Superando limites
PublishNews, 23/06/2004
O que esperar da história de um filho de espanhóis, nascido quase clandestinamente na União Soviética, com deficiências físicas e mentais, separado da mãe com um ano e meio e criado entre orfanatos e asilos, senão a crônica sem fim de sofrimentos e humilhações e da revolta provocada por eles? Branco sobre negro: as memórias de um homem que superou todos os limites (Ediouro, 174 pp., R$ 29), entretanto, não tem nada de revolta nem de humilhações. Tem sofrimento, como não poderia deixar de ter, mas é, principalmente, uma crônica de vitórias e uma elegia do bem, da felicidade e do amor. O autor, Rúben Gallego, começou a escrever após de reencontrar a mãe espanhola, em Praga, depois de uma rocambolesca aventura por toda a Europa. Por causa das deficiências, digita seus textos apenas com o indicador da mão esquerda. Abre o livro narrando como é penoso ir ao banheiro sozinho, durante a noite, mas em momento nenhum se deixa contaminar pela autocomiseração. O livro é dividido em episódios, sem ordem cronológica, que acabam por formar um painel da vida das crianças deficientes na União Soviética. Nem sempre Rúben é o protagonista das histórias, mas em todas é o narrador e todas são marcadas pelo seu olhar humano e irônico. Rubén Gallego nasceu em 1968 e vive hoje em Madri.
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