Hay que endurecerse...
PublishNews, 20/05/2004
"Nunca julgue um livro pelo filme", já dizia um certo J. W. Eagan. Sem dúvida, ele acertou em cheio, já que há inúmeros bons filmes feitos a partir de livros não tão bons e muito filmes péssimos que partiram de livros excelentes. No entanto, no caso do filme "Diários de Motocicleta", de Walter Salles, baseado nos diários de viagem mantidos por Ernesto Guevara (futuro Che) e Alberto Granado, pode-se dizer que é possível julgar o livro pelo filme, pelo menos no que se refere à obra assinada por Guevara - De Moto pela América do Sul (Sá Editora, 192 pp., R$ 29,90) -, pois são ambos excelentes. O livro foi relançado em 2003 pela pequena Sá Editora que agora deve aproveitar o sucesso do filme. A obra, na realidade, não se trata de um diário mantido durante a viagem de Che, mas foi escrita por ele mais tarde, em forma narrativa, a partir das anotações que manteve durante a verdadeira expedição empreendida por ele e seu amigo Granado nos idos de 1952. Também vale dizer que a parte motorizada da viagem se encerrou logo que a dupla chegou ao Chile, pois La Poderosa, a moto, abriu o bico. Ainda assim, é possível perceber no texto de Guevara a personalidade do jovem aventureiro e questionador mesclada àquela do médico humanista e a do futuro guerrilheiro, que já começava a se manifestar. A leitura do livro também permite descobrir e julgar todas as "licenças poéticas" que o roteiro do filme utilizou ao alterar detalhes da história.
[20/05/2004 00:00:00]