
Idealizado e presidido por Afonso Borges, o Sempre Um Papo reafirmou em 2025 "seu compromisso histórico com a democratização da leitura, a formação de leitores e o fortalecimento da vida cultural brasileira, promovendo mais de uma centena de encontros com escritoras e escritores, artistas, pensadores e cientistas de diferentes regiões do país e do mundo", de acordo com um comunicado.
A novidade da programação de 2025 foi o Sempre Um Papo – TCE Cultural, um programa inédito no país, realizado pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCEMG) em parceria com a Copasa, por meio da Lei Rouanet. A iniciativa inaugurou um modelo original de diálogo público ao articular literatura, pensamento crítico, arte e escuta cidadã, transformando temas tradicionalmente técnicos — como fiscalização, controle externo, políticas públicas, transparência e gestão do Estado — em debates culturais acessíveis, abertos ao público e ancorados na mediação qualificada da palavra. Ao longo do ano, o programa reuniu autores e pensadores de grande relevância nacional e internacional, como Mia Couto, Itamar Vieira Junior, Conceição Evaristo, Ailton Krenak, além de Leila Ferreira, Semayat Oliveira, Luana Tolentino e o próprio Afonso Borges, consolidando-se como uma experiência que aproxima instituições de controle, produção cultural e sociedade civil, e afirmando o papel da literatura como ferramenta de compreensão do presente e de qualificação do debate democrático.
No eixo paulista, o Sempre Um Papo manteve, em 2025, sua parceria continuada com o Sesc São Paulo, uma colaboração que completa 24 anos e se consolidou como uma das mais duradouras do projeto. Ao longo do ano, o ciclo reuniu Maria Homem e Nurit Bensusan, Ailton Krenak e Anielle Franco, Fernando Gabeira e Elizângela Baré, Bianca Santana e Ricardo Abramovay, Ellen Oléria e Sérgio Vaz, Maria Valéria e Silvio Meira, Neide Rigo e Fabiana Cozza, Cármen Lúcia e Maria Vilani, além de Drauzio Varella e Vanda Witoto, que encerraram a temporada.
Em Brasília, o Sempre Um Papo consolidou, ao longo de 2025, o ciclo de conversas literárias realizado na Caixa Cultural, com patrocínio da Caixa, reafirmando o espaço como um polo permanente de reflexão crítica no Distrito Federal. Foram realizados dez encontros, que reuniram Itamar Vieira Junior, Ailton Krenak, Bianca Santana e Matheus Leitão, Fabrício Carpinejar, Ana Maria Gonçalves e Valter Hugo Mãe, Jamil Chade, José Miguel Wisnik, Paulo Scott e Eliana Alves Cruz, Conceição Evaristo e Milton Hatoum e Cibele Tenório, em uma programação que abordou literatura, política, história, memória, direitos humanos, jornalismo, identidade e os desafios contemporâneos do país.
No Rio de Janeiro, em parceria com o Museu do Amanhã, o projeto Sempre Um Papo – Palavra Acesa realizou um ciclo de encontros que articulou literatura, reflexão crítica e imaginação social a partir da leitura pública de poemas centrais da literatura brasileira, que serviram de ponto de partida para os debates. A programação reuniu Fabrício Carpinejar e Eliana Alves Cruz, Cármen Lúcia e Chico César, José Miguel Wisnik e Flávia Oliveira, além de Bruna Lombardi e Aydano André Motta. Na pauta, estiveram poemas de Vinicius de Moraes, Affonso Romano de Sant’anna, Conceição Evaristo e Carlos Drummond de Andrade.
Em Paracatu, com patrocínio da Kinross, o programa anual manteve a regularidade mensal e reforçou de forma consistente o fortalecimento cultural do município, recebendo ao longo de 2025 autoras e autores nacionais e regionais como Socorro Aciolli, Itamar Vieira Junior, Andressa Marques, Nurit Bensusan, Alessandra Roscoe, Tião Rocha e Cibele Tenório. A programação incluiu ainda encontros dedicados à produção literária local e regional, reunindo Daniela Prado, Pillar Meireles, Raik, Silvano Avelar e Tarzan Leão, além de Mariana Lelis e Camila Tokutsune, e contou também com a participação do poeta e arte-educador Thiago SKP.
