, não tem absolutamente nada a ver com o projeto de Medellin, que ele nunca conheceu e não conhece e contraditoriamente pensa em fazer nas 53 bibliotecas municipais o que fizemos na BMA nos últimos quatro anos”.