Dentre os mais reconhecidos poetas árcades ligados à literatura brasileira, Silva Alvarenga é o menos estudado e reeditado. A edição crítica de O desertor - Poema herói-cômico (Editora da Unicamp, 172 pp., R$ 28), organizada por Ronald Polito, vem preencher um vácuo na história da literatura luso-brasileira do período neoclássico, quase 150 anos após a publicação da última edição integral desta obra, em 1864. O poema herói-cômico, que aborda temas triviais e personagens ridículos em tom épico, visando provocar o riso, fez parte de uma tradição satírica que perdurou ao longo do século XIX e parte do XX. Publicado em 1774, O desertor tem como ponto de partida a celebração da reforma da Universidade de Coimbra, empreendida pelo marquês de Pombal. O poema faz a defesa da universidade, a exaltação da ilustração e o ataque à escolástica então hegemônica no ambiente acadêmico. Mas é, sobretudo, uma crítica satírica aos hábitos e comportamentos de parte da juventude do período.