PublishNews: No mês passado, a Unesco divulgou um estudo comparativo da capacidade de leitura de estudantes de 43 países. O Brasil amargou uma 39ª posição. Como explicar isso em um país que que teve Monteiro Lobato como o grande mentor de seu mercado editorial?
Ziraldo: Monteiro Lobato não tem culpa nenhuma. Lia Lobato quem gostava de ler. A educação fundamental brasileira de hoje é que tem um currículo que não corresponde às necessidades da nossa população infantil. Ela precisa aprender a ler e escrever com desenvoltura, como quem respira. Nossas crianças têm que aprender a gostar de ler. Só quando a escola pública brasileira se empenhar neste mister de dar prioridade absoluta ao ensino da leitura plena, de leitura acima de tudo, é que nós vamos parar de passar vergonha.
PublishNews: O MEC é um dos maiores compradores de livros do mundo. Como você avalia programas como o PNBE e o PNLD?
Ziraldo: Tudo o que o governo puder fazer para estimular o hábito de leitura é bem-vindo. O governo tem se esforçado nisto.
PublishNews: Em suas andanças pelas escolas e eventos literários do Brasil afora, você tem visto ou descoberto iniciativas regionais de sucesso para o desenvolvimento do hábito da leitura?
Ziraldo: Não foi só o governo federal que percebeu a necessidade urgente que o país tem de se transformar num país de leitores. Há iniciativas de toda ordem pelo Brasil afora, felizmente. Há prefeituras empenhadas nisto, como as de Blumenau e Ribeirão Preto, por exemplo. Há muitos estados se movimentando para trabalhar a leitura na escola e no lar. Um dos programas que mais me encantou dos que tomei conhecimento foi o da Bahia. Já estive lá várias vezes por conta disto. E tenho falado por aí que é um programa a ser copiado pelos outros estados, pois é muito inspirado. O programa se chama "Educar para Vencer", um nome que, dando prioridade à leitura, dá bem a medida do que pretende. É isto aí, o poder público tem que ter consciência da necessidade de iniciativas assim, tem que ser prático e objetivo, mas tem que botar o coração no meio.
PublishNews: Cobra-se muito do ensino fundamental e dos setores educacionais do País o desenvolvimento do hábito da leitura. Mas e a família? Ela também não seria co-responsável? Se "ler é melhor que estudar", ler em casa não seria melhor que estudar na escola?
Ziraldo: É o passo seguinte a ser dado. Temos que levar o livro pra dentro da casa das pessoas, das jovens famílias de poucos recursos. Temos que ir lá dentro, com o livro na mão. Como quem leva a eucaristia...