O livro está morto, viva o livro!
PublishNews, 14/05/2014
O livro está morto, viva o livro!

No mês passado, eu acordei com uma notícia alarmante: o crescimento dos e-books nos EUA ficou estagnado - um pequeno aumento de 4% no rendimento. Em um mercado que esteve crescendo pelo menos 3% ano a ano desde o lançamento do Kindle, parece uma Grande Depressão.

Mas dificilmente podemos dizer que houve alguma inovação no e-book nos últimos dois anos. A Barnes & Noble que esteve liderando as inovações com Nook Study e Nook Kids agora está recuando em sua permanente batalha contra a Amazon. Esta continua a avançar com seus Paperwhites mais brancos, acrescentando algumas quinquilharias, mas a tecnologia central continua estagnada. A Apple colocou o iBooks pré-instalado em seus novos OS X para desktop, mas limitado à mesma funcionalidade de seus apps iOS.

Todas as grandes livrarias de e-book ainda estão com o foco no mercado geral.

Talvez para balançar a Grande Depressão dos e-books, a indústria deveria correr alguns riscos e sair da zona de conforto dos "livros gerais". Agora temos um padrão ePub3 estabelecido que dá às editoras quase todas as ferramentas que precisam para fazer um livro de referência "não-linear" para Direito, Engenharia ou Medicina. Ou talvez um livro de texto que libere testes de autoavaliação a partir de suas encarnações estáticas no corpo e se reprograme em objetos interativos. Um dos meus novos favoritos no mundo da culinária é "Speakeasy Cocktails". Claro que foi feito usando uma plataforma especial de autoria para livros HTML5, mas nada aqui poderia ser feito com o padrão ePub3.

Os desenvolvedores do app e-book certamente não estão ajudando a questão. Mesmo o reader mais importante, iBooks, tem apenas 68% de suporte à especificação do ePub 3 necessária para toda interatividade. Sem mencionar que temos pelo menos duas grandes livrarias de e-books no Brasil com zero suporte ao padrão. Poucas editoras arriscariam um grande investimento em livros interativos se menos da metade das livrarias vão ajudar a recuperar esta aposta.

Mas antes de começarmos a reclamar da falta de apoio a conteúdo inovador no ecossistema do e-book, vamos tratar de um assunto bem mais alarmante: os brasileiros não leem livros. Ou pelo menos é o que parece desta última pesquisa pela Secretaria de Comunicação Social (obrigado, Carlo Carrenho, por me mostrar esta pesquisa). O brasileiro médio gasta pelo menos seis horas por semana na Internet, seis horas na TV, seis horas ouvindo rádio, uma hora lendo revistas e uma hora lendo jornais. Livros nem são listados como uma forma de mídia na pesquisa!

Livros parecem não estar registrados como uma mídia relevante para os brasileiros.

Grande problema para as editoras de livros? Sim. Epidemia social? Não na minha opinião. Nós, como criadores de conteúdo e curadores, temos a responsabilidade de tornar o conteúdo mais relevante para o público. Certamente, se um brasileiro quiser passar mais de 18 horas por semana na tv+internet+rádio, por que não tentamos criar uma experiência de conteúdo que una o melhor de todos os mundos? Livros de história ganham vida com um vídeo que mostre como era aquela época. Livros espirituais narrados por uma pessoa respeitada. Livros "sociais" conectados via internet que permitem perguntas e respostas feitas a um especialista.

Então, se acreditamos na revolução do e-book brasileiro e queremos que ela continue bem além dos 30% de penetração que já chegou nos EUA, precisamos de duas coisas simples:

1. As livrarias de e-book devem atualizar sua tecnologia para permitir mais criatividade.

2. As editoras precisam correr alguns riscos e pensar diferente sobre seu conteúdo

O livro está morto, longa vida ao livro!

[13/05/2014 21:00:00]