Pós Frankfurt: agentes literárias brasileiras falam sobre desafios
PublishNews, Maria Cecília Brandi, 14/10/2013
Elas ressaltam a importância da bolsa de tradução para a difusão da literatura nacional no exterior

Em debate hoje na última sexta-feira, na Feira do livro de Frankfurt, as agentes Lucia Riff, Nicole Witt, Luciana Villas-Boas, Marianna Soares e Valéria Martins falaram sobre seus desafios na difusão da literatura brasileira pós-Frankfurt. Todas ressaltaram a importância do programa de apoio à tradução da Biblioteca Nacional. “A bolsa foi o grande ganho com essa homenagem, que viabilizou a publicação de nossos autores no exterior”, resumiu Lucia Riff, agente pioneira no Brasil, que tem no catálogo autores como Adélia Prado, Luis Fernando Verissimo e Lygia Fagundes Telles.

“Aqui na Alemanha as editoras são bastante influenciadas pelo país convidado da feira, pelo o que está na mídia. Com a escolha do Brasil e com a bolsa de tradução foi possível o país apresentar sua literatura ao mercado internacional”, disse Nicole Witt, que é alemã e representa muitos autores de língua portuguesa.

Para Luciana Villas-Boas, que foi editora do grupo Record por dezessete anos e há dois anos abriu sua agência, o diferencial dessa feira é ser uma peça em um conjunto de ações. “O meio editorial contribuiu e o governo fez seu papel garantindo a bolsa de tradução e também apoio com viagens para autores promoverem seus livros. Há perspectiva de continuidade e esperamos que se cumpra, independente do resultado das eleições de 2014”. Valéria Martins disse que, conversando com o tradutor alemão Michael Kegler, soube que graças à homenagem ao Brasil, de 2012 para 2013 cerca de 120 títulos fora traduzidos para o alemão, sendo que no ano anterior esse número foi quatro.

As agentes falaram também da forma como trabalham. Para Lucia, o foco é fundamental na preparação para Frankfurt. “É importante pensar nos autores e nas obras que viajam, ou seja, em que obras têm uma voz para o exterior. Depois, preparar um material bacana para apresentá-las e, por fim, com uma estratégia traçada, viajar e encontrar os editores”. Nicole complementou dizendo que, como o português é uma língua pouco estudada, o material das agentes precisa ter trechos dos livros em idioma que as editoras entendam, em geral o inglês. “Os tradutores funcionam como embaixadores da nossa língua”, acrescentou Mariana. Para ela, a homenagem ao Brasil na feira tem muito impacto e foi o empurrão final para que decidisse abrir sua agência, há pouco mais de um ano.

Luciana falou também do papel das editoras. “As editoras brasileiras, em média, publicam 30% de literatura nacional e 70% de estrangeira. E o êxito do livro no país de origem é fundamental para que apostem nele no exterior. “Uma pergunta que as editoras (estrangeiras) sempre fazem é: Quanto vendeu no seu país?”. Luciana disse também que um caminho para a difusão da literatura brasileira pode ser pensar em parcerias, em residências para autores e outras formas de aproximação.

Valéria, por fim, falou do crescimento do setor de eventos literários no Brasil, foco de sua agência. “Há muitas feiras pelo país, nas capitais e no interior, e esse trabalho é remunerado para os autores. A literatura entrou num pequeno show-business. Mas não sei se isso está formado mais leitores”.

O debate foi mediado por Rachel Bertol, do Centro Internacional do Livro da Fundação Biblioteca Nacional.

[14/10/2013 00:00:00]