O que os escritores querem?
PublishNews, 29/10/2013
O que os escritores querem?

Falamos muito de divulgação neste espaço, mas dessa vez resolvi fazer uma coluna diferente. Nós, assessores, reclamamos muito da falta de espaço para livros na imprensa, mas como será que os escritores encaram a questão? Perguntei para vários autores sobre o que eles acham importante na divulgação dos seus livros e acredito que as respostas possam ajudar o nosso trabalho. Nas entrevistas, temos a visão de quem é o maior interessado em ver seu livro na imprensa e que, muitas vezes, fica à parte do processo de divulgação.

Falta de espaço

Miriam Leitão, por exemplo, acha muito reduzido o espaço dedicado a livros no Brasil e ainda lamenta que está diminuindo cada vez mais, e em todas as mídias. “O espaço encolheu ao mesmo tempo em que os eventos literários se multiplicaram pelo país e o mercado editorial vive um momento intenso, com novos autores, novas editoras, mais competição. É contraditório do ponto de vista econômico”, argumenta.

Para Miriam, a boa divulgação exige uma estratégia por parte da assessoria, que deve saber a quem procurar e como procurar nos vários veículos: “Tem que ampliar os alvos da divulgação para blogs dedicados aos temas, facebook, twitter. O rádio, na minha experiência, sempre foi muito eficiente”

A jornalista dá também uma dica para dias de lançamento: “No lançamento do A Perigosa Vida dos Passarinhos Pequenos, eu cheguei sempre uma hora antes nos três lançamentos que fiz – Rio, São Paulo e Brasília – para os que quisessem evitar a fila”.

Só para família?

Para o escritor Antônio Torres, a boa divulgação é a que atinge os mais variados meios de comunicação, despertando o interesse do maior número possível de consumidores pelo produto divulgado.

Torres analisa, com certo desalento, a ausência de resenhas na imprensa: “As boas resenhas sempre ajudam, mas hoje, porém, elas aparecem com menos força do que já tiveram, quando havia críticos literários com espaço fixo e influíam muito para o sucesso de um livro. Fui beneficiado por isso, desde a minha estreia com Um cão uivando para a Lua, em 1972. Parece-me que essa figura intermediária entre o autor e o leitor está desaparecendo”.

Sobre lançamentos, ele defende que funcionam na cidade em que o autor é muito conhecido e tem muitos relacionamentos. “E mais ainda se tiver um bom trânsito na imprensa. Se for para a família e meia dúzia de amigos, e sem qualquer possibilidade de ser noticiado, não vale a pena”, opina.

Lançamento com conversa

O escritor Luís Augusto Fischer retoma praticamente a mesma constatação dos outros entrevistados e vai além: “Os jornais, ao menos os maiores, ainda mantêm alguma dignidade na divulgação e na crítica a livros novos. É pouco, menos do que já foi, mas é decente, ainda. Aqui em Porto Alegre, apenas o diário Zero Hora tem essa dignidade, os demais diários são bastante precários no tema. Nas revistas, me parece que ocorre algo parecido: as maiores dão alguma cobertura, pelo menos para os livros mais chamativos, embora não haja nada confiável em sentido amplo. O que mais lamento é que nas televisões e nas rádios simplesmente não há lugar para comentar livros. Isso é de uma indigência mental irritante, comparando com o que ocorre em outras partes, mesmo aqui na Argentina, que não é uma maravilha, mas é melhor que no Brasil. Por que isso ocorre, para mim é um mistério. Atribuo, em parte, à pura e simples falta de iniciativa e de dedicação, especialmente nos canais públicos”.

Fischer diz que a melhor divulgação para livros é aquela que torna a obra visível para o maior número possível de leitores potenciais, conforme o caso, conforme o alvo. “Isso pode acontecer mediante uma combinação de elementos, desde oferta de cópias do livro para resenhistas, passando por entrevistas com o autor, até formas de propaganda adequadas ao público (emails, folders ou convites para autógrafos). Acho, ainda, que resenhas ajudam em todos os veículos que se possa atingir, não apenas nos jornais e revistas dominantes”. Mesmo confessando que não gosta de lançamentos, ele admite que é uma forma de ganhar espaço na divulgação da mídia. “Eu prefiro modalidades que associam lançamento com conversa sobre o livro, eventualmente alguma mesa sobre a obra, etc”.

Boca a boca

Jaime Prado Gouvêa acompanha o assunto bem de perto e sua opinião não é diferente: “Os espaços são poucos e estão ficando restritos a notas ligeiras, quando não a reprodução de orelhas de livro. Com raras exceções, imperam as grandes editoras e seus interesses. Além do mais, a todo instante temos notícia de falecimentos de suplementos literários da chamada grande imprensa. Tenho reparado que o boca a boca, creio eu, é que tem funcionado melhor na divulgação. Mas o que se vê é que as editoras investem preferencialmente nos autores com potencial grande de venda, independente da qualidade da obra, mas de lucro certo. Os outros, como me disse certa vez um importante editor carioca, só não podem dar prejuízo à editora. E um bom lançamento pode pagar o que ela, a editora, gastou, e seu esforço fica por aí”.

