O desejo e a construção da identidade nacional
PublishNews, 05/01/2005
O processo de dominação portuguesa no Brasil, que resultou na adoção, no século XX, da ideologia da miscigenação racial e da antropofagia cultural, representa o extremo oposto do processo de dominação por meio da segregação racial implementada pelos holandeses e ingleses na África do Sul, e que chegou ao seu auge com a instauração do regime do Apartheid, no final dos anos 1940. Razão, "Cor" e Desejo: uma análise comparativa sobre relacionamentos afetivo-sexuais "inter-raciais" no Brasil e na África do Sul (Unesp, 450 pp., R$ 48), de Laura Moutinho, aborda a complexa questão das relações raciais e sexuais no Brasil, em contraste com a experiência sul-africana. O estudo, originalmente uma tese de doutorado apresentada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, apóia-se em múltiplos materiais e fontes como entrevistas, teorias sociológicas, leis, observação etnográfica para discutir e sugerir, por meio da comparação entre os dois países, uma interpretação sobre a articulação entre desejo erótico e a construção da identidade nacional. O livro confronta os dados quantitativos sobre a dinâmica das relações conjugais do país com as representações sociais correntes que sugerem ser a miscigenação um atributo definidor da civilização brasileira. Analisa como raça, mestiçagem e erotismo são entrelaçados em alguns dos livros clássicos que tratam dos primeiros séculos da colonização. A autora sustenta que nesses textos registra-se o desejo do homem branco pela negra, compondo o que Gilberto Freyre denominou de "patriarcalismo poligâmico", responsável pela miscigenação.
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