Para além da discussão religiosa ou ideológica sobre o aborto, há a realidade de mulheres que transitam pela clandestinidade e por instalações médicas precárias para efetuarem sua opção. Existem também as condições objetivas derivadas da condição da maternidade que têm um alto impacto social, principalmente entre as mulheres de baixa renda. Analisar as condições do gerenciamento da contracepção, os riscos físicos e morais das técnicas do aborto clandestino e a relação das mulheres com os seus companheiros durante o processo é o objetivo de um dos estudos de Lucila Scavone que compõe esta coletânea de artigos produzidos com base em pesquisas teóricas e empíricas sobre a ligação do feminismo com as Ciências Sociais. Dar a vida e cuidar da vida - Feminismo e Ciências Sociais (Unesp, 205 pp., R$ 30), além de discutir o aborto como problema de saúde pública, resgata a relação da maternidade com a saúde da mulher, o saber prático produzido pelas mães na vivência cotidiana e os dilemas contemporâneos da maternidade, indo desde as técnicas para evitar a concepção e o pré-natal até o parto e os cuidados com a saúde da criança. Igualmente importante é o debate sobre a utilização de tecnologias conceptivas, que divide o feminismo em duas correntes: a que acredita ser tal tecnologia um direito e a que a considera um instrumento de imposição do ato de procriar. Além de apresentar dados e discutir os temas clássicos do feminismo atual, Scavone ainda discute a inserção desta problemática nas teorias sociais clássicas.