Sempre um Papo 2025 reuniu cerca de 100 mil pessoas
PublishNews, Redação, 17/12/2025
Projeto idealizado e gerido por Afonso Borges promoveu eventos em quatro estados e se prepara para celebrar 40 anos em 2026

Ruy Castro, Heloisa Seixas e Afonso Borges: projeto Sempre um Papo vai completar 40 anos em 2025 | © @silvaguimartins
Ruy Castro, Heloisa Seixas e Afonso Borges: projeto Sempre um Papo vai completar 40 anos em 2025 | © @silvaguimartins
A Associação Cultural Sempre Um Papo encerra 2025 com presença em quatro estados e a realização de quatro festivais literários, em um ano marcado pela expansão territorial, pelo fortalecimento de parcerias e pela consolidação de políticas culturais com impacto social, segundo um balanço da casa. Enquanto se prepara para celebrar 40 anos em 2026, a programação reuniu ciclos regulares em São Paulo, Paracatu e Belo Horizonte, retomou atividades em Brasília e no Rio de Janeiro e incorporou projetos especiais como Muros Invisíveis – Afroempreendedores, Palavra Justa e o Clube do Livro – Letramento Racial, além de organizar os festivais Fliparacatu, Fliaraxá, Flitabira e Flipetrópolis, que, somados às demais ações, contribuíram para um público estimado de cerca de 100 mil pessoas, incluindo os festivais. Todas as atividades foram patrocinadas pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura.

Idealizado e presidido por Afonso Borges, o Sempre Um Papo reafirmou em 2025 "seu compromisso histórico com a democratização da leitura, a formação de leitores e o fortalecimento da vida cultural brasileira, promovendo mais de uma centena de encontros com escritoras e escritores, artistas, pensadores e cientistas de diferentes regiões do país e do mundo", de acordo com um comunicado.

A novidade da programação de 2025 foi o Sempre Um Papo – TCE Cultural, um programa inédito no país, realizado pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCEMG) em parceria com a Copasa, por meio da Lei Rouanet. A iniciativa inaugurou um modelo original de diálogo público ao articular literatura, pensamento crítico, arte e escuta cidadã, transformando temas tradicionalmente técnicos — como fiscalização, controle externo, políticas públicas, transparência e gestão do Estado — em debates culturais acessíveis, abertos ao público e ancorados na mediação qualificada da palavra. Ao longo do ano, o programa reuniu autores e pensadores de grande relevância nacional e internacional, como Mia Couto, Itamar Vieira Junior, Conceição Evaristo, Ailton Krenak, além de Leila Ferreira, Semayat Oliveira, Luana Tolentino e o próprio Afonso Borges, consolidando-se como uma experiência que aproxima instituições de controle, produção cultural e sociedade civil, e afirmando o papel da literatura como ferramenta de compreensão do presente e de qualificação do debate democrático.

No eixo paulista, o Sempre Um Papo manteve, em 2025, sua parceria continuada com o Sesc São Paulo, uma colaboração que completa 24 anos e se consolidou como uma das mais duradouras do projeto. Ao longo do ano, o ciclo reuniu Maria Homem e Nurit Bensusan, Ailton Krenak e Anielle Franco, Fernando Gabeira e Elizângela Baré, Bianca Santana e Ricardo Abramovay, Ellen Oléria e Sérgio Vaz, Maria Valéria e Silvio Meira, Neide Rigo e Fabiana Cozza, Cármen Lúcia e Maria Vilani, além de Drauzio Varella e Vanda Witoto, que encerraram a temporada.

Em Brasília, o Sempre Um Papo consolidou, ao longo de 2025, o ciclo de conversas literárias realizado na Caixa Cultural, com patrocínio da Caixa, reafirmando o espaço como um polo permanente de reflexão crítica no Distrito Federal. Foram realizados dez encontros, que reuniram Itamar Vieira Junior, Ailton Krenak, Bianca Santana e Matheus Leitão, Fabrício Carpinejar, Ana Maria Gonçalves e Valter Hugo Mãe, Jamil Chade, José Miguel Wisnik, Paulo Scott e Eliana Alves Cruz, Conceição Evaristo e Milton Hatoum e Cibele Tenório, em uma programação que abordou literatura, política, história, memória, direitos humanos, jornalismo, identidade e os desafios contemporâneos do país.

