Romance vencedor do Prêmio Literário José Saramago 2024
PublishNews, Redação, 12/09/2025
No centro da narrativa está António, um homem que assiste ao passar dos dias entre o ranger de uma cadeira de balanço e o tique-taque implacável do relógio

O romance Morramos ao menos no porto (Biblioteca Azul, 240 pp, R$ 74,90), de Francisco Mota Saraiva, vencedor do Prêmio Literário José Saramago 2024, se debruça, com rara delicadeza, sobre a lenta erosão do corpo, da memória e dos afetos. No centro da narrativa está António, um homem que assiste ao passar dos dias entre o ranger de uma cadeira de balanço e o tique-taque implacável do relógio. Recolhido em seu apartamento junto a um porto, ele zela pelo corpo da esposa sem vida como se ela ainda respirasse. Cada gesto cotidiano — limpar, alimentar, cuidar — transforma-se em ritual de negação e lembrança, enquanto do lado de fora a vida insiste em pulsar com a vulgaridade e o barulho da vizinhança decadente. Com uma prosa ao mesmo tempo brutal e arrebatadora, o autor constrói um retrato implacável da solidão, da cumplicidade e do amor em decomposição. O resultado é um romance atmosférico, pungente e de grande densidade literária, que se inscreve na tradição de obras que exploram os limites da sobrevivência íntima diante da perda.

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