O Fliparacatu 2025, também patrocinado pela Kinross, realizado entre 27 e 31 de agosto, vem se tornando uma das experiências literárias mais expressivas do interior brasileiro. Com o tema “Literatura, encruzilhada e desumanização”, a terceira edição teve como escritor homenageado Valter Hugo Mãe e reuniu mais de 70 autoras e autores nacionais e internacionais em uma programação com mais de 80 atividades, entre mesas literárias, debates, apresentações artísticas, oficinas, exposições e performances. Um dos destaques centrais foi o forte engajamento do sistema educacional: 42 instituições de ensino participaram do festival, mobilizando cerca de 28 mil crianças e jovens em ações de leitura, encontros com escritores e atividades formativas.
O Fliaraxá 2025, patrocinado pela CBMM e Bem Brasil, realizado entre 1º e 5 de outubro, sob o tema “Literatura, Encruzilhada e Memória”, homenageou a escritora ruandesa Scholastique Mukasonga, o autor Itamar Vieira Junior, o patrono local Agripa Vasconcelos e valorizou o escritor araxaense Fernando Braga de Araújo. A curadoria, assinada por Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches, com colaboração de Leo Cunha, Luiz Humberto França e Rafael Nolli, estruturou uma programação com mais de 100 atrações, reunindo 135 autores nacionais e internacionais, além de promover mais de 90 lançamentos de livros. O festival recebeu aproximadamente 20 mil pessoas e também teve forte integração com a rede educacional: o Prêmio de Redação e Desenho envolveu 58 escolas, correspondendo a cerca de 86% da rede escolar de Araxá.
O Flitabira 2025, patrocinado pela Vale, realizado de 29 de outubro a 2 de novembro, reuniu cerca de 30 mil pessoas ao longo de cinco dias. Com o tema “Literatura, Encruzilhada e A Rosa do Povo”, a edição foi marcada por uma programação que integrou debates, oficinas, música, atividades infantojuvenis, sessões de autógrafos e espaços dedicados a jovens escritores. A curadoria — formada por Sérgio Abranches, Afonso Borges, Bianca Santana, Jeferson Tenório, Leo Cunha, Carol Peixoto e Sandra Duarte — homenageou Ana Maria Machado, Conceição Evaristo, Ignácio de Loyola Brandão e Milton Hatoum. O Prêmio de Redação e Desenho mobilizou 35 escolas, cerca de 68% da rede municipal, envolvendo milhares de estudantes.
Já o Flipetrópolis 2025, realizado entre 27 e 30 de novembro no Palácio de Cristal, reuniu 63 autoras e autores nacionais e internacionais em uma programação que integrou literatura, pensamento crítico, história, futuridades, questões raciais, cinema, teatro e diferentes linguagens artísticas. Ao longo de quatro dias, foram realizados 37 painéis, além de oficinas, lançamentos, programação infantojuvenil e atividades voltadas à mediação de leitura, criando um ambiente de encontro entre tradição e contemporaneidade. O festival homenageou o escritor Antônio Torres e recebeu figuras centrais do pensamento brasileiro, como Sueli Carneiro, agraciada com o Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano 2025, reafirmando o compromisso curatorial com diversidade estética, geracional e temática. A dimensão editorial foi um dos pontos altos da edição, com mais de 280 lançamentos de livros e a venda de mais de 5 mil exemplares nas livrarias instaladas no evento.
Em Belo Horizonte, o núcleo tradicional do Sempre Um Papo, patrocinado pela Cemig e pelo Itaú, sediado na Biblioteca Pública, manteve ao longo de 2025 uma interlocução direta com autores de grande repercussão nacional, recebendo Gustavo Grandinetti, Frei Betto, David Diop e Ricardo Aleixo. Paralelamente, o ciclo realizado por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura ampliou o escopo do debate literário e do pensamento público, reunindo Tião Rocha, Aline Bei, Jeferson Tenório, Cidinha da Silva, Eduardo Giannetti, Bianca Santana, Maria Ribeiro, Ruy Castro, Heloisa Seixas, Eugênio Bucci e Jeferson da Fonseca, em encontros dedicados à literatura contemporânea, à crítica social, à ética, às desigualdades e aos temas centrais da vida cultural brasileira.
