'O Brasil está com tudo!', afirma executiva da Nielsen, Hazel Kenyon, em Frankfurt
PublishNews, Guilherme Sobota, 15/10/2025
Mercado editorial brasileiro foi destaque em uma apresentação da Nielsen BookData na manhã desta quarta-feira (15), na Feira do Livro de Frankfurt​

Estande brasileiro recebeu um café da manhã nesta quarta-feira (15) | © Guilherme Sobota / PublishNews
Estande brasileiro recebeu um café da manhã nesta quarta-feira (15) | © Guilherme Sobota / PublishNews
FRANKFURT – O mercado editorial brasileiro foi destaque em uma apresentação da Nielsen BookData na manhã desta quarta-feira (15), na Feira do Livro de Frankfurt. Em conjunto com a GfK Entertainment, a empresa mostrou dados internacionais referentes aos primeiro oito meses de 2025: entre os 19 territórios analisados, 11 tiveram crescimento nas receitas – com destaque para Índia (+28,6%), Brasil (+10,8%), Colômbia (+9,6%) e Portugal (+8,4%).

Os livros de colorir foram citados como um dos motivos do crescimento, com mais de um milhão de unidades vendidas no período no país. Mas a ficção voltada para jovens também tem importância, no Brasil e em outros territórios, além de mangás, livros de fantasia e sci-fi. "Ainda vemos uma grande presença de nomes como Colleen Hoover e Matt Haig entre os mais vendidos no Brasil, bem como livros de 'comédia romântica' – algo pouco comum em outros países – e desenvolvimento pessoal", notou a diretora comercial da Nielsen BookData, Hazel Kenyon. "O Brasil está com tudo!", concluiu.

Outros números apresentados pela Nielsen fizeram comparações sobre a evolução do preço do livro. O "preço médio de venda" (Average Selling Price) aumentou em todos os territórios analisados (menos a Nova Zelândia) em relação ao mesmo período do ano passado, mas muitos não acompanharam o ritmo da inflação, inclusive o Brasil – ou seja, na prática e na média, os livros estão menos caros do que no ano passado. Outra comparação – essa ainda mais desfavorável para o Brasil – foi apresentada entre o preço médio e salário médio (por hora). A diretora fez a ressalva de a comparação poder ser injusta por desconsiderar diversos outros fatores, mas no gráfico é possível observar que, entre os países analisados, o Brasil é um dos que apresentam o preço médio mais elevado em relação ao salário.

Comparação é desfavorável na América Latina, Índia, Portugal e Espanha | © PublishNews
Comparação é desfavorável na América Latina, Índia, Portugal e Espanha | © PublishNews
"A ideia era medir e comparar o quanto os consumidores ficam confortáveis na hora de decidir comprar um livro. Mas notamos que os países em que essa relação é desfavorável, há o maior crescimento de volume nos últimos meses. Ou seja, são leitores afiados, que vêem o livro como objeto de valor, mesmo que sejam caros em relação à disponibilidade financeira de cada um", explicou a diretora.

Cenário internacional

Segundo a pesquisa, os mercados internacionais estão passando por um período de transição, com vendas de não ficção contidas, mas forte desempenho em gêneros de ficção.

França e Reino Unido, os maiores mercados no relatório, com vendas de 186 milhões e 115 milhões de unidades, respectivamente, encerraram os primeiros oito meses de 2025 com ligeiras quedas na receita de -0,8% e -0,4%. Holanda (-0,7%), Polônia (-1,3%), Suíça de língua alemã (-1,8%) e Itália (-2,6%) também registraram quedas. A maior queda ocorreu na Suíça de língua francesa, a região da Romandia (-4,4%).

Aumento de preços compensa queda de volumes

Oito dos territórios analisados relataram um aumento no número de livros vendidos. Além de Brasil e Índia, Austrália (+2,0%) e Nova Zelândia (+8,4%). Em outros lugares, as vendas em volume (unidades) diminuíram, como na Itália (-3,0%) e na região da Valônia, na Bélgica (-2,2%).

Os preços médios dos livros subiram de forma generalizada, ajudando em parte a neutralizar a queda nos volumes de vendas. Na Espanha, por exemplo, o preço médio aumentou +4,1%, atingindo €16,04 (R$ 101) por título. México (280,58 MXN; R$ 82) e Holanda (€16,21) ambos relataram aumentos de preços de +4,0%. A Nova Zelândia foi o único mercado onde os preços médios de venda caíram, diminuindo -4,0% ano a ano.

Policial, ficção científica e fantasia impulsionam as vendas de ficção

Assim como no ano anterior, o segmento de ficção se desenvolveu positivamente, com 14 dos 19 territórios reportando crescimento na receita. Autores de ficção policial (crime fiction), incluindo Freida McFadden, desempenharam um papel fundamental. Os romances da série A empregada, da escritora americana, lideram as listas gerais do ano até a data na França, Espanha, região da Valônia (Bélgica) e na Romandia (Suíça), e estão entre os cinco romances mais vendidos na Austrália, Brasil, Irlanda, Portugal e Reino Unido em 2025.

Na França, McFadden ocupa todas as cinco primeiras posições na lista de best-sellers geral do ano até a data. Títulos de ficção científica, fantasia e romantasy, como as séries Empyrean, de Rebecca Yarros, e Corte de espinhos e rosas, de Sarah J Maas, também se mostraram populares. Em inúmeros territórios, a comunidade BookTok no TikTok inspirou estes e muitos outros autores e títulos a se tornarem best-sellers.

The Let Them Theory e biografia do Papa entre os best-sellers de não ficção

Os livros de não ficção registraram crescimento na receita em oito dos 19 países analisados. Entre os títulos de maior sucesso apareceram Hábitos atômicos, de James Clear, lançado em 2018, e o título de 2025 de Mel Robbins, Deixa pra lá: A teoria Let Them. O guia de Robbins para relaxar em um mundo com muitos estímulos lidera as listas do período na Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e África do Sul, e é o livro de não ficção mais vendido de 2025 na Bélgica (Flanders), Holanda, Polônia e Reino Unido. Biografias como Esperança, do Papa Francisco, e A different kind of power (Um Tipo Diferente de Poder), da ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, também fizeram sucesso.

Suzanne Collins domina o segmento infanto-juvenil

O livro infanto-juvenil mais vendido até agora em 2025 é O amanhecer da colheita, de Suzanne Collins. A segunda prequel (ou seja, uma obra que narra eventos anteriores à história de uma obra já existente) da série Jogos Vorazes foi especialmente popular na Austrália, França, Irlanda, Nova Zelândia, Romandia e Reino Unido. No geral, dez países aumentaram suas receitas com livros infanto-juvenis ano a ano.

Sobre o estudo

A análise é baseada em dados de ponto de venda (PDV) sobre livros impressos de janeiro a agosto de 2025 para os seguintes territórios: Austrália, Bélgica (Flanders/Valônia), Brasil, Colômbia, França, Índia, Irlanda, Itália, México, Holanda, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Espanha, África do Sul, Suíça (regiões de língua alemã e Romandia) e Reino Unido. A cobertura de mercado e os gêneros incluídos podem variar entre os países.

*O jornalista viajou com o apoio do CreativeSP, programa da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e da InvestSP, agência de promoção de investimentos vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

[15/10/2025 11:12:49]