Livro revela a história da fotografia no Recife sob as lentes femininas
PublishNews, Redação, 26/08/2025
O lançamento será neste domingo (31), das 15h às 17h, no Instituto Casa Astral, na Zona Norte do Recife, com bate-papo, performance poética e discotecagem

As fotógrafas que produziram o livro © Fernando Figueroa
As fotógrafas que produziram o livro © Fernando Figueroa
Um retrato pioneiro da história da fotografia no Recife, pelo olhar crítico e sem filtros das mulheres, é apresentado no livro Fotógrafas (Uma Ciranda no Recife), nova aposta da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe Editora). O lançamento será neste domingo (31), às 15h, no Instituto Casa Astral (Rua Joaquim Xavier de Andrade, 104, no Poço da Panela - Recife / PE), numa roda de diálogo com Isabella Valle e outras fotógrafas, mediada pela pesquisadora Nina Velasco, performance poética da fotógrafa Nathália Queiroz e discotecagem da fotógrafa Priscilla Buhr.

O livro da professora e fotógrafa Isabella Valle percorre uma narrativa diferente da oficial e atravessa questões de gênero, vida pessoal, maternidade, sexualidade, solidão, preconceito, assédio, formação acadêmica, modos de produção e redes de solidariedade. Em 344 páginas estão representadas gerações da década de 1970 aos anos 2010.

“Neste livro não proponho a construção de uma História da fotografia de mulheres no Recife, até porque acredito que esse H maiúsculo é o mesmo que atravessa a ideia de Homem como sinônimo de humanidade: uma ficção totalitária e violenta”, escreve a autora na abertura da obra.

“Pretendo apresentar narrativas que levantam memórias e questões diversas, importantes e, sobretudo, partilhadas, uma abordagem atenta à situação das fotógrafas participantes, em diálogo com suas particularidades, com respeito a suas biografias e seus enfrentamentos”, aponta ela.

Para documentar essa história, Isabella Valle ouviu quase 50 colegas de profissão que atuam em mercados diversos - fotojornalismo, cinema, fotos de casamento, campanhas publicitárias, universo da política e segmento artístico - em entrevistas e questionários. “O propósito aqui é mover as mulheres e suas questões enquanto fotógrafas do apagamento e das violências sistêmicas que operam no meio, e reverberar algumas vidas e obras, com a força da levada de uma ciranda”, destaca Isabella Valle. O livro obteve financiamento do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura).

Isabella construiu o texto no formato de uma grande reportagem e mostra os desafios de ser fotógrafa num universo masculino, em especial nas redações de jornais. “É um livro de memória que, pela abordagem, acaba não sendo restrito às fotógrafas, mas a todas as mulheres, a narrativa feita na perspectiva de gênero, é diferente da oficial”, diz a fotógrafa. Participam do projeto Gleide Selma, Yêda Bezerra de Mello, Roberta Guimarães, Mariana Guerra, Hélia Scheppa, Mila Souza, Alcione Ferreira, Aline Mariz, Juana Carvalho e Nathália Queiroz, entre outras.

"Do jornalismo, com certeza, eu fui a primeira fotógrafa mulher no Recife. Era uma profissão para homem. (...) Quando cheguei no Recife, eu fui procurar trabalho no jornal. Tinham dez homens na fotografia. Eu fui a primeira mulher a trabalhar na fotografia no Diario de Pernambuco. (...) E eu entrei no laboratório como laboratorista, para fazer o estágio. Eu fiquei três meses sem ganhar um ‘tostão’. Já era sacanagem dos homens, que não queriam mulher na fotografia”, relata, na publicação, a potiguar Gleide Selma, representante da geração da década de 1970.

“O caminho que a gente tem disponível pra gente é completamente diferente. É muito mais complexo e mais difícil. A gente tem que provar. E o lugar que foi apresentado pra mim é um lugar que eu não quero, era o que se reproduz pra toda mulher, a construção de matrimônio e patrimônio, e de maternidade. Na fotografia, as pessoas ficam sempre esperando que você tenha um olhar mais sensível, porque você é mulher. E aí, que olhar sensível é esse? Que parâmetro é esse?”, observa Tuca Siqueira, diretora e roteirista de cinema.

Compõe o título um fotolivro com 52 retratos e autorretratos de 26 fotógrafas, formando uma dança de ciranda. Juliana Lombardi é fotografada por Isabella Valle e por ela mesma, Thaisa Figueiredo é fotografada por Juliana Lombardi e por ela mesma e assim vai, até Bruna Monteiro fazer seu autorretrato e fotografar Isabella, que fecha a roda. Nessa ciranda, afirma a fotógrafa paulista Nair Benedicto, no prefácio do livro, “há uma busca pelo encontro e pela identidade: a fotografia comprova o que somos? Retratos simultâneos nunca são iguais. Cada uma é cada uma, não há iguais. Se me detenho nos detalhes, as imagens sempre são mais importantes do que parecem”.

Fotógrafas (Uma Ciranda no Recife) tem a importância de rever a história da fotografia na capital pernambucana - e no mundo - a partir de uma perspectiva feminista, observando a participação das mulheres e os desafios, barreiras e preconceitos enfrentados por elas. Por meio de entrevistas, Isabella Valle oferece uma visão ao mesmo tempo geral e específica do contexto fotográfico recifense, criando também uma ciranda, que propõe conexões entre essas fotógrafas”, afirma Diogo Guedes, editor da Cepe.

A obra tem produção de Olga Wanderley, edição da jornalista Fabiana Moraes e nasceu da pesquisa acadêmica de Isabella Valle para a tese de doutorado defendida em 2017 no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco.

[26/08/2025 09:37:47]