Muros Invisíveis – Afroempreendedores foi realizado em 2025 como uma iniciativa da Plataforma Semente, do Ministério Público de Minas Gerais, em parceria com a Associação Cultural Sempre Um Papo, a 3ª Promotoria de Justiça de Paracatu, o CAOMA e a Prefeitura Municipal de Paracatu. Instalado na Praça da Matriz, o projeto apresentou uma exposição pública com o retrato de 42 afroempreendedores da cidade, fotografados por Luana Neiva, com curadoria de Rose Bispo e direção de arte de Coniiin.
O Sempre Um Papo – Palavra Justa foi lançado em 2025 como uma iniciativa estruturante da Associação Cultural Sempre Um Papo em parceria com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp MG) e o Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen MG). O projeto nasceu a partir de um diagnóstico inédito sobre as 122 bibliotecas prisionais do Estado, revelando desigualdades profundas entre acervos, infraestrutura e condições de funcionamento, mesmo diante da expansão dos programas de remição de pena pela leitura, cujo número de participantes praticamente dobrou entre 2022 e 2024. Com pontos de coleta distribuídos nas 19 RISPs e em unidades da UAI, o projeto envolveu cidadãos, escolas, editoras e instituições culturais, reafirmando o livro como instrumento de dignidade, formação e reconstrução de trajetórias no sistema prisional.
O Clube do Livro – Letramento Racial, criado pelo Sempre Um Papo e desenvolvido ao longo de 2025 e 2026, estruturou-se como um programa aberto e gratuito dedicado à formação crítica por meio da leitura de obras fundamentais da literatura afro-brasileira. O projeto organizou um percurso contínuo de reflexão sobre identidade, memória, racismo estrutural e resistência, construindo uma verdadeira linha do tempo literária que atravessa o século XIX e chega às vozes contemporâneas. A programação incluiu títulos centrais como Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, Água Funda, de Ruth Guimarães, e obras atuais como Apolinária, discutidas em encontros mediados por autoras, pesquisadoras e convidadas como Rosália Diogo, Conceição Evaristo, Madu Costa, Eda Costa, Patrícia Santana e Bianca Santana.
O balanço de 2025 inclui ainda o Mondolivro, podcast diário criado, apresentado e curado por Afonso Borges, dedicado à divulgação da literatura e do pensamento contemporâneo e mantido há 26 anos no ar de forma ininterrupta, com rigor editorial e compromisso permanente com a valorização do livro e da leitura no Brasil. Atualmente veiculado na Rádio Alvorada FM, o programa é transmitido todos os dias da semana, com duas veiculações diárias, totalizando cerca de 728 veiculações por ano, o que o consolida como um dos mais duradouros espaços dedicados exclusivamente à literatura no rádio brasileiro.
Ainda de acordo com a organização, em 2025 todos os festivais realizados pela Associação Cultural Sempre Um Papo incorporaram de forma estruturada diretrizes de acessibilidade, diversidade, responsabilidade social e boas práticas ESG, consolidando a cultura como campo estratégico de impacto social mensurável. As programações ofereceram recursos permanentes de acessibilidade comunicacional, incluindo tradução em Libras, audiodescrição, mediação acessível, transmissões digitais e disponibilização de conteúdos em plataformas online, ampliando o acesso de públicos com deficiência e de pessoas geograficamente distantes.
Ao sintetizar o ano, Afonso Borges destaca que 2025 reafirma um aprendizado de quatro décadas: "a literatura como território de encontro capaz de transformar realidades, sustentada por uma rede de autores, parceiros, leitores e trabalhadoras da cultura que acredita no livro como ferramenta de emancipação".