No Rio de Janeiro, em parceria com o Museu do Amanhã, o projeto Sempre Um Papo – Palavra Acesa realizou um ciclo de encontros que articulou literatura, reflexão crítica e imaginação social a partir da leitura pública de poemas centrais da literatura brasileira, que serviram de ponto de partida para os debates. A programação reuniu Fabrício Carpinejar e Eliana Alves Cruz, Cármen Lúcia e Chico César, José Miguel Wisnik e Flávia Oliveira, além de Bruna Lombardi e Aydano André Motta. Na pauta, estiveram poemas de Vinicius de Moraes, Affonso Romano de Sant’anna, Conceição Evaristo e Carlos Drummond de Andrade.

Em Paracatu, com patrocínio da Kinross, o programa anual manteve a regularidade mensal e reforçou de forma consistente o fortalecimento cultural do município, recebendo ao longo de 2025 autoras e autores nacionais e regionais como Socorro Aciolli, Itamar Vieira Junior, Andressa Marques, Nurit Bensusan, Alessandra Roscoe, Tião Rocha e Cibele Tenório. A programação incluiu ainda encontros dedicados à produção literária local e regional, reunindo Daniela Prado, Pillar Meireles, Raik, Silvano Avelar e Tarzan Leão, além de Mariana Lelis e Camila Tokutsune, e contou também com a participação do poeta e arte-educador Thiago SKP.

O Fliparacatu 2025, também patrocinado pela Kinross, realizado entre 27 e 31 de agosto, vem se tornando uma das experiências literárias mais expressivas do interior brasileiro. Com o tema “Literatura, encruzilhada e desumanização”, a terceira edição teve como escritor homenageado Valter Hugo Mãe e reuniu mais de 70 autoras e autores nacionais e internacionais em uma programação com mais de 80 atividades, entre mesas literárias, debates, apresentações artísticas, oficinas, exposições e performances. Um dos destaques centrais foi o forte engajamento do sistema educacional: 42 instituições de ensino participaram do festival, mobilizando cerca de 28 mil crianças e jovens em ações de leitura, encontros com escritores e atividades formativas.

O Fliaraxá 2025, patrocinado pela CBMM e Bem Brasil, realizado entre 1º e 5 de outubro, sob o tema “Literatura, Encruzilhada e Memória”, homenageou a escritora ruandesa Scholastique Mukasonga, o autor Itamar Vieira Junior, o patrono local Agripa Vasconcelos e valorizou o escritor araxaense Fernando Braga de Araújo. A curadoria, assinada por Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches, com colaboração de Leo Cunha, Luiz Humberto França e Rafael Nolli, estruturou uma programação com mais de 100 atrações, reunindo 135 autores nacionais e internacionais, além de promover mais de 90 lançamentos de livros. O festival recebeu aproximadamente 20 mil pessoas e também teve forte integração com a rede educacional: o Prêmio de Redação e Desenho envolveu 58 escolas, correspondendo a cerca de 86% da rede escolar de Araxá.

O Flitabira 2025, patrocinado pela Vale, realizado de 29 de outubro a 2 de novembro, reuniu cerca de 30 mil pessoas ao longo de cinco dias. Com o tema “Literatura, Encruzilhada e A Rosa do Povo”, a edição foi marcada por uma programação que integrou debates, oficinas, música, atividades infantojuvenis, sessões de autógrafos e espaços dedicados a jovens escritores. A curadoria — formada por Sérgio Abranches, Afonso Borges, Bianca Santana, Jeferson Tenório, Leo Cunha, Carol Peixoto e Sandra Duarte — homenageou Ana Maria Machado, Conceição Evaristo, Ignácio de Loyola Brandão e Milton Hatoum. O Prêmio de Redação e Desenho mobilizou 35 escolas, cerca de 68% da rede municipal, envolvendo milhares de estudantes.

Já o Flipetrópolis 2025, realizado entre 27 e 30 de novembro no Palácio de Cristal, reuniu 63 autoras e autores nacionais e internacionais em uma programação que integrou literatura, pensamento crítico, história, futuridades, questões raciais, cinema, teatro e diferentes linguagens artísticas. Ao longo de quatro dias, foram realizados 37 painéis, além de oficinas, lançamentos, programação infantojuvenil e atividades voltadas à mediação de leitura, criando um ambiente de encontro entre tradição e contemporaneidade. O festival homenageou o escritor Antônio Torres e recebeu figuras centrais do pensamento brasileiro, como Sueli Carneiro, agraciada com o Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano 2025, reafirmando o compromisso curatorial com diversidade estética, geracional e temática. A dimensão editorial foi um dos pontos altos da edição, com mais de 280 lançamentos de livros e a venda de mais de 5 mil exemplares nas livrarias instaladas no evento.

