Global vai investir R$ 5 milhões na Nova Aguilar
PublishNews, Leonardo Neto, 13/06/2014
Para 2015 saem nove volumes, totalizando quase 14 mil páginas

Luiz Alves Jr é uma rara unanimidade no mercado editorial brasileiro. À frente da Global há mais de 40 anos [veja vídeo comemorativo dos 40 anos produzido pela PublishNewsTV], ele se diz um comerciante de livros. “Eu sou fundamentalmente um comerciante e um comerciante trabalha muito com riscos e com desafios”, disse ao PublishNews na tarde da última quinta-feira na sede da editora instalada na antiga casa do arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928). E sêo Luiz, como é conhecido no mercado, acaba de encarar um grande desafio. Como já foi noticiado pelo PublishNews, a Global adquiriu recentemente a Nova Aguilar e os planos de Luiz não são nada modestos, apesar dos riscos.

Luiz prefere não falar quanto investiu na compra da Nova Aguilar, mas promete colocar mais R$ 5 milhões no negócio nos próximos 24 meses. “No livro não tem essa coisa de curto prazo. Ser editor precisa de tempo”, declara. Para 2015 devem sair nove volumes: quatro com a obra completa de Machado de Assis, como já foi dito pelo PublishNews; três com o teatro completo de Shakespeare e dois (poesia e prosa) de Fernando Pessoa. Cada volume deve ter entre 1500 e 1600 páginas. “A base da Aguilar quando nasceu, era explicitamente colocada como uma homenagem à La Pléyade, da França. Os clássicos são clássicos porque estão na La Pléyade e os clássicos serão chamados de clássicos por estarem na Nova Aguilar”, comenta Jiro Takahashi, editor contratado pela Global para tocar a Nova Aguilar. “Com nove volumes, estamos praticamente no mesmo ritmo da La Pléyade que publica dez volumes por ano”, comenta sorridente Jiro. “A coisa é monstruosa e por isso precisamos de rigor e de tempo”, comenta Luiz.

O namoro com a Nova Aguilar começou em 2010. “Eu estava vendo a Nova Aguilar desfalecer. Soube que estava para negociar. Liguei para o Sebastião Lacerda [então editor da Nova Aguilar] e disse que queria compor uma negociação”, lembra Luiz. Mas a Nova Aguilar tinha acabado de ser passada à Ediouro, com uma cláusula de opção de compra para daí a três anos. “Passados esses três anos, voltamos a nos falar”, contou Luiz. Com isso, o catálogo com 60 títulos da Nova Aguilar foi para a Global. “Uma editora dessas não poderia morrer. Custe o que custar, não vai morrer! Vamos colocar todos os esforços possíveis para tirá-la do ostracismo”, declarou o proprietário.

Uma ideia, que deve começar sair do papel em 2016, é que autores atualmente no catálogo da Global tenham suas obras completas reunidas na Nova Aguilar. “Não está fechado ainda, mas é uma ideia. Queremos fazer isso com Cora Coralina, Gilberto Freyre...”, defende Luiz. Autores contemporâneos e vivos também poderão compor volumes na Nova Aguilar. “Uma forma de homenagear os 80 anos de Ignácio de Loyola Brandão [autor da casa], por exemplo, seria ter a sua obra completa reunida na Nova Aguilar”, comentou o editor. Para 2016, nos planos estão Manuel Bandeira e Cecília Meireles. “Agora temos um selo com todos os clássicos, por que não completa-lo?”, indaga Luiz.

A casa da literatura brasileira

Hoje no catálogo da Global restam alguns poucos autores estrangeiros, mas a vida deles lá é curta. “Temos meia dúzia de livros de autores estrangeiros, mas que estamos sacando, tirando fora, do catálogo da Global e passando para outra unidade da casa que é a Gaudí”, comenta Luiz. “A Global será a única editora exclusivamente com autores brasileiros”, diz orgulhoso. Hoje a casa tem 1.700 títulos ativos, desses apenas 15% não foram reeditados. “Meu best-sellers são as reedições”, declara taxativo o editor. E o sucesso pode ser medido pelos números de vendas. Em 2013, a Global vendeu quase 4 milhões de exemplares. Muitos desses autores têm contrato de exclusividade com a casa. Esse time forma o que foi apelidado como joias da coroa da Global. João Carlos Marinho, Sidónimo Muralha, Cora Coralina, Ignácio de Loyola Brandão, Câmara Cascudo e Gilberto Freyre são alguns nomes que compõem essa coroa. “Em 2010, começamos uma negociação pesada para trazer Cecília Meireles e Manuel Bandeira, que ficaram fora do mercado por dez anos por briga de herdeiros. Ninguém acreditava que a gente fosse conseguir trazê-los. Foi uma briga muito grande, mas conseguimos”, conta orgulhoso Luiz. Depois vieram Orígenes Lessa e Darcy Ribeiro. “Só de Cecília, Bandeira e Orígenes são 130 títulos que vieram praticamente em uma única tacada. Isso já seria, sozinho, um catálogo de uma editora”, conta.

[13/06/2014 00:00:00]