Agora, sou escritor!
PublishNews, 20/04/2010
Na coluna desta semana, Marisa Moura apresenta os onze casos mais comuns - e muito delicados de resolver - tanto para escritores quanto para agentes literários

A vontade de escrever, ser reconhecido, assinar contratos milionários, ver suas palavras no palco, na televisão e onde mais quer que elas possam ser pronunciadas, surge sempre cercada de muitas dúvidas. Não importa seus anseios, depois que a obra for dada como pronta, ela gera uma necessidade primordial: publicar. E aí vem suas implicações.

Nesse momento, não adianta recorrer a dicionários, blogs, entrevistas... Você precisará de pesquisa, prudência, reflexão, paciência e oportunidade – experiências que são únicas, mas que muitas vezes trilham um caminho já conhecido no mercado editorial. Os onze casos mais comuns e muito delicados de resolver tanto para escritores quanto para agentes literários são:

1. Se desejo ser lido, corro o risco de me deparar com pessoas que não gostarão do meu texto. As críticas podem vir de amigos, professores, editores, agentes, leitores e críticos. Como lidar com isso?

2. Mas há quem goste do meu texto e por essa razão continuo escrevendo... Se meu livro vender muito, nenhuma das críticas anteriores importará mais?

3. Escrevi somente um conto, e que foi muito elogiado. Fui procurado por uma editora, para publicá-lo em uma antologia. Publico ou não? E se ela desejar mais contos meus, o que farei?

4. Publicar um livro só meu ou participar de uma antologia? E nesse caso, quais são os parâmetros de um contrato de antologia? Como deve ser a minha relação com o organizador da obra? Como saberei se os critérios utilizados para compor a antologia estão alinhados com o que eu escrevo e quero para o meu texto?

5. Um editor amigo meu foi quem publicou meu primeiro romance. A editora era pequena, mas eu confiava no grande profissional que ele sempre foi. Esse meu amigo editor fez um excelente trabalho, hoje, sou sucesso de imprensa e de vendas. Mas agora sou abordado por várias editoras grandes, que querem publicar minhas próximas obras. O que devo fazer? Continuo na pequena editora do meu amigo ou aceito uma das ofertas das grandes editoras?

6. Publiquei o meu primeiro livro. Ele é sucesso de crítica e o projeto gráfico é sensacional. Mas, mesmo assim, o livro não vende bem; acredito que seja um problema de distribuição. O que devo fazer?

7. Sou praticamente um colecionador de cartas e e-mails de editoras negando a publicação do meu primeiro livro, devo ter mais de dez respostas negativas… Um agente literário resolveria o meu problema?

8. Está muito difícil publicar. Se eu pagar a primeira edição do meu livro, e fizer um bom trabalho de divulgação, será certo que conseguirei mostrar a qualidade do meu trabalho?

9. Se eu ficar amigo de autores, dos quais eu gosto muito, e que foram publicados por editoras grandes, eles irão me apresentar para os editores deles?

10. Há um editor o qual eu admiro muito, não importa para que editora ele vá, vou com ele, pois ele entende minha obra e respeita o meu estilo. Só que agora meu editor querido saiu do mercado, tenho obras esgotadas, obras distratadas com estoque alto em várias editoras e meus livros não estão mais nas livrarias... O que eu faço?

11. Tive a sorte de publicar todos os meus primeiros originais. Mas agora, depois de anos, relendo-os, não os considero bons. Não gostaria mais que eles estivessem disponíveis no mercado. Como posso fazer isso? Será que compro todos os livros que encontro pelo caminho?

Bem, o mais importante, antes de todas essas situações, é decidir ser escritor. Com isso decidido, primeiro você terá de pesquisar o seu estilo, ler tudo que o gosta e, muitas vezes, ler o que não lhe agrada também – você precisa de repertório, além de estar seguro do conteúdo que está produzindo.

Outro ponto essencial é ter consciência de que a sua carreira de escritor é ímpar. Ela poderá ter semelhanças com a carreira de outros escritores, mas cada um vive um momento e tem oportunidades distintas – e somente você poderá decidir sobre o que acontecerá em sua carreira. Mesmo que você tenha um agente literário, esteja certo que, provavelmente, você será mais bem informado dos riscos que corre, principalmente administrativos e jurídicos, mas a palavra final continuará sendo sua.

Além disso, todos sabemos que muitas carreiras de sucesso são feitas livro a livro, e precisam de anos para se consolidar na vida cultural de um país. Alguns autores experimentam uma meteórica ascensão ao sucesso, um fenômeno rápido que pode acontecer no período de um mês, mas mesmos estes demoram anos para serem aceitos pela imprensa e pelos especialistas do gênero.

Não existem receitas prontas de como tomar certas decisões. Um agente literário sabe disso. Mas é fundamental que o escritor também saiba. É por isso que a intenção do agente literário é dar mais respaldo ao escritor, ao orientá-lo e ao considerar os riscos que seu livro – produzido com muitas e cuidadosas horas de pesquisa e trabalho solitário – poderá correr. Sua obra será parte da cultura do seu país, pense na sua carreira de forma responsável.

[19/04/2010 21:00:00]