Coleção Rosa Brava, da Vento Leste, quer publicar 15 fotolivros no país até 2030
PublishNews, Monica Ramalho, 29/10/2025
Próximos títulos devem levar em consideração a diversidade regional e cultural pelo mundo - e os livros brasileiros trarão olhares de outras regiões, pois esses três vieram de São Paulo

Três fotolivros escritos e clicados por Juliana Monteiro (Do outro lado da porta), Ana Dalle Vedove (Anamnesis) e Juliana Corsi (O cordão que nos corta) ganharam recentemente as prateleiras do país. Integrantes da Coleção Rosa Brava - nome de uma flor que oferece beleza e sabe se proteger com os espinhos, associado a um adjetivo que remete à valentia —, os volumes abrem caminho para que outros criadores compartilhem, com igual coragem, os seus sentimentos em novas publicações.

“Há muita força na capacidade de encantar", bota fé Helena Rios, pesquisadora e diretora artística da coleção com Marcelo Greco, sobre o nome Rosa Brava. As obras são lançadas pela editora Vento Leste, especializada em fotolivros desde o seu nascimento, em 2015 — portanto, em ano comemorativo pela década de resistência em um mercado editorial que vive profundas transformações.

“Quando começamos a pensar na coleção, sabíamos que queríamos publicar trabalhos que tivessem como tema as questões relativas às mulheres – nossa ideia não é ter uma coleção feita exclusivamente de autoras, embora tenhamos decidido começar publicando mulheres – e, como orientadores e artistas, Marcelo e eu sempre acreditamos que a expressão artística se faz ‘com o corpo inteiro’. Gostamos de pensar que uma obra surge da integração entre as percepções do corpo, as experiências da alma, a elaboração do intelecto”, diz Helena.

Helena Rios © Eduardo Vieira
Helena Rios © Eduardo Vieira
Os planos da dupla são muito bons: Publicar 15 fotolivros até 2030. Os próximos títulos devem levar em consideração a diversidade regional e cultural pelo mundo — e os livros brasileiros trarão olhares de outras regiões, pois as autoras inaugurais moram em São Paulo. Helena adianta que eles já têm uma lista de nomes desejáveis e que estão usufruindo da experiência da curadora e artista visual portuguesa Ângela Berlinde para trazer nomes internacionais à Rosa Brava.

Flutuando entre arte e literatura, o fotolivro ainda é um formato pouco difundido no país. “Certamente há pouco espaço para essas obras no mercado editorial brasileiro. Existe consenso entre os editores de fotolivros sobre a necessidade de expandir o público leitor, o que não é uma tarefa simples pois no Brasil não somos ensinados a ler imagens. Em geral, pensa-se na imagem como ilustração subordinada a um texto, ou como um documento inquestionável”, pondera Helena.

Subordinação que não existe na Rosa Brava, que é regida pelo conteúdo, seja ele imagético ou uma sopa de letrinhas. “Há, sim, algumas diretrizes que valem para a coleção como um todo: não há hierarquia entre imagens e textos, as linguagens se complementam e é exatamente nesse arranjo que a expressão se faz", explica Helena Rios, artista visual com formação e trajetória na área de design gráfico, em especial com a criação de livros. Nota-se que os três volumes foram pensados um a um e no detalhe.

Três escrevivências com imagens

Em Do outro lado da porta, por exemplo, há quatro capítulos e, em cada um, as palavras e fotografias de Juliana Monteiro são combinadas de uma forma. Cada linguagem traduz a experiência vivida. E, assim, alcança lugares específicos, que nem todas alcançarão, por causa de suas próprias limitações. A narrativa revela uma experiência intensa de quase morte de uma mãe durante a pandemia, quando, infectada, se vê confinada a um quarto da casa. A autora escreve para a filha de cinco anos que está o tempo todo, como o nome adianta, do outro lado da porta.

Já no volume Anamnesis, de Ana Dalle Vedove, “o conjunto dos textos configura-se como uma investigação a respeito das práticas sistêmicas de abusos de gênero, enquanto a narrativa formada pelas imagens transmite a maneira como o corpo físico experiencia tais violências", nas palavras da idealizadora da coleção. Anamnesis é o primeiro livro da autora e combina textos sobre abusos contra mulheres e fotos (a maioria, retratos em preto e branco) que transmitem como essas violências afetam o corpo feminino.

E o livro de Juliana Corsi — O cordão que nos corta — foi feito de outra maneira: costura fotos em preto e branco, desenhos e pinturas feitos por ela nos últimos dez anos e breves textos da Helena Rios, tecidos especialmente para o volume. Por fim, ele mostra duas experiências femininas sobre maternidade, ancestralidade, infância e morte, embaladas em uma atmosfera onírica e transparente. Os três livros reforçam uma ideia de intimidade pois convidam o leitor a conhecer o que se passa nos mundos interiores das autoras.

Essa trinca de livros surpreende pela elegância e por tocar em assuntos tão profundos. Foram lançados na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e na Livraria da Travessa de Botafogo, no Rio de Janeiro, inaugurando a galeria de fotolivro do espaço, uma parceria com o FotoRio. A unidade custa R$ 120, um preço acima da média, mas completamente aceitável diante dos exemplares. Helena Rios e Marcelo Greco quiseram fazer livros para durar, perseguindo a ideia de que eles viverão mais do que nós, leitores.

“E também ultrapassarão fronteiras e alcançarão lugares independente de nós ou de suas autoras e autores. Depois de lançados, os livros adquirem essa autonomia. Por isso nos preocupamos em dar a eles corpos resistentes – feitos de bons materiais e bons sistemas de impressão e de encadernação. Quando há sofisticações no design, por exemplo, entendemos que elas não devem se sobrepor ao conteúdo e nem fragilizar a estrutura do próprio livro", arremata Helena Rios nessa agradável entrevista.

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[29/10/2025 11:07:23]