Dizia-se que o Franz Kafka tinha o poder de criar o fantástico em suas obras. Ele, no entanto, afirmava que isso seria um engano, pois a realidade já era o próprio fantástico e a literatura teria, portanto, a tarefa de revelar o fantástico existente em todas as coisas. De origem européia, o termo literatura fantástica nasce em oposição ao Realismo e ao Romantismo e, como gênero, tem duração relativamente breve. No Brasil, a literatura fantástica surgiu no século XIX através de narrativas de estruturas mitológicas, muito próximas à literatura oral e sobre personagens excepcionais que de algum modo encarnavam um modelo típico de brasileiro. Foram poucos, no entanto, os escritores brasileiros que enveredaram pelo fantástico. Álvares de Azevedo, em "Noite na Taverna", e Machado de Assis, em alguns contos, são os mais conhecidos. Ainda assim, é justamente o realismo fantástico que marca presença em Páginas de Sombra - contos fantásticos brasileiros (Casa da Palavra, 168 pp., R$ 28), obra onde Braulio Tavares reúne uma série de contos de autores brasileiros consagrados como Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Lygia Fagundes Teles e Carlos Drummond de Andrade, além de outros recém descobertos que já experimentaram a narrativa fantástica imortalizada por Edgar Alan Poe, Gabriel Garcia Marquez e Jorge Luis Borges.