O livro nasceu primeiro que a editora, e veio da Suécia. Ou melhor, da Lapônia.
Mal pela raíz (128 pp., R$ 25), de Jorge Cardoso, é o primeiro lançamento da
Editora Baleia, recém-fundada em São Paulo pelo ilustrador Nelson Provazi e pelo trader de comércio exterior Márcio Daqui. Cardoso tem uma biografia no mínimo instigante: abandonou seu curso de filosofia no Rio de Janeiro, viajou para os EUA, foi pescador na Islândia, participou de clubes de luta na Alemanha e conviveu com figuras mais do que suspeitas no Marrocos para, enfim, se estabelecer na pequena cidade de Umeå, na Suécia. Apesar de toda esta peregrinação global,
Mal pela raíz não é uma obra biográfica (fica aqui a sugestão para os editores), mas um livro de contos breves e curiosos, com títulos como "O que o cavalo sempre quis", "Ambulância no pique: cão dentro" e "Pomba Jihad". O autor chegou à editora cetácea pelo escritor Ronaldo Bressane, que apresentou os contos à dupla de editores e acabou assinando a orelha do livro. A obra reflete a linha editorial pretendida pela nova editora, que será toda focada em literatura brasileira contemporânea. Em julho, por exemplo, a Baleia lança
Encarniçado, de João Filho, outro escritor com biografia
sui generis: nascido no interior da Bahia, em 1975, foi vendedor de leite, balconista, descarregador e office-boy, entre outros biscates. Para outubro, já está previsto o lançamento de
Pornografia Pessoal, de Nilo Oliveira. Os editores têm consciência da dificuldade de se publicar e comercializar literatura contemporânea no Brasil, mas não se assustam e até brincam com o problema. "Corremos o risco de todos os nossos livros encalharem", afirma Provazi, que cuida da produção editorial. "Por isso resolvemos chamar a editora de Baleia", revela. A distribuição dos livros baleeiros está a cargo da Paralaxe. Para Lu Pinho, gerente da distribuidora, não há, no entanto, nenhum encalhe à vista. "A Baleia não veio para encalhar, muito pelo contrário. A aceitação tem sido muito boa, pois há um público que aposta muito em coisas novas", afirma a gerente. "O fato de divulgarem desde já os livros que estão no prelo aumenta a credibilidade do mercado na Baleia", complementa. Enfim, nem só a Barracuda acredita que o mar editorial está prá peixe.