Sobre a redução do número de resenhas, Jaime tem uma explicação cristalina: “Uma boa resenha, claro, ajuda muito. Mas o que se vê hoje são colunistas superficiais ou matérias acadêmicas impenetráveis para quem não é professor de Letras, e que, em vez de atrair, acabam afugentando o leitor”.

O escritor encara o tema lançamento com ironia: “Serve para alardear o nascimento de um livro, como a galinha faz com seu ovo, gerando notícia na mídia. Essa festa dura uma semana, um mês se tanto, antes do livro ir dormir na prateleira da livraria. Sem lançamento, a obra corre o risco de ir direto para o esquecimento”.

Mirian Goldenberg colunista e escritora, conta que “a divulgação deve causar impacto, provocar a leitura do livro, levantar questões importantes, fazer com que os livreiros tenham o livro bem exposto na livraria. Divulgar bem é fazer com que o livro se torne importante para os leitores, que eles sintam vontade de ler e de presentear alguém. É dar visibilidade ao livro e mostrar a sua importância para os leitores de diferentes idades e classes sociais. Acho até que as resenhas ajudam, mas não tanto quanto uma matéria com o autor em um caderno importante (como a Ilustrada, o Segundo Caderno etc). As resenhas são lidas por um público mais restrito”.

Ela fez lançamentos para seus 20 livros e o mais recente, A Bela velhice, ganhou lançamentos no Rio, em São Paulo, na Bienal do Rio e Passo Fundo. “Fiz um debate com o público (que adorou a discussão!), sorteio de camisetas (Velho é lindo) e depois os autógrafos. O público comprou mais de um livro (o preço do livro é R$ 19,90, o que ajuda bastante) para dar de presente para os amigos. Acho que o lançamento é importante se for criativo, diferente, divertido”.

Fora da zona de conforto

Criatividade também vale muito na opinião da jornalista e escritora Luciana Savaget, e sugere que os escritores saiam da zona de conforto e se envolvam: “A boa divulgação ainda é feita pelos próprios autores que arregaçam as mangas e, com suor nas têmporas, percorrem escolas e universidades falando da sua obra. Se o escritor conseguiu romper as barreiras do anonimato, certamente ganhará um espaço na mídia. Eu posso dizer que tive boas divulgações em alguns dos meus livros. Em relação ao "divulgador", é essencial ele ter lido os livros para que possa sugerir e gerar pautas para a imprensa. Eu diria que uma boa divulgação deve ter imaginação.”

Redes sociais

Jornalista e escritora, Eliane Brum aposta nas redes sociais para a divulgação e a troca de informações - no geral e também sobre livros. “Parto do meu próprio exemplo. Assino dois jornais durante a semana e um terceiro no fim de semana e assino uma revista brasileira e outra estrangeira, estas semanais, mas tudo isso corresponde a mais ou menos 50% da minha informação. Os outros 50% vêm das redes sociais, que usam links de artigos de sites e blogs. Sabendo quem seguir, tenho acesso a textos, especialmente ensaísticos, de enorme qualidade e densidade, escritos por pessoas de todas as áreas. Isso vale também para os livros, já que é restrito o número de autores que têm espaço na grande imprensa. Já nos blogs e sites, a variedade e a novidade é maior. É onde descubro tanto autores novos quanto autores que já publicaram muito, mas ainda não tiveram visibilidade nos espaços tradicionais, em geral porque não são comerciais ou escrevem sobre temas considerados áridos. Outra fonte importante são os jornais literários, como o Rascunho, feito em Curitiba, mas que abrange o Brasil inteiro”.

Ela complementa, dizendo que como autora foi fundamental divulgar seus livros pelas redes sociais, mas recomenda construir uma reputação. “É um contato direto, pessoal e que exige presença. Não é um espaço para uso comercial. O espírito das redes, pelo menos eu acredito nisso, é de reciprocidade, generosidade e compartilhamento. Você divulga o seu trabalho, mas também o de todos os outros que admira e respeita. Tem um contato direto e cotidiano com os leitores, mas no sentido da troca, na perspectiva de que o outro tem um conhecimento a compartilhar, tem algo a dizer tanto sobre o meu trabalho, como autora, como sobre si mesmo e sobre outros. Seguidamente recebo dicas sobre pessoas que fazem um trabalho na linha do meu ou que pensam que posso gostar de ler ou mesmo sugestões, assim como textos interessantes produzidos por leitores que também escrevem. ‘Compartilhar’ é uma palavra profunda, praticada nas redes. Com isso quero dizer que, nas redes sociais, o contato entre autores e leitores é direto e não envolve uma hierarquia ou uma via de mão única. Conversamos, ali. É um espaço de solidariedade, de troca e de busca mútua”.

E eu também espero, compartilhando a opinião desses escritores que generosamente responderam as minhas questões, ter colaborado com a missão dos assessores.

Para falar comigo: ivyma@uol.com.br

[28/10/2013 22:00:00]