Em Belo Horizonte, o núcleo tradicional do Sempre Um Papo, patrocinado pela Cemig e pelo Itaú, sediado na Biblioteca Pública, manteve ao longo de 2025 uma interlocução direta com autores de grande repercussão nacional, recebendo Gustavo Grandinetti, Frei Betto, David Diop e Ricardo Aleixo. Paralelamente, o ciclo realizado por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura ampliou o escopo do debate literário e do pensamento público, reunindo Tião Rocha, Aline Bei, Jeferson Tenório, Cidinha da Silva, Eduardo Giannetti, Bianca Santana, Maria Ribeiro, Ruy Castro, Heloisa Seixas, Eugênio Bucci e Jeferson da Fonseca, em encontros dedicados à literatura contemporânea, à crítica social, à ética, às desigualdades e aos temas centrais da vida cultural brasileira.

Muros Invisíveis – Afroempreendedores foi realizado em 2025 como uma iniciativa da Plataforma Semente, do Ministério Público de Minas Gerais, em parceria com a Associação Cultural Sempre Um Papo, a 3ª Promotoria de Justiça de Paracatu, o CAOMA e a Prefeitura Municipal de Paracatu. Instalado na Praça da Matriz, o projeto apresentou uma exposição pública com o retrato de 42 afroempreendedores da cidade, fotografados por Luana Neiva, com curadoria de Rose Bispo e direção de arte de Coniiin.

O Sempre Um Papo – Palavra Justa foi lançado em 2025 como uma iniciativa estruturante da Associação Cultural Sempre Um Papo em parceria com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp MG) e o Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen MG). O projeto nasceu a partir de um diagnóstico inédito sobre as 122 bibliotecas prisionais do Estado, revelando desigualdades profundas entre acervos, infraestrutura e condições de funcionamento, mesmo diante da expansão dos programas de remição de pena pela leitura, cujo número de participantes praticamente dobrou entre 2022 e 2024. Com pontos de coleta distribuídos nas 19 RISPs e em unidades da UAI, o projeto envolveu cidadãos, escolas, editoras e instituições culturais, reafirmando o livro como instrumento de dignidade, formação e reconstrução de trajetórias no sistema prisional.

O Clube do Livro – Letramento Racial, criado pelo Sempre Um Papo e desenvolvido ao longo de 2025 e 2026, estruturou-se como um programa aberto e gratuito dedicado à formação crítica por meio da leitura de obras fundamentais da literatura afro-brasileira. O projeto organizou um percurso contínuo de reflexão sobre identidade, memória, racismo estrutural e resistência, construindo uma verdadeira linha do tempo literária que atravessa o século XIX e chega às vozes contemporâneas. A programação incluiu títulos centrais como Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, Água Funda, de Ruth Guimarães, e obras atuais como Apolinária, discutidas em encontros mediados por autoras, pesquisadoras e convidadas como Rosália Diogo, Conceição Evaristo, Madu Costa, Eda Costa, Patrícia Santana e Bianca Santana.

O balanço de 2025 inclui ainda o Mondolivro, podcast diário criado, apresentado e curado por Afonso Borges, dedicado à divulgação da literatura e do pensamento contemporâneo e mantido há 26 anos no ar de forma ininterrupta, com rigor editorial e compromisso permanente com a valorização do livro e da leitura no Brasil. Atualmente veiculado na Rádio Alvorada FM, o programa é transmitido todos os dias da semana, com duas veiculações diárias, totalizando cerca de 728 veiculações por ano, o que o consolida como um dos mais duradouros espaços dedicados exclusivamente à literatura no rádio brasileiro.

Ainda de acordo com a organização, em 2025 todos os festivais realizados pela Associação Cultural Sempre Um Papo incorporaram de forma estruturada diretrizes de acessibilidade, diversidade, responsabilidade social e boas práticas ESG, consolidando a cultura como campo estratégico de impacto social mensurável. As programações ofereceram recursos permanentes de acessibilidade comunicacional, incluindo tradução em Libras, audiodescrição, mediação acessível, transmissões digitais e disponibilização de conteúdos em plataformas online, ampliando o acesso de públicos com deficiência e de pessoas geograficamente distantes.

Ao sintetizar o ano, Afonso Borges destaca que 2025 reafirma um aprendizado de quatro décadas: "a literatura como território de encontro capaz de transformar realidades, sustentada por uma rede de autores, parceiros, leitores e trabalhadoras da cultura que acredita no livro como ferramenta de emancipação".

[17/12/2025 09:47:03]