‘Despidos’ em Buenos Aires
PublishNews, Leonardo Neto, 25/04/2016
Demissões na Biblioteca Nacional e indefinições nas compras governamentais dão o tom da abertura da Feira do Livro de Buenos Aires

Traduzido do espanhol para o português, a palavra “despidos” significa “demissões”. Hoje, na Argentina, essa palavra está na ordem do dia, depois da implantação de um plano de demissões de funcionários públicos proposto e que vem sendo executado pelo novo presidente da República Mauricio Macri. A medida atingiu a Biblioteca Nacional da Argentina, onde, segundo o jornal La Nación, ceifou cerca de 240 dos mais de mil postos de trabalhos. A iniciativa governamental foi motivo para um protesto na abertura da 42ª Feira do Livro de Buenos Aires que começou oficialmente na última quinta-feira (21). Quando discursava o escritor Alberto Manguel, que deve assumir a direção da Biblioteca Nacional em julho próximo, um grupo de cerca de 45 pessoas da plateia se levantou com cartazes onde se liam frases como “A Biblioteca Nacional não é um negócio” ou “Não à biblioteca offshore”. Maguel só assumirá o cargo em julho por ter compromissos assumidos anteriormente nos EUA, onde vive.

Autoridades na abertura da Feira do Livro de Buenos Aires | © Oscar A. Verdecchia / FEL Buenos Aires
Autoridades na abertura da Feira do Livro de Buenos Aires | © Oscar A. Verdecchia / FEL Buenos Aires

Uma outra questão política levantada na abertura foi a suspensão das compras públicas de livros. Abril chega ao fim e até hoje os alunos da rede pública não receberam os seus livros didáticos.

Em seu discurso, Martín Gremmelspacher, presidente da Fundação El Libro, que organiza a feira, sustentou que “quando políticas públicas são boas, os governos têm a obrigação de continuar com elas”. “Estamos convencidos que a educação sempre é o melhor com livros, além de ser uma contribuição para o fortalecimento e consolidação do catálogo de muitas editoras”, concluiu.

De acordo com dados da Promage, consultoria que monitora o mercado editorial argentino, no ano passado, as compras governamentais (incluindo aqui didáticos e livros de leitura para bibliotecas) alcançaram 1,2 bilhão de pesos argentinos (cerca de US$ 130 milhões, considerando a cotação oficial de 9,05 pesos para cada US$ 1).

Em conversa com o PublishNews, que esteve em Buenos Aires na semana passada, Trini Vergara, presidente da Câmara Argentina de Publicações (CAP), que representar cerca de 70% do mercado editorial argentino, incluindo as grandes editoras de didáticos, mostrou-se otimista. "Estamos travados por questões formais. É uma transição um pouco dificultada. Foram 12 anos de um governo, que foi substituído por um outro muito diferente. Mais do que a mudança de governo, foi uma mudança de sistema", comentou. "Entendemos que há necessidade de ajuste, de reduzir os gastos do governo. Isso é pouco popular e isso afeta a indústria. Estamos em um limbo, mas há bons sinais de que vai melhorar", completou.

Trini adiantou ao PublishNews que está marcada para o próximo dia 5 uma reunião entre editores e o ministério da Educação argentino para tratar do assunto.

[25/04/2016 09:14:02]