Sobre o James Beard e outros prêmios
PublishNews, 07/05/2012
Sobre o James Beard e outros prêmios

Para os escritores e editoras de livros de cozinha nos Estados Unidos, nenhum prêmio é tão importante quanto os concedidos pela Fundação James Beard. Criada em homenagem ao chef, escritor e professor James Beard (1903-1985), autor de mais de 20 títulos e primeira personalidade gastronômica da TV americana, a cerimônia reconhece as melhores obras publicadas no ano anterior à festa, sempre realizada no início de maio para coincidir com o aniversário de seu patrono. Apenas entre os livros de receitas – há premiação também para chefs, restaurantes, blogs e artigos de jornais e revistas –, são treze categorias, como “cozinha americana”, “cozinha internacional”, “bebidas”, “referência”, “bolos e sobremesas”.

Entre os vencedores deste ano, anunciados na última sexta-feira, dia 4, em Nova York, houve diversas barbadas. Elogiado por todo mundo, de Daniel Boulud a Anthony Bourdain, Sangue, ossos e manteiga (Rocco, 352 pp., R$ 39,50 – Trad. Lucas Murtinho), de Gabrielle Hamilton, levou na categoria “literatura”. Em “cozinha internacional”, Paula Wolfert, de quem sou fã , ganhou com The food of Morocco (Ecco, 528 pp., US$ 45). E o monumental Modernist cuisine (The Cooking Lab, 2.438 pp., US$ 625), de Nathan Myhrvold com Chris Young e Maxime Bilet, faturou não só o prêmio em “cozinha profissional” mas também o título de “livro do ano” – consta que para produzir, fotografar e imprimir essa bíblia em seis volumes, com assuntos que vão da maneira correta de lavar as mãos às técnicas de sous-vide e banho ultrassônico, Myhrvold, ex-executivo da Microsoft, gastou milhões de dólares (“mais de um, menos de dez”, ele disse ao New York Times).

Modernist cuisine já tinha sido premiado, este ano, pela IACP (International Association of Culinary Professionals), um “rival” do James Beard que distribui honrarias para ainda mais categorias de livros de cozinha: são 23. Diversos de seus vencedores, a exemplo de All about roasting (W. W. Norton & Company, 592 pp., US$ 35), de Molly Stevens, ganharam também ou ficaram entre os finalistas do James Beard. Criada há 25 anos, a votação da IACP prevê três jurados, todos profissionais da área gastronômica, para cada gênero.

(Eu acho muito curioso ver que pouquíssimos dos ótimos títulos reconhecidos pela IACP e pelo James Beard sequer tenham chegado aos finalistas do Gourmand World Cookbook Awards, que foi entregue em Paris, em abril, atrelado a uma feira de livros de cozinha. Ok, trata-se de uma premiação internacional, com inscrições de 162 países. Não sei como é formado o júri, não conheço os critérios de votação e, bem, essa é outra história.)

Ainda em maio, mais prêmios bacanas serão entregues à literatura gastronômica: os troféus do Guild of Food Writers, na Inglaterra, com cinco jurados da área (escritores, jornalistas e editores) para cada uma das catorze categorias. Podem concorrer blogs, reportagens e obras que tenham sido publicadas inicialmente no Reino Unido, em gêneros que vão de “cozinha britânica” e “turismo” a “escrita investigativa”. No segundo semestre, por fim, serão anunciados os quatro vencedores do Taste Canada, distribuído apenas para autores nascidos no país.

E aqui no Brasil? A julgar pela produção tão limitada de títulos nacionais, seria impossível pensar numa premiação tão abrangente quanto as estrangeiras. O Jabuti, oba, aceita a inscrição de “pesquisas, ensaios, textos profissionais, acadêmicos ou científicos sobre a área de gastronomia”, aí incluídos títulos sobre “cozinha, alimentação, receitas e enologia” – mas, diante desse escopo tão amplo, sempre se corre o risco de ver alhos concorrendo com bugalhos.

[06/05/2012 21:00:00]