Joana Contino discute, em livro, 'fast fashion' e relações de trabalho na indústria da moda
PublishNews, Redação, 28/11/2025
Especialista analisa mecanismos como a obsolescência programada, a velocidade inédita de circulação de mercadorias e a crença de que o consumo acelerado seria uma demanda espontânea do público

Joana Contino e capa do livro © Jorge Pereira
Joana Contino e capa do livro © Jorge Pereira

A moda pode ser entendida como um ato político? Para a professora, pesquisadora e designer carioca Joana Contino, a resposta é um enfático sim. Em A indústria da moda no capitalismo tardio (RioBooks), a autora investiga como o setor foi moldado por dinâmicas de exploração, aceleração e obsolescência — um sistema que, segundo ela, nunca operou tão rápido nem exigiu tanto dos trabalhadores.

Se o assunto interessou, pega logo a agenda para estar lá: Vai ter noite de autógrafos na próxima segunda, 1º de dezembro, às 19h, na Blooks Livraria (Praia de Botafogo, 316 — Rio de Janeiro / RJ), depois de um bate-papo da autora com a historiadora da moda Carol Lardoza.

O livro nasce diretamente de sua trajetória profissional e acadêmica. “Comecei na moda como microempresária, ainda na época de faculdade. Anos depois, o negócio cresceu um pouco e abri uma loja em shopping com mais duas sócias”, recorda Joana ao PublishNews.

“Na época, o fast fashion estava começando dominar o mercado de moda. E como o negócio era pequeno, ficou difícil manter, porque era difícil competir em velocidade e em preço. Foi quando decidi fazer mestrado em Design e o tema surgiu da minha vivência como microempresária. A dissertação foi sobre os impactos do fast fashion. E continuei a pesquisa no doutorado, também em Design, mas como foco nas relações de trabalho", lembra ao PN a professora de Design na ESPM Rio.

A partir dessa experiência, a autora revisita no livro — que é a versão revista de sua tese, financiada por um edital de apoio à editoração da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) — conceitos essenciais para compreender as relações entre moda, política e economia. Joana analisa mecanismos como a obsolescência programada, a velocidade inédita de circulação de mercadorias e a crença difundida de que o consumo acelerado seria uma demanda espontânea do público.

"Nunca criamos produtos que são comprados e descartados tão rapidamente e nunca se explorou tanto o trabalhador da moda", enfatiza a especialista, no release distribuído à imprensa. Ela sabe do que está falando para além da academia. São 20 anos de experiência no segmento e, apaixonada pelo Carnaval, Joana costura, ano a ano, as suas fantasias.

A autora também destaca que, embora a precarização do trabalho seja amplamente discutida por campos como a Sociologia do Trabalho, a reflexão raramente parte de dentro do próprio design de moda. Joana observa que muitos designers não se reconhecem como trabalhadores — o que contribui para reforçar estruturas hierárquicas que separam trabalho intelectual e trabalho manual, mesmo quando ambos estão igualmente inseridos nas dinâmicas de exploração da cadeia produtiva.

Outro ponto abordado no livro é a contradição entre discursos de inovação e práticas de produção que continuam baseadas em mão de obra barata, especialmente no Sul Global. Apesar da existência de tecnologias como sewbots (os robôs de costura) desde os anos 1980, a autora explica que a automação não avançou na moda porque ainda é mais vantajoso economicamente recorrer à exploração da mão de obra quase escravagista.

Tags: RioBooks
[28/11/2025 10:36:04]