
“Há muita força na capacidade de encantar", bota fé Helena Rios, pesquisadora e diretora artística da coleção com Marcelo Greco, sobre o nome Rosa Brava. As obras são lançadas pela editora Vento Leste, especializada em fotolivros desde o seu nascimento, em 2015 — portanto, em ano comemorativo pela década de resistência em um mercado editorial que vive profundas transformações.
“Quando começamos a pensar na coleção, sabíamos que queríamos publicar trabalhos que tivessem como tema as questões relativas às mulheres – nossa ideia não é ter uma coleção feita exclusivamente de autoras, embora tenhamos decidido começar publicando mulheres – e, como orientadores e artistas, Marcelo e eu sempre acreditamos que a expressão artística se faz ‘com o corpo inteiro’. Gostamos de pensar que uma obra surge da integração entre as percepções do corpo, as experiências da alma, a elaboração do intelecto”, diz Helena.

Flutuando entre arte e literatura, o fotolivro ainda é um formato pouco difundido no país. “Certamente há pouco espaço para essas obras no mercado editorial brasileiro. Existe consenso entre os editores de fotolivros sobre a necessidade de expandir o público leitor, o que não é uma tarefa simples pois no Brasil não somos ensinados a ler imagens. Em geral, pensa-se na imagem como ilustração subordinada a um texto, ou como um documento inquestionável”, pondera Helena.
Subordinação que não existe na Rosa Brava, que é regida pelo conteúdo, seja ele imagético ou uma sopa de letrinhas. “Há, sim, algumas diretrizes que valem para a coleção como um todo: não há hierarquia entre imagens e textos, as linguagens se complementam e é exatamente nesse arranjo que a expressão se faz", explica Helena Rios, artista visual com formação e trajetória na área de design gráfico, em especial com a criação de livros. Nota-se que os três volumes foram pensados um a um e no detalhe.
Três escrevivências com imagens
Em Do outro lado da porta, por exemplo, há quatro capítulos e, em cada um, as palavras e fotografias de Juliana Monteiro são combinadas de uma forma. Cada linguagem traduz a experiência vivida. E, assim, alcança lugares específicos, que nem todas alcançarão, por causa de suas próprias limitações. A narrativa revela uma experiência intensa de quase morte de uma mãe durante a pandemia, quando, infectada, se vê confinada a um quarto da casa. A autora escreve para a filha de cinco anos que está o tempo todo, como o nome adianta, do outro lado da porta.
Já no volume Anamnesis, de Ana Dalle Vedove, “o conjunto dos textos configura-se como uma investigação a respeito das práticas sistêmicas de abusos de gênero, enquanto a narrativa formada pelas imagens transmite a maneira como o corpo físico experiencia tais violências", nas palavras da idealizadora da coleção. Anamnesis é o primeiro livro da autora e combina textos sobre abusos contra mulheres e fotos (a maioria, retratos em preto e branco) que transmitem como essas violências afetam o corpo feminino.
E o livro de Juliana Corsi — O cordão que nos corta — foi feito de outra maneira: costura fotos em preto e branco, desenhos e pinturas feitos por ela nos últimos dez anos e breves textos da Helena Rios, tecidos especialmente para o volume. Por fim, ele mostra duas experiências femininas sobre maternidade, ancestralidade, infância e morte, embaladas em uma atmosfera onírica e transparente. Os três livros reforçam uma ideia de intimidade pois convidam o leitor a conhecer o que se passa nos mundos interiores das autoras.
Essa trinca de livros surpreende pela elegância e por tocar em assuntos tão profundos. Foram lançados na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e na Livraria da Travessa de Botafogo, no Rio de Janeiro, inaugurando a galeria de fotolivro do espaço, uma parceria com o FotoRio. A unidade custa R$ 120, um preço acima da média, mas completamente aceitável diante dos exemplares. Helena Rios e Marcelo Greco quiseram fazer livros para durar, perseguindo a ideia de que eles viverão mais do que nós, leitores.
“E também ultrapassarão fronteiras e alcançarão lugares independente de nós ou de suas autoras e autores. Depois de lançados, os livros adquirem essa autonomia. Por isso nos preocupamos em dar a eles corpos resistentes – feitos de bons materiais e bons sistemas de impressão e de encadernação. Quando há sofisticações no design, por exemplo, entendemos que elas não devem se sobrepor ao conteúdo e nem fragilizar a estrutura do próprio livro", arremata Helena Rios nessa agradável entrevista.
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