"Reunidos no Parque, muitos livros já manuseados, lidos, com anotações, com o nome do primeiro dono, uma data, uma dedicatória. Outros novos, pareciam nunca terem merecido uma leitura. Autores consagrados foram disputados. Quando alguém era avistado ao longe, com um carrinho ou sacola cheia de livros, o público já se agitava e meio sem graça cercava o sujeito. Ele enfim desfilava a sua coleção, e todos em volta, como pássaros na praça em busca de comida, pediam por um título, um autor. Diziam outro, pelo qual queriam realizar o escambo. Até as crianças participavam num bom programa para o dia consagrado à elas, e depois andaram pelo Parque, assistiram teatro, ganharam balões. Os apaixonados pelos livros entregavam seus amados exemplares quase tristes, resistindo, despedindo-se. Recebiam o outro e guardavam apressados como se cometessem uma infidelidade conjugal. Algumas pessoas não trouxeram seus livros e logo perceberam o erro, quiseram então comprar mas não foi possível. A lei era outra: a troca. Junto com a troca dos livros uma troca de palavras, um elogio aos livros bem cuidados, um resumo da história já lida e até uma passagem da vida onde aquele livro foi importante. Livros realmente causam transformações, mudam a cara do domingo, alegram a vida. Para quem perdeu, só no ano que vem."
Ana Mello
