Apps de e-books são estrelas cadentes
PublishNews, 24/04/2013
Apps de e-books são estrelas cadentes

Quando era criança, eu acampava pelo menos uma vez por mês nas montanhas do norte da Califórnia. O melhor momento para acampar é numa noite sem lua. Dá para deitar de costas, olhando para o escuro profundo e contar o número de estrelas cadentes que surgem do nada e desaparecem rapidamente. Lembrei disso quando fui escrever esta coluna, pois acho que os apps de e-books são como estrelas cadentes.

As editoras brasileiras - especialmente as editoras de livros infantis - me perguntam muitas vezes como criar um aplicativo a partir de seus livros. Eu pergunto se estão querendo ter algum retorno em seu investimento (normalmente a resposta é sim). Então, não é uma boa ideia, eu aconselho. Na Vook, minha última startup,fizemos mais de 300 Apps de e-books, e foi isso o que eu aprendi:

Apps quebram. Ao contrário dos e-books com o padrão ePub, apps são codificados para uma plataforma específica e uma versão específica daquela plataforma. Em termos simples, os e-books que você faz hoje serão lidos em e-readers daqui a anos, mas apps podem perder compatibilidade quando o Android mudar seu sabor de “sobremesa” de Sorvete (4.0) para Geleia (4.1) ou a Apple adicionar outro ponto decimal no iOS. Como eu sei disso? As mudanças que a Apple fez do iOS 4 para o iOS 5 em 2011 “quebraram” todos nossos apps de enhanced e-books e resultou em um pesadelo. As centenas de milhares de dólares de investimento em tecnologia desapareceram quando tivemos que recodificar os apps do zero. Nossos atuais clientes exigiram o dinheiro de volta por aplicativos que já tinha comprado. No final, decidimos recodificar os apps mais populares, frente ao custo absurdo de refazer todo o catálogo.

Apps são caras. Em termos de interatividade, e-books estavam fora da discussão e apps eram a única opção. Hoje, o nível de interatividade que você consegue adquirir no ePub 3.0 é fantástico - dê uma olhada em The Beatles’ Yellow Submarine na iBookstore. Tem tudo que você quer num livro infantil: layout gráfico fixo; leitura de texto em voz alta; jogos interativos - tudo dentro da especificação do e-book e com um custo de 10% do que custaria um App.

Leitoresprocuram e-books, não Apps. Apps vendem mais do que e-books? Sim e não. Certamente há mais usuários da App Stores do que da iBookstore. Mas se o seu produto não está no lugar onde as pessoas estão procurando, as vendas sofrem. Os títulos da Harlequin vendem bem porque suas capas bonitas estão espalhadas por todo o site da Amazon Kindle Store, não porque foram aleatoriamente adicionadas à seção de “Ferramentas Sociais” da App Store. Importante também é a expectativa de vida: enquanto um e-book pode vender bem por meses e anos, a vida média de um App pode ser contada em dias ou semanas. Neste aspecto, apps são realmente “estrelas cadentes” que brilham intensamente e esfriam rapidamente.

Pensando em um novo projeto digital? Pense muito se quer fazer uma estrela cadente ou criar algo que vai durar por muitos anos.

[23/04/2013 21:00:00]