De boato em boato
PublishNews, 15/02/2011
Quanto vale um item a menos na produção do livro?

Ouvi uma história de um vendedor atacadista para supermercados que, resumindo, fez um escândalo porque na sua lista de produtos faltava um item. A lista de produtos em questão possuía 10.000 itens para vender. Respeitado na indignação, perguntaram quanto das vendas dele representava a falta daquele item. Momentos de reflexão e a resposta veio: 0,5% do faturamento dele. Isso mesmo. Meio por cento.

Quando percebi que o escândalo do vendedor era por causa de meio por cento de seu rendimento, imediatamente, mergulhei no mundo editorial e comecei a refletir: quanto vale a falta de um item na produção, comercialização e logística do livro?

Mas meu projeto de coluna durou pouco, porque não tem uma estrutura comum a todos os livros vendidos. Por exemplo, existe uma classificação de logística com as seguintes denominações: didáticos, obras gerais, religiosos, autoajuda, infanto-juvenis e o grupo CTP (científicos, técnicos e profissionais).

No entanto, a coluna tinha de estar hoje aqui, e também não me saía da cabeça qual seria a porcentagem correspondente a escândalos nas seguintes etapas:

1. Autor ou editor na definição do projeto do livro brigam. Terminam a discussão com um: “com você não trabalho mais”.

2. Na obra feita a quatro mãos – autor e editora – entre acertos e erros, uma das partes não cede de jeito algum para outra. A conclusão é: a alteração pedida não atende as normas do planejado.

3. Original avaliado e aceito. Todavia, uma vírgula tem de sair segundo o editor e tem de ficar, defende autor. Impasse. Não edito com esta vírgula. Não permito a publicação sem a vírgula.

4. Chegamos ao projeto gráfico. Aqui, todos os aspectos são delicados, porém o problema parece ficar maior se estamos com livros de interesse geral e infanto-juvenis. Entre o que os especialistas em projetos gráficos, o autor e o leitor entendem ou vão entender do livro, começa uma discussão que o fim é o orçamento possível. Normalmente o final é: o livreiro acha a capa ruim para vender.

5. A produção editorial é quase toda “digital” e o que sai do computador do autor passa para o do editor, que terceiriza para o produtor editorial e o caminho de volta se repete muitas vezes. Tudo acertado. Todas as páginas rubricadas pelo autor. Até que, quando recebe seu exemplar, antes do lançamento em casa, a esposa do autor pergunta: para quem você dedicou o livro? Para você, claro. Não senhor, olha o nome que está impresso aqui.

6. Um amigo professor exige que todos os alunos comprem o livro para usar em sala de aula. Mas o professor não avisa nem autor, nem livreiro da cidade, nem todos os alunos podem comprar pela internet, ninguém no comercial da editora sabe da adoção. E aí, na hora do seu café preferido, aparece um aluno e dispara: poxa, eu se fosse o senhor nunca mais editava por esta editora, não acho seu livro em lugar nenhum. Vou acabar tirando zero na prova.

7. Noite de autógrafos, supondo que ou autor ou livro chegou a tempo no evento, principalmente em cidade grande, um amigo liga e fala: compro seu livro, amanhã estarei aí do lado, depois nos encontramos para você autografar. Mas é norma dessa livraria manter o livro lançado lá só na noite de autógrafos. No dia seguinte: por favor, vou comprar o livro tal. Resposta: não temos.

A lista de itens que podem faltar no processo editorial persegue o infinito. Mas minha dúvida permanece: quanto vale a falta de um item na produção, comercialização e logística de um único livro?

[14/02/2011 22:00:00]