Flipei recebeu mais de 50 mil visitantes e bateu recordes em vendas de livros
PublishNews, Beatriz Sardinha, 13/08/2025
Evento precisou realocar toda a programação e produção 48h antes do seu início

Editoras relatam aumento de vendas de livros na Flipei em 2025 | © Pedro Ivo
Editoras relatam aumento de vendas de livros na Flipei em 2025 | © Pedro Ivo
A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei) encerrou, no último domingo (10), sua edição 2025 com números positivos tanto de visitantes, quanto de vendas de livros e até de exposição nas redes sociais. Apesar da mudança de local em apenas 48 horas em decorrência de uma tentativa de censura por parte da Fundação Theatro Municipal, o festival registrou circulação estimada entre 45 a 50 mil pessoas ao longo dos cinco dias de programação só no Galpão Elza Soares, que operou em sua capacidade máxima durante todo o evento. Em contato com o PublishNews, expositores também relataram dados positivos de vendas.

Segundo a organização, a Flipei teve uma circulação de aproximadamente 25 mil pessoas na programação ao longo dos dias da semana. Além disso, foi registrada grande adesão nas festas noturnas realizadas no espaço Sol y Sombra: 1,5 a 2 mil pessoas na sexta-feira e 1 a 1,5 mil no sábado. Houve também um aumento no alcance digital, já que os conteúdos da Festa atingiram cinco milhões de pessoas no Instagram. O aumento de seguidores também foi explosivo, com mais de 25 mil novos perfis registrados somente no último mês. A organização aponta a mobilização em defesa do evento após tentativas de censura como grande fator para esse aumento nos números.

Editoras tiveram sucesso nas vendas de livros

A Flipei contou com uma política de descontos de livros ao longo de sua programação. Durante a semana, livros tiveram 40% de desconto, e 20% no final de semana. Em 2025, pela primeira vez, a feira foi 100% gratuita para o público e para as editoras participantes. Editoras e expositores contatados pelo PublishNews relataram crescimento expressivo em relação a participações anteriores na festa pirata.

A Editora Autonomia Literária reportou crescimento de 153% nas vendas comparado à edição passada. Um dos motivos para o sucesso da editora foi a presença da jornalista e crítica literária Louisa Yousfi na programação. Ela é autora do livro Permanecer bárbaro: não brancos contra o império. O criador da editora Barraco Editorial, Wesley Barbosa, participou de dois dias na venda de livros, teve títulos da editora completamente esgotados. "A Flipei é um evento que celebra a democracia e a cultura. As pessoas estão querendo cada vez mais espaços de conversa e de trocas. Também não era um ambiente elitista apenas pra quem tem dinheiro. Isso faz toda a diferença", diz o editor e escritor de Viela ensanguentada.

Milton Hatoum e Ilan Pappe na Flipei © | Pedro Ivo
Milton Hatoum e Ilan Pappe na Flipei © | Pedro Ivo
A Dublinense, que já participou de todas as edições da Flipei, teve um aumento de 25% de livros vendidos em comparação ao ano passado. Curiosamente, o título mais vendido da casa foi um de fundo de catálogo, lançado há mais de três anos: Outra novelinha russa, do escritor chileno Gonzalo Maier.

A editora Ubu relatou ter vendido oito vezes mais livros que da edição de 2024. E a editora Sob Influência registrou a melhor venda de toda sua participação na Flipei desde 2020, dobrando os números em relação ao ano anterior. Já a Veneta confirmou um crescimento de 111% nas vendas de livros, e teve como destaques de vendas os quadrinhos Palestina, de Joe Sacco, Discurso sobre o colonialismo, de Aimé Césaire, e Kit gay, de Vitorelo.

Ilan Pappe falou abertamente na mesa de abertura da Flipei sobre a perseguição que estava recebendo por falar publicamente acerca dos ataques de Israel aos palestinos durante sua vinda ao Brasil. No Brasil, realizou o lançamento de dois livros pela editora Elefante: A maior prisão do mundo: uma história dos territórios ocupados por Israel na Palestina e Brevíssima história do conflito Israel-Palestina.

Novidades da edição e desafio de acessibilidade

Nos dois dias de programação da Zona Piratinhas, espaço dedicado ao público infantil, a Casa Luis Gama recebeu cerca de 200 pessoas entre crianças e acompanhantes, com todas as atividades registrando lotação completa.

Outra novidade para 2025 foi o projeto Flipei Acessível, idealizado desde a inscrição no edital, pensado e gerido por uma empresa especializada em acessibilidade com foco na inclusão através dos recursos estipulados pela Lei Brasileira de Inclusão 13.146/2015. A mudança forçada da Praça das Artes para os novos espaços representou um desafio adicional para a acessibilidade porque o espaço oferecia acessibilidade arquitetônica plena, favorecendo a circulação das pessoas com deficiência com autonomia e segurança. A organização reconheceu que a não realização da Flipei na Praça das Artes impediu drasticamente que o público com deficiência usufruísse plenamente da programação, representando uma das principais perdas da mudança de local.

Operação logística em tempo recorde

A mudança de local em apenas 48 horas representou um desafio logístico. Do ponto de vista da produção geral, foi necessário cancelar todas as entregas previstas para a Praça das Artes, garantir que os fornecedores fossem avisados durante o fim de semana para não comparecerem ao local original na segunda-feira, e assegurar que todos se mantivessem disponíveis para um novo endereço que só seria visitado e aprