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Passeando em São Paulo por bibliotecas, livros e literaturas
PublishNews, Roney Cytrynowicz, 1º/09/2015
Roney visitou a exposição [Entre Parênteses] [Jovens na Prisão] em cartaz na Biblioteca Mário de Andrade, e de lá propõe um passeio por SP

Imagem da exposição [Entre Parênteses] [Jovens na Prisão], do fotógrafo franco-esloveno Klavdij Sluban, em cartaz na Biblioteca Mário de Andrade | © Klavdij Sluban
Imagem da exposição [Entre Parênteses] [Jovens na Prisão], do fotógrafo franco-esloveno Klavdij Sluban, em cartaz na Biblioteca Mário de Andrade | © Klavdij Sluban
No terraço em semicírculo do terceiro andar da Biblioteca Mário de Andrade é possível ter uma visão inusitada do Centro da cidade de São Paulo, olhando a Praça Dom José Gaspar e o seu entorno. A vista do terraço é uma opção para tomar ar depois de ver a exposição de fotografias [Entre Parênteses] [Jovens na Prisão], do fotógrafo franco-esloveno Klavdij Sluban, em exibição até 3 de outubro.

A exposição integra a intensa programação de exposições e eventos em bibliotecas públicas e centros culturais municipais e estaduais, incluindo exposições sobre escritores e livros em espaços como a Casa das Rosas e o Centro Cultural São Paulo. A Biblioteca Mário de Andrade (da Secretaria Municipal da Cultura) fervilha de pessoas e eventos e a passagem pelo corredor envidraçado na frente do prédio é inspiradora ao vermos leitores se aninhando em cada possibilidade de espaço e canto para se acomodar com seus livros e suas leituras.

As fotografias de Klavdij Sluban são retratos de jovens “infratores” encarcerados na França, Moldávia, Rússia, Geórgia, Lituânia e Sérvia. A subjugação e subtração da identidade pessoal é tão chocante que em uma fotografia um jovem preso olha no espelho e o meio rosto que vemos refletido na foto tem mais expressão que as dezenas de outros rostos retratados em sua desumanização enclausurada. Impressas em P&B e com um interessante recurso, que são as legendas escritas à mão na parede da sala, as fotos denunciam o contraste sombrio entre as vidas encerradas e uniformizadas em seus uniformes, cabelos raspados e rostos opacos e, de outra parte, os sonhos, a potência e a vitalidade que atribuímos à juventude.

Em uma entrevista a Antonio Gonçalves Filho, do jornal O Estado de S.Paulo, Sluban, que veio a São Paulo fazer workshops de fotografia com os jovens na Fundação Casa, disse que “é a consciência do espaço oclusivo e das fraturas do confinamento que levam os detentos a desenvolver a percepção de um horizonte”. Para ele, a “prisão é sempre uma extensão do país onde vivem” os jovens enclausurados. Ou seja, a situação das prisões e das pessoas presas é um preciso retrato de cada país. Só podemos agradecer à Biblioteca Mário de Andrade mostrar um trabalho assim.

Desenvolver a percepção de um horizonte. Desde que a Avenida Paulista abriu-se à vida, em alguns domingos, com seus pedestres, ciclistas, skatistas, pic-nics e pessoas lendo em um canto qualquer ou deitadas no asfalto e tomando sol como em uma praia, o passeio à Casa das Rosas, com seu jardim-oásis, se tornou ainda mais atraente. Vale a pena conhecer a pequena exposição dedicada a Roland Barthes, incluindo fotografias, frases e um vídeo com trechos de entrevistas nas qual ele explora “mitologias” contemporâneas e aborda temas como o plástico e Albert Einstein. Respondendo sobre o que tornava Einstein tão cultuado, Barthes explica, entre outras coisas, que E=mc2 parece conter, em sua fórmula indecifrável de três letras e um número, todos os mistérios do universo...

A Casa das Rosas (Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, da Secretaria da Cultura do Estado) tem uma programação variada que pode ser conferida em www.casadasrosas.org.br. Passear pela Casa (incluindo o terraço do segundo andar com uma vista para a Avenida Paulista que nos remete a um século atrás) e pelos jardins e café do entorno já é um programa. O espaço da Avenida liberada mostra a espontaneidade, o prazer e a criatividade em simplesmente estar no espaço público, inventando usos e sentidos compartilhados.

A menos de 1 km da Casa das Rosas, no Centro Cultural São Paulo, da Secretaria Municipal da Cultura, uma exposição lembra a obra de Décio Pignatari (1927-2012), poeta, designer, tradutor, professor, um dos mais instigantes “agitadores culturais” do País desde os anos 1950 e iniciador do movimento concretista na poesia com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. A exposição apresenta dezenas de publicações e documentos que perfazem um retrato de sua produção e dos debates e caminhos da poesia e da cultura principalmente nos anos 1950 a 1970, com sua linguagem visual tão claramente marcada.

É interessante também ver na exposição a atuação e Pignatari como diretor do Departamento de Informação e Documentação Artísticas, da Secretaria Municipal da Cultura – Idart, com um projeto de pesquisa e documentação ligado às artes contemporâneas. Relacionado à história do Idart, quem for ao Centro Cultural São Paulo pode visitar também a pequena exposição sobre os 70 anos da Discoteca Pública Municipal Oneyda Alvarenga e ouvir gravações originais de “falares” de várias regiões e músicas tradicionais coletadas pela Missão Folclórica, de Mário de Andrade, na década de 1930.

Este circuito, que começa na Mário de Andrade, passa pela Casa das Rosas e chega ao Centro Cultural São Paulo é apenas um pequeno passeio por bibliotecas, centros culturais, livros e literaturas na região central de São Paulo, que fervilha de iniciativas no centro e na periferia, com o apoio e a moldura do Estado e também sem ela. A agitação das ideias, dos livros e dos eventos nas bibliotecas e centros culturais certamente combina mais com um bom passeio a pé.

Roney Cytrynowicz é historiador e escritor, autor de A duna do tesouro (Companhia das Letrinhas), Quando vovó perdeu a memória (Edições SM) e Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial (Edusp). É diretor da Editora Narrativa Um - Projetos e Pesquisas de História e editor de uma coleção de guias de passeios a pé pela cidade de São Paulo, entre eles Dez roteiros históricos a pé em São Paulo e Dez roteiros a pé com crianças pela história de São Paulo.

Sua coluna conta histórias em torno de livros, leituras, bibliotecas, editoras, gráficas e livrarias e narra episódios sobre como autores e leitores se relacionam com o mundo dos livros.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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