Chico Buarque chegou quieto ontem na Sala São Paulo, mas não passou despercebido por alguns poucos editores que logo ligaram os pontos. Se ele estava mesmo ali, é claro que Leite derramado (Companhia das Letras) tinha sido escolhido o Livro do Ano. E foi. Chico subiu sorridente três vezes ao palco. Primeiro, para receber o troféu pelo segundo lugar na categoria Romance – o primeiro colocado foi Edney Silvestre. Depois, como autor do livro mais votado pelos internautas, uma novidade desta edição. E por fim, e mais importante, para receber o prêmio de Livro do Ano na categoria ficção. Subiu, sorriu, posou para fotos e saiu sem fazer o tradicional discurso, privilégio apenas dos dois grandes vencedores da noite.
A psicanalista Maria Rita Kehl foi no embalo e não disse nada quando subiu para receber a estatueta por O tempo e o cão (Boitempo), considerado o Livro do Ano em não-ficção. Ela, que já tinha sido muito aplaudida quando foi receber o prêmio na categoria Melhor Livro de Educação, Psicologia e Psicanálise, arrancou assobios eufóricos da plateia. Vale destacar ainda que a mineira Ângela-Lago não foi à festa, mas fez bonito ao ganhar três Jabuti por dois livros diferentes.
Foram entregues no total 163 estatuetas na cerimônia comandada por Cunha Júnior e que contou com a presença do governador Alberto Goldman, do prefeito Gilberto Kassab, de Fabiano Piúba representando o ministro Juca Ferreira, além de Rosely Boschini, presidente da Câmara Brasileira do Livro, e de José Luiz Goldfarb, curador do prêmio, os anfitriões da festa.
A entrega dos jabutis foi intercalada por leituras. Lima Duarte, Regina Duarte e Zeca Camargo leram trechos dos títulos vencedores nas categorias Romance, Contos, Reportagem e Poesia. Ao final, antes do anúncio do Livro do Ano, Mônica Salmaso fez uma pequena apresentação.
“O Jabuti tem essa magia da surpresa”, disse Rosely Boschini comentando sobre a ida de Chico Buarque à premiação. Apesar de as últimas categorias serem as mais aguardadas, todo mundo tem seu lugar ao sol, garante a presidente da CBL em sua última aparição, por ora, na premiação. No ano que vem, a entidade passa por eleição e ela deixa seu posto. Rosely reafirmou sua posição de que todo o mercado deve se sensibilizar para o Plano do Livro e da Leitura no Brasil. “Tem que ter política do livro como tem de transporte e educação, por exemplo”. Para Rosely, o prêmio é o reconhecimento do esforço do mercado editorial. “Estamos produzindo um volume crescente, de melhor qualidade e menor preço”, destacou, embasando-se na última pesquisa Fipe.
Na abertura, Kassab comentou sobre a importância e a relevância do prêmio para o incentivo à leitura e disse que para se ter um país desenvolvido é necessário um grande investimento em educação, e a literatura é um dos pilares. Já Goldman aproveitou o palco e se pôs a poetar: “Somos formados de corpo e alma, e essa alma é basicamente formada de leitura”. Disse ainda que espera pelo dia em que terá mais tempo para leitura. “Um dia queria baixar um decreto que obrigue os governadores, e também os prefeitos, a não terem de trabalhar 16 horas por dia para que eles possam fazer uma das coisas mais fantásticas, que é ler um bom livro.”
Golfarb, curador há exatos 20 anos do Prêmio Jabuti, contou que o livro que a CBL fez em coedição com a Imprensa Oficial em comemoração aos 50 anos do prêmio já está esgotado, mas segue disponível para download gratuito no site da CBL. Destacou também que a votação popular, novidade deste ano, contou com a participação de mais de 5 mil internautas. O escolhido do público em não-ficção foi Linguagens formais: Teoria, modelagem e implementação (Bookman), de Marcus Vinicius Midena Ramos, João José Neto e Ítalo Santiago Veja. “O ideal do Jabuti é promover a literatura de qualidade para todo o Brasil”, comentou.
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