O pedreiro bibliotecário e o torneiro presidente
PublishNews, 22/12/2004
Ontem, ninguém era mais feliz no Palácio do Planalto do que o pedreiro sergipano Evando dos Santos. Embora estivesse ali a trabalho, ele estava longe de suas ferramentas ou de algum material de construção. Evando estava presente na solenidade de sanção da lei que desonerava totalmente o livro no Brasil na posição de um orgulhoso bibliotecário. Explica-se: Evando é o fundador e diretor da Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes, localizada na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. Sua ida à Brasília para participar da cerimônia presidencial foi articulada pelo MinC e contou com o patrocínio de uma grande editora paulista que bancou sua passagem. Carregando uma máquina fotográfica e uma Bíblia - "o maior livro do mundo" -, Evando distribuía aos interessados o cordel As incríveis façanhas de um pedreiro arretado, de João Batista Melo, que conta a história da biblioteca comunitária que criou em 1998 e que já possui 40 mil exemplares. "Eu não mereço estar aqui, ver o presidente de perto...", declarou o pedreiro das letras antes do início da cerimônia, sendo rapidamente interrompido por outros presentes. "Você merece estar aqui mais do que muita gente", disseram-lhe. Evando tirava fotos de tudo e de todos, tendo conseguido até uma foto do presidente Lula, bem de perto. "Me sinto como um touro em um palácio de cristal; fico sem saber onde ir", declarou. "O touro é o símbolo da resistência e do poder", completou. O pedreiro também distribuiu seus cartões de visita da biblioteca comunitária, que apresenta, abaixo de seu nome a profissão de pedreiro. Após a cerimônia, foi convidado a almoçar em um restaurante brasiliense na companhia de personalidades como Gloria Kalil e o escritor Paulo Lins. Nas conversas, Evando sempre lembrava a todos que estava buscando patrocínio para construir o prédio da biblioteca - os livros ainda encontram-se em sua casa. Ele já possui o terreno, um projeto assinado por Oscar Niemeyer e a aprovação na Lei Rouanet, mas ainda falta o principal: um patrocinador. Ainda assim, a felicidade e o orgulho eram visíveis no rosto de Evando, justo ele, que por emprestar os livros de sua biblioteca por tempo indeterminado - "se o livro não volta, é motivo de alegria" -, tinha pouco a ganhar com a desoneração do livro. Mas que você merecia estar ali, você merecia, Evando!
[22/12/2004 01:00:00]