
Aos 27 anos, já vivendo no Brasil desde a infância, com uma parte da vida na Itália, aceitou um convite para dirigir uma nova revista da editora Abril, a Quatro Rodas. Depois, ajudou a fundar e lançar as revistas Veja (1968), IstoÉ (1976) e CartaCapital (1994). Também participou da fundação do Jornal da Tarde (1966), do Grupo Estado, com o qual já havia colaborado em diversas ocasiões anteriormente. Nascido em Gênova (Itália), Mino Carta era a terceira geração de jornalistas da família.
Segundo a CartaCapital, Mino sempre rejeitou a ideia de escrever uma autobiografia ou um livro de memórias. "Boa parte de sua história de vida e reminiscências da infância estão registradas nos três romances que, em certa medida, formam uma trilogia: Castelo de âmbar (Record, 2000), A sombra do silêncio (Francis, 2003), e A vida de Mat (Hedra, 2016). O último é o mais memorialístico e tem como mote a maneira como o jornalista entendia a existência", diz a obituário da revista.
Em 2009, a Boitempo publicou Crônicas da Mooca: (com a benção de San Gennaro). No livro, Carta resgata a memória do tradicional bairro paulistano – região de passado industrial que recebeu imigrantes, principalmente italianos. O livro traz flagrantes de um bairro vivo, que acumulou tradições, mas não passou inócuo pelo processo de urbanização acelerada da cidade de São Paulo. Nas palavras do próprio autor, este é "um livro de crônicas, sem maiores pretensões, ditadas, porém, pelo sentimento e ilustradas pela objetiva do velho companheiro de aventuras. Na memória, costumo revisitar pessoas e lugares - vivos porque vivo estou. Entregue ao átimo infinitesimal do presente, dono, porém, do espaço transitável do passado. No bairro, se ando nele como em outros tempos, toma-me algo mais fundo que a própria saudade de mim mesmo. Enxergo o enésimo assalto à memória da cidade. Por ora, no caso da Mooca, sobra esta".
Em 2013, Mino Carta lançou pela Record um livro ambicioso: O Brasil, no qual recorria à literatura para criar uma polêmica reflexão sobre o Brasil, promovendo uma devassa na história do país a partir da morte de Getúlio Vargas.
No romance, um garoto vive em Gênova, cidade constantemente bombardeada, em meio à Segunda Guerra Mundial. De maneira súbita, o jornalista Mino Carta interrompe as memórias de uma infância na Itália castigada pelo conflito e envereda para o Brasil de Getúlio Vargas. O primeiro capítulo do livro, a seu modo bastante singular, romance e memória ao mesmo tempo, começa com a morte do presidente e a comichão que invade o personagem Waldir, professor de História e Geografia no Colégio do Estado, ao receber a notícia. É a partir desse cenário que o autor, lançando mão de sua experiência comandando alguns dos principais veículos de imprensa do país, constrói um antológico enredo entremeado por entreatos de memória.
Em 2024, sua última longa entrevista, concedida a Lira Neto, foi publicada como o segundo volume da série Memória do Jornalismo Brasileiro Contemporâneo”, do IREE. Aos 90 anos, Mino recebeu o jornalista em sua sala, sempre com uma taça de vinho à mão, para compartilhar histórias que atravessam nove décadas, da infância na Itália em meio à Segunda Guerra à fundação das revistas.
"Quando completei oito anos, minha avó materna me deu David Copperfield, livro de Charles Dickens. Aos dez, me deu The Pickwick Papers, também de Dickens. Mas comecei mais cedo, com Pinóquio, o primeiro livro que li. Ainda tenho ele aqui, o mesmo exemplar que pertenceu ao meu pai e à irmã dele", disse, sobre o primeiro interesse na leitura. O livro está disponível de forma gratuita no site do IREE.