Entidades se posicionam sobre caso de Miriam Leitão
PublishNews, Redação, 17/07/2019
SNEL e CBL se manifestam sobre desconvite à jornalista e defendem a democracia, a pluralidade de ideias e a liberdade de expressão

O Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL) se manifestaram a respeito do cancelamento do convite a Miriam Leitão para participar da Feira do Livro de Jaraguá do Sul (8 a 18/08). Em nota, o SNEL se solidariza com a jornalista e o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches e diz que “preza pela democracia e liberdade de pensamento, repudia qualquer ato de violência física ou moral e acredita que a discordância de opiniões é saudável para a construção do espírito crítico e da democracia, não sendo, portanto, motivo para qualquer manifestação agressiva”.

Já a CBL diz que a notícia causou surpresa e estranhamento já que eventos literários são "espaços multiculturais, para a discussão dos mais diversos temas e posições", nos quais o público têm "contato com os mais diversos pensamentos e autores".

Depois de manifestações contrárias à presença da jornalista na cidade e de uma petição on-line que arregimentou pouco mais de 3,5 mil assinaturas, a organização do evento decidiu por desconvidar a jornalista. No abaixo-assinado, os subscritores dizem discordar do “viés ideológico e posicionamento” da jornalista. Pelas redes sociais, internautas ameaçaram os convidados de morte e prometeram recebê-los com uma chuva de ovos.

Também por nota, o evento diz que nos seus 12 anos de existências, já enfrentou toda sorte de dificuldades – “de escassez de recursos financeiros até enchentes” – “mas nunca, em toda sua história, a festa da literatura foi atacada pela escolha de seus convidados”. Clique no Leia Mais para ter acesso à íntegra desta nota.

Confira a íntegra da nota do SNEL

O Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) se solidariza com a jornalista Miriam Leitão e o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches que, após sofrerem ameaças, foram desconvidados pela organização e não farão mais parte da programação da 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina.

O SNEL, que preza pela democracia e liberdade de pensamento, repudia qualquer ato de violência física ou moral e acredita que a discordância de opiniões é saudável para a construção do espírito crítico e da democracia, não sendo, portanto, motivo para qualquer manifestação agressiva.

Confira a íntegra da nota da CBL

O Papel das Feiras e Bienais do Livro para a pluralidade de pensamentos

A recente notícia de que uma feira literária retirou o convite feito aos escritores Miriam Leitão e Sérgio Abranches, nos causou surpresa e certo estranhamento. As feiras de livros e Bienais, como se sabe, são espaços multiculturais, para a discussão dos mais diversos temas e posições e é exatamente isso que faz delas eventos tão especiais e queridos dos leitores e dos visitantes deste tipo de evento.

Em tempos de discussões calorosas em que nos vemos, é inevitável a abordagem de um dos pilares mais importantes para o livro e para a democracia: a liberdade de expressão. É importante cultivá-la e defendê-la, zelando por sua integridade. Quero aqui me distanciar de polêmicas político-partidárias, porque este direito é assegurado a todos, independente de opinião, crença ou posicionamentos políticos, porque é na riqueza dos debates e na pluralidade de ideias que a humanidade tem evoluído ao longo destes anos e o livro tem sido fiel escudeiro nesta jornada.

E também é neste contexto que devem ser compreendidas as Feiras e Bienais de Livros: Como um espaço amplo, em que o público possa ter contato com os mais diversos pensamentos e autores. Nestes eventos, a riqueza está exatamente na diversidade de assuntos e presenças. Como organizadora da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, temos sempre em mente a importância de proporcionar este encontro dos autores com os leitores e com os fãs. E é por esta razão que investimos sempre em uma programação rica, que atenda as crianças, os jovens, os adultos, professores, bibliotecários e amantes do livro em geral.

E este é o papel das feiras: levar informação, conhecimento, educação, entretenimento, ampliar os pontos de vista em um ambiente pacífico, plural e alegre. Transformar esse grande encontro de autores e leitores em campo fértil para novas ideias e em uma grande festa do livro e do leitor.

Diante de tudo isso, consideramos que estes eventos, dada à sua importância e seu ambiente democrático não deve ceder à pressões de grupos específicos, independente de posicionamentos políticos, crenças, e lados, porque são ambientes eminentemente democráticos onde todos tem voz.

É com preocupação que assistimos episódios nos quais a intolerância se manifestou em feiras de livro. O mais recente deles levou à suspensão, no município de Jaraguá do Sul, de uma palestra da jornalista Miriam Leitão, uma das vozes mais respeitadas do jornalismo brasileiro, e do cientista político Sérgio Abranches. A convivência pacífica e o pluralismo sempre deram o tom nas feiras de livros realizadas em todo o país. Esse ativo democrático é um patrimônio da cultura brasileira e tem de ser preservado para que não fique comprometido um dos maiores valores assegurado pela nossa Constituição: a liberdade de expressão.

Vida longa a todos os eventos literários do Brasil!


[17/07/2019 17:00:00]