A Bienal do Livro, que começa na próxima sexta-feira em São Paulo, decidiu homenagear o editor Sergio Machado, falecido em julho, dando o seu nome ao espaço de autógrafos do evento. Nada mais justo, já que Sergio é responsável pelo primeiro reposicionamento que a Bienal do Livro teve no final dos anos 1990.
Ao participar, como presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), do Salão do Livro de Paris, quando o Brasil foi país homenageado em 1998, Sergio se deu conta de um novo formato de evento, no qual o autor é o protagonista e em torno do qual uma programação de debates e palestras é estruturada para atrair os leitores e ganhar visibilidade com o apoio de uma maciça divulgação de imprensa.

Nasceu ali a ideia de a Bienal do Livro do Rio em 1999 ter um país homenageado e um Café Literário, com participação de uma série de autores nacionais e estrangeiros. A Bienal deixava de ser uma mera feira de livros e passava a ser um evento cultural, com curadoria independente, mas integrada com a programação de lançamentos das editoras.
Este formato se mostrou um sucesso total de público e crítica, que acabou dando para a Bienal a dimensão gigantesca que conhecemos hoje e que foi replicada nas diversas Bienais que surgiram Brasil afora. Nesse momento, já começavam a aparecer as mega-livrarias, com maior variedade de ofertas, mas ir ao distante Riocentro, antes do BRT, era um programa legal. Era a oportunidade única de participar de debates com autores convidados especialíssimos, como José Saramago.
Dez anos depois, quando poderíamos pensar que o e-commerce supriria a demanda da compra de livros, temos um novo fenômeno na Bienal. A invasão dos leitores jovens traz para o evento novos tempos, a necessidade de se criar uma programação com autores mais voltados para este público, para quem não bastam autógrafos. Selfies são fundamentais e necessárias. Os autores passam a ter tratamento de popstars. Coisas comuns em shows de rock como gritos, correrias, filas gigantescas por ingresso passam a fazer parte do cenário da Bienal. Meg Cabot inaugura esta nova fase da Bienal em 2009. E, desde então, tem sido assim.
Para nós, editores, foi necessário adequar os espaços dos nossos estandes para atender este público jovem maravilhoso, tão apaixonado, exigente e alegre.
Essa nova geração de leitores é um contraponto a quem previa o fim dos livros impressos com o surgimento dos e-books. Muitos marcam encontro na Bienal vindos de outras cidades para conhecerem seus autores prediletos. Outros encontram lá seus melhores amigos que só conheciam pelas redes sociais. A Bienal virou uma festa. No ano passado, por exemplo, foram vendidos 3,7 milhões de livros nos 11 dias do encontro. Com o atual fenômeno dos youtubers, o mercado espera sucesso semelhante na Bienal de São Paulo.
Por isso, tenho certeza de que meu irmão Sergio Machado está feliz com esta homenagem. O que a Bienal do Livro se tornou hoje tem origem na visão deste editor carioca.
