Na mesa com agentes e editores estrangeiros
PublishNews, 16/08/2011
Ao mostrar uma novela juvenil brasileira, de imediato pelo número de páginas, o editor estrangeiro descarta. A resposta é: o livro é muito fino para meu público leitor

Desejamos que o excelente trabalho do Conexões Itaú Cultural seja a referência sobre o Brasil para o mercado editorial internacional. Almejamos, mais ainda, que nomes tão significativos para a trajetória da literatura brasileira, enfim, consigam um destaque nas mesas de negociações de direitos autorais. Alguém com certa experiência na Feira do Livro de Frankfurt já deve ter passado por algumas das situações abaixo:

1. Ao mostrar uma novela juvenil brasileira, de imediato pelo número de páginas, o editor estrangeiro descarta de pronto a possibilidade de avaliar a obra. A resposta é: o livro é muito fino para meu público leitor.

2. Em outra oportunidade de contar sobre um sucesso de vendas no Brasil, algo acima de 100.000 exemplares por ano, o editor estrangeiro apenas responde com a pergunta: você tem algo em inglês ou espanhol sobre a obra? Dois ou três capítulos traduzidos... (você tem direito de pensar que, no Brasil, procuramos ler ou quem leia o livro que nos interessa em diversas línguas...).

3. Vai ouvir muito a palavra “pitch”. Faça um “pitch” do seu livro. A ideia, aqui, é que o autor ou agente consiga convencer alguém a se interessar em apenas ler uma obra com uma só frase – bem, se não conseguir usar uma só frase tente duas. Mas mantenha o espírito do “pitch”, que nada mais é do que um bom “slogan” para chamar atenção de sua narrativa ou ensaio.

4. Outro “causo”: sabendo da tradução de um romance brasileiro de ficção científica, apenas suposição, você aproveita a deixa e bate na porta da editora que traduziu ou do agente que vendeu, preparado com todas as informações pedidas: números de exemplares vendidos, imprensa, capítulos traduzidos, “pitch” etc. A resposta: o livro anterior foi um fracasso de vendas e não queremos continuar com essa linha de romance.

5. Tudo não é: “não nos interessa”. Os nãos são parte do caminho para o sim. E chegou a hora do sim. Só que ao ler o contrato da editora estrangeira, termina concluindo que não terá direito a mais nenhum direito autoral de sua obra no exterior. Não poderá vender para outros países, nem para cinema, teatro etc. Mas com certeza constará na sua biografia que tem livros traduzidos no exterior.

A meta para as negociações no exterior não deve ser apenas publicar, mas a possibilidade de conseguir uma parceria que garanta resultados para editora e autor. Nossa esperança, como bem exposto por Felipe Lindoso na sua coluna “País tema de feiras internacionais? Para que serve?” é que tanto Câmara Brasileira do Livro, Fundação Biblioteca Nacional, Sindicato Nacional dos Editores de Livros e outras entidades ligadas ao livro no Brasil forneçam informações consistentes sobre a produção editorial brasileira, provocando a geração de linhas editorais específicas para a cultura brasileira. Ou, apenas, o fundamental: aguçar muito a curiosidade pelo jeito brasileiro de narrar ou pensar o mundo.

[15/08/2011 21:00:00]