O silêncio dos assessores
PublishNews, 11/02/2014
Por que não fazer uma pequena mensagem no site da editora para lembrar que o respeito, a cidadania e a paz não podem ser sufocadas pelo medo e pela violência?

Esta segunda-feira (10/02) foi um dia muito triste. Saber que um jornalista morreu no exercício do trabalho traz muita indignação. O cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, foi atingido na cabeça por um artefato explosivo quando registrava para a TV Bandeirantes as imagens de um protesto. E tem mais, muito mais acontecendo todos os dias. Recentemente, acho que muitos levaram um susto, se solidarizaram e mesmo de longe sentiram o tamanho da dor do editor Bernardo Gurbanov, que viu seu filho perder a vida de forma violenta em um acidente no Morumbi provocado pela irresponsabilidade de um motorista. Bom, muitos vão pensar, o que o tema tem a ver com uma coluna sobre livros e mídia? Com o tema da coluna não tem não, mas tem a ver, de certa forma, com o trabalho dos assessores de imprensa. Fiquei pensando muito nisso durante todo o dia. O texto programado seria sobre um assunto bem diverso e afinado com o tom da coluna. O problema é que eu não consegui levar a ideia adiante. Outros temas ecoavam com mais força.

Se você está em um veículo de comunicação, sempre tem a chance de cavar um espaço para expressar o que sente em momentos que mexem com seus sentimentos. Na sua editoria ou em outra. Quantas e quantas vezes isso não acontece. O assessor não tem. Ele, que é tão jornalista quanto qualquer outro de redação, não tem esse espaço no trabalho diário. Por mais indignado que esteja com a morte de um colega, com as cenas de violência, com os depoimentos das pessoas nas tevês e as informações que acompanha pelos jornais, rádios, sites, tevês ou blogs, ele apenas assiste, sente e compartilha da angústia que tem tomado conta de tantos de nós.

Em um segundo momento, também pensei que mesmo os assessores podem tentar fazer sua parte em situações como essa e ajudar a traduzir o desalento geral. Claro que a maior parte dos jornalistas tem Facebook e essa ferramenta tem ajudado muito a romper as barreiras e dar voz às nossas inquietações. Quem tem um blog pode dar vazão às palavras que teimam em imprimir sua passagem. Mas e no dia a dia em uma assessoria interna ou externa de uma editora? Por que não fazer uma pequena mensagem no site da editora para lembrar que o respeito, a cidadania e a paz não podem ser sufocadas pelo medo e pela violência? Quem sabe, pedir para que o editor faça uma carta para seus clientes e leitores lamentando fatos como esses que eu citei acima, colaborando para que outras pessoas tenham mais consciência? Ou, ainda, pedir para um autor mais sensível e ligado a temas humanitários que escreva um artigo ou crônica para tentar publicar em um veículo, no site ou blog da editora. Quem sabe, organizar um debate com autores sobre questões atuais.

São formas de ampliar a reflexão, vasculhar as incompreensões e tentar trazer um pouco mais de luz para que o esquecimento não seja tão breve. Estamos vivendo tempos tão difíceis e de uma perplexidade tão sufocante que cada um de nós deve fazer sua parte, nem que seja uma pequena parte. É preciso contribuir para sair da cômoda postura entre o desalento e o conformismo. Só não podemos silenciar, porque a vida é breve.

Contato: ivyma@uol.com.br

[10/02/2014 22:00:00]