Ziraldo exclusivo: Temos que levar o livro como a eucaristia
PublishNews, 23/07/2003
O livro O Menino Maluquinho já vendeu quase dois milhões e meio de exemplares, está na 72ª edição e transformou Ziraldo, seu autor, no escritor brasileiro que mais vendeu um único título infantil. O cartunista, portanto, poderia se dar por satisfeito. Mas Ziraldo está longe de se acomodar. Nos últimos tempos, tem promovido uma luta pessoal pelo desenvolvimento do hábito da leitura nas crianças brasileiras, tendo criado o mote "Ler é mais importante do que estudar". Hoje, dia 23 de julho, Ziraldo estará em Campinas para participar da Mostra Internacional de Humor Gráfico que integra o programa de atividades do 14º Congresso da Leitura do Brasil. Às 16h, ele participa de uma mesa-redonda com outros cartunistas no Espaço Cultural Casa do Lago (Unicamp). O criador do Menino Maluquinho concedeu a seguinte entrevista para o PublishNews:

PublishNews: No mês passado, a Unesco divulgou um estudo comparativo da capacidade de leitura de estudantes de 43 países. O Brasil amargou uma 39ª posição. Como explicar isso em um país que que teve Monteiro Lobato como o grande mentor de seu mercado editorial?
Ziraldo: Monteiro Lobato não tem culpa nenhuma. Lia Lobato quem gostava de ler. A educação fundamental brasileira de hoje é que tem um currículo que não corresponde às necessidades da nossa população infantil. Ela precisa aprender a ler e escrever com desenvoltura, como quem respira. Nossas crianças têm que aprender a gostar de ler. Só quando a escola pública brasileira se empenhar neste mister de dar prioridade absoluta ao ensino da leitura plena, de leitura acima de tudo, é que nós vamos parar de passar vergonha.

PublishNews: O MEC é um dos maiores compradores de livros do mundo. Como você avalia programas como o PNBE e o PNLD?
Ziraldo: Tudo o que o governo puder fazer para estimular o hábito de leitura é bem-vindo. O governo tem se esforçado nisto.

PublishNews: Em suas andanças pelas escolas e eventos literários do Brasil afora, você tem visto ou descoberto iniciativas regionais de sucesso para o desenvolvimento do hábito da leitura?
Ziraldo: Não foi só o governo federal que percebeu a necessidade urgente que o país tem de se transformar num país de leitores. Há iniciativas de toda ordem pelo Brasil afora, felizmente. Há prefeituras empenhadas nisto, como as de Blumenau e Ribeirão Preto, por exemplo. Há muitos estados se movimentando para trabalhar a leitura na escola e no lar. Um dos programas que mais me encantou dos que tomei conhecimento foi o da Bahia. Já estive lá várias vezes por conta disto. E tenho falado por aí que é um programa a ser copiado pelos outros estados, pois é muito inspirado. O programa se chama "Educar para Vencer", um nome que, dando prioridade à leitura, dá bem a medida do que pretende. É isto aí, o poder público tem que ter consciência da necessidade de iniciativas assim, tem que ser prático e objetivo, mas tem que botar o coração no meio.

PublishNews: Cobra-se muito do ensino fundamental e dos setores educacionais do País o desenvolvimento do hábito da leitura. Mas e a família? Ela também não seria co-responsável? Se "ler é melhor que estudar", ler em casa não seria melhor que estudar na escola?
Ziraldo: É o passo seguinte a ser dado. Temos que levar o livro pra dentro da casa das pessoas, das jovens famílias de poucos recursos. Temos que ir lá dentro, com o livro na mão. Como quem leva a eucaristia...

[23/07/2003 00:00:00]