Deirdre Bair lança biografia de Jung
PublishNews, 17/08/2006
O próprio Carl Gustav Jung (1875-1961) advertia aos candidatos a biografá-lo: ele é um "fenômeno um tanto complicado", que dificilmente seria compreendido por um único estudioso isoladamente. Nessa mesma linha, o biólogo Adolf Portmann disse que a trajetória de Jung só seria inteligível pelo esforço conjunto de "diversos trabalhos de vulcanologia". Por aí se vê o tamanho da ousadia da jornalista e escritora norte-americana Deirdre Bair ao tomar o psicólogo suíço, em todas as "erupções", como tema de seu Jung, uma biografia(Globo, Vol. 1- 624 pp., R$ 58 e Vol. 2 - 504 pp., R$ 48, trad. Helena Londres). Lançado originalmente em novembro de 2003, o livro é fruto de cerca de oito anos de pesquisa intensa, lidando com farta, e por vezes inédita, documentação. Um dos grandes méritos do trabalho de Bair, autora de outras grandes biografias, por exemplo sobre Samuel Beckett -que lhe rendeu o National Book Award -, Simone de Beauvoir e Anaïs Nin, é a competência com que nos situa na intimidade de seu personagem. Vemos de perto a evolução deste filho de um casal melancólico, um menino isolado e em conflito com a religiosidade oca de seu pai (pastor protestante), até os tempos de respeitável cientista do Hospital Psiquiátrico de Burghölzli, onde enceta, entre 1902 e 1906, seus famosos testes de associação de palavras com pacientes esquizofrênicos. As expectativas quase messiânicas que nutriu pela psicanálise de Freud, o posterior desapontamento, a constituição da sua chamada "psicologia analítica" (ou "complexa") são recontados, não sem o arrojado e constante zoom pelas paixões "humanas, demasiado humanas" ali envolvidas.
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