Admirável novo tempo
PublishNews, 01/10/2013
Admirável novo tempo

O mundo digital mudou o mundo. Na área de Comunicação, principalmente, as transformações foram profundas. Mudaram a forma e o conteúdo, a área de marketing ganhou mais espaço e as redes sociais abriram possibilidades infinitas para autores e livros. É preciso redescobrir o prazer de fazer assessoria de imprensa de um novo jeito, buscar espaços e escapar de modelos antigos que parecem não funcionar mais.

A insegurança é compreensível. Estamos vivendo um tempo em que o terreno das ideias extrapola limites e abre inúmeras possibilidades para explorar a informação. Nossos alicerces de jornalistas ligados ao livro e à leitura estão frágeis. O conhecimento das editorias e dos jornalistas, da técnica do texto e da estratégia de divulgação não são mais garantia de sucesso.

É inevitável entrar nas regras de um novo jogo. Essas regras incluem as redes sociais, projetos de comunicação em múltiplos formatos e as convergências digitais envolvendo texto, imagem, audiovisual. Os novos atores desse ambiente multimidiático ainda estão em formação. O meio continua sendo a mensagem, mas como chegar a ela?

O assessor de imprensa não pode mais ficar sentado em frente a um computador vendo o livro passar. Tem que reinventar-se, ler muito, acompanhar o que está sendo feito em outros países, enfim, abrir a cabeça para uma verdade contundente: nós não podemos mais ser os mesmos.


Tenho percebido que a relação dos assessores com editores e escritores está mais conflituosa. Há mais cobranças porque há menos resultados. Há mais perguntas e menos espaços na mídia. Interesses diversos fazem com que os jornalistas de veículos também procurem novas vertentes.

Nesse amplo panorama, muitos editores perguntam aos assessores, por exemplo, sobre a importância do site ou blog do autor. Muitas vezes a própria editora se responsabiliza por eles tentando gerar maior interesse e demanda para as obras desses autores. Será?

Li recentemente e compartilho com vocês um artigo comentando um painel no evento Marketing Digital Book Mundial e Conferência de Serviços de Publicação (DBWMP), onde os conferencistas debaterem o valor do site do autor.

Sim, o blog ou o site pode trazer benefícios, mas essa realidade ainda não é clara. Se o canal não tiver conteúdo adequado, não for atualizado ou não encaminhar também para o institucional da editora provavelmente será dispensável.

O argumento principal de alguns participantes foi justamente a proposta de utilizar as redes sociais, que permitem a comunicação totalmente sem custo, de fácil atualização, com maiores garantias de curtições e compartilhamentos e até mesmo a criação de grupos de discussão sobre o tema das obras.

Eles concordaram em um ponto: se a proposta é realmente criar o blog ou site, então faça da melhor forma. Isso implica em conteúdo para pesquisa, agilidade e atualização rápida. Nessas horas é importante o assessor de imprensa ter noções de criação desses canais, olhar o que outros escritores e editoras estão fazendo, pensar no conteúdo e na apresentação.

O assessor não é obrigado a saber tudo e muitas vezes não tem o tempo necessário para atualizar-se nas várias áreas que têm aparecido nos últimos anos. Mas se ele quer mesmo acompanhar esses novos tempos é preciso descartar o comodismo. Não dá para se apegar aos modelos antigos e acreditar que não tem mais nada a aprender. Nós todos temos muito a aprender todo dia. E melhor ainda, temos a oportunidade de aprender de graça, consultando fontes confiáveis, pesquisando artigos pela Internet, assistindo palestras, debates, lendo muito.

Hoje, por exemplo, assisti uma apresentação de teatro de um grupo de terceira idade no Instituto Cultural Itaú e me surpreendi com Silvia, uma senhora de 97 anos, integrante do grupo de teatro Feliz Idade, do Shopping Eldorado. Por incrível que pareça, ela ainda toma ônibus, todas as semanas, para frequentar as aulas.

E quando Sílvia entrou no palco vestindo uma colorida roupa de palhaço com toda dignidade, com muita segurança e determinação, dando seu recado sem esquecer o texto, ela me emocionou. Quando perguntei o segredo para tanta jovialidade e animação, ela disse: “Eu nunca deixei de aprender. Faço teatro, participo de um grupo de criação de haikai e vou frequentando cursos de temas que me interessam. É como se eu estivesse sempre na escola”, explicou com um olhar matreiro.

Saí de lá pensando nisso e resolvi escrever essa coluna em homenagem à Sílvia e como incentivo para que cada um de nós, assessores, não tenha medo de ser descartado pelos novos tempos. Sem saudosismo, procurem seus lugares em outras escolas que vão aparecendo pela vida. Vai valer a pena.

[30/09/2013 21:00:00]