Pode-se dizer, sem muito risco de erro, que os Poemas malditos, gozosos e devotos (Globo, 96 pp., R$ 23) inovam, em um terreno já carregado de experimentação como o poético, justamente na arte de combinar uma temática antiga com uma forma levemente mais moderna. Publicada pela primeira vez em 1984, a série de 21 poemas chamou atenção de imediato por se instalar em uma tradição rara na poesia lírica brasileira: o misticismo amoroso. Leitora privilegiada, Hilda Hilst retrabalha os grandes místicos, retirando deles o motor de um poema sensualmente religioso e incorporando a essa temática uma forma de versificar mais livre e clara. Sendo uma das escritoras mais bem dotadas formalmente da literatura brasileira contemporânea, Hilda Hilst se faz reconhecer justamente no verso musical, melódico e de rimas inconstantes mas sempre surpreendentes. Seguindo o padrão das edições que a Editora Globo vem colocando no mercado, o volume é acompanhado por um texto crítico de Alcir Pécora, organizador da coleção, uma meticulosa cronologia e uma bibliografia atualizada dos trabalhos de e sobre Hilda Hilst.