Nas últimas férias, passei alguns dias visitando Florianópolis, no Brasil – um lugar famoso por suas praias de surfe, biquinis minúsculos e pessoas tão lindas que “fazem os cariocas parecerem feios”, como nosso correspondente brasileiro e colega no PublishNews, Carlo Carrenho, me contou.
Talvez tenha sido a chuva persistente que afetou meu humor, mas fiquei insatisfeito com a experiência: os surfistas eram poucos e estavam distantes, os biquinis, apesar de serem pequenos, também “servem para todos os tamanhos” – assim corpos super grandes usam biquínis surpreendentemente pequenos – e as pessoas, bem, elas eram lindas de uma forma que levava a consciência do próprio corpo a um nível superior. Talvez eu não tenha passado tempo suficiente em Los Angeles ou Miami, mas o físico de “super-herói” dos homens – ombros com o dobro do tamanho da cintura – parece estranho, da mesma forma que seios falsos e hiper-inflados nas mulheres pode parecer algo alienígena.
Não me entendam mal: as praias em Floripa são maravilhosas e as pessoas são realmente atraentes. E tenho certeza que se não fossem os poucos dias antes do Natal que passei ali, elas estariam pululando com uma variedade maior de vida. Mesmo assim, as praias brasileiras oferecem muitos serviços tentadores. Você aluga uma cadeira e um guarda-sol de um funcionário de um bar, que vai trazer as bebidas – cerveja, caipirinha – e servir a comida de um menu. Vendedores trabalham na praia vendendo de tudo, de sarongues a queijo fresco assado e servido em palitos (que são deliciosos, por falar nisso). E não são pessoas invasivas, ao contrário do que acontece nas praias do México.
Quanto a ler na praia, isso é algo que não vi muito no Brasil. Os poucos livros que vi à mostra estavam nas mãos de um par de turistas franceses – um estava lendo um romance fino de Patrick Modiano, o outro estava lendo um romance do escritor de Porto Alegre, Daniel Galera (cujo romance Barba Empapada de Sangue acabou de ser lançado em tradução ao inglês pela Penguin Press).
Quase todo o resto na praia tinha um celular nas mãos, quando não estavam pegando os intermitentes raios de sol (que esteve forte o suficiente para me deixar com uma queimadura séria nos pés e no rosto, onde esqueci de passar o protetor solar) – e quem sabe, talvez estivessem lendo e-books? Mas eu duvido: Os brasileiros são loucos pelas redes sociais e não é incomum sentar-se durante toda uma refeição e seu companheiro de mesa brasileiro só tirar os olhos do celular dele para comer alguma coisa ou dar uns goles de cerveja. Eles poderiam, no entanto, incluir você em uma de suas numerosas “selfies”. (Certo, eu sei, depende da sua companhia!)
Eu, eu era o nerd lendo The Atlantic e The Economist, optando por não me comprometer com a edição de Cem anos de solidão que tinha colocado na minha mala. Estava querendo um pouco de “FC” — racionalizando absurdamente que Márquez seria uma boa distensão literária do gênero — mas em vez disso terminei lendo The forever war, de Joe Halderman (ótimo…estou feliz por ter finalmente lido!) e, mais tarde, a recente coletânea de ensaios de Meghan Daum The unspeakable (excelente e muito recomendável). Li os dois em meu Samsung Galaxy Note 3 – quando não estava nas redes sociais ou tirando minhas próprias selfies e antes de ficar tão queimado que poderia ser confundido com alguém em perpétuo estado de vergonha (que eu estava mesmo).
Visitei uma praia em Floripa que tinha – surpresa – uma pessoa vendendo livros usados. Havia uma seleção de talvez duas dúzias de livros estraçalhados em oferta perto do protetor solar e dos refrigerantes. E apesar de que a mega rede de livrarias Saraiva lançou seu próprio e-reader proprietário este ano, o LEV, não vi nenhum, nem um Kobo, Kindle ou qualquer outro aparelho de leitura.
Ao voltar ao Rio no dia de Natal e andar pelo centro comercial do Leblon tive uma perspectiva totalmente diferente sobre o cenário editorial brasileiro: como Paris, parecia haver uma pequena livraria independente vendendo livros em cada esquina – a mais famosa é a bastante respeitada Livraria da Travessa. Parando para visitar a Livraria Argumento, percebi como o mercado de livrarias é sofisticado e internacional: entre as seleções de títulos locais havia pilhas de livros importados, em inglês, francês, espanhol, alemão... e até japonês. E entre estes títulos vi à venda Parisian cats, com a co-autoria de nossa correspondente em Paris, Olivia Snaije. (Bravo, Olivia!).
Claro, as praias também são uma das atrações do Rio. Então, no dia seguinte, com o céu limpo e a temperatura passando dos 30 graus, fui para Ipanema — naturalmente, depois de tentar (e desistir) de comprar uma sunga brasileira para mim. Achei o cenário muito mais frenético do que Floripa. O Rio é famoso, entre outras coisas, por suas comemorações de Ano Novo, que atraem mais de um milhão de pessoas para as praias da cidade, vestidas de branco, onde fazem festa até de madrugada, podendo esticar até mais tarde. E a cidade parecia estar levantando cedo: a praia estava lotada de corpos, muitos milhares, tomando sol e – provavelmente – recuperando a sensatez depois dos feriados passados com a família. Estava tão cheia, e tão festiva, que nosso bar ficou sem limões para as caipiranhas e tentou preparar uma substituta de tangerinas (fique com os limões... vai por mim).
Mesmo assim, não vi nenhum livro.
E a questão é: quando você tem tanta beleza natural para ver, quando se trata de ler livros e seu cérebro está meio derretido pelo calor, por que se incomodar? Dá para guardá-los para a cama e o banheiro. Aí, suspeito, é onde você poderia encontrar um brasileiro lendo durante os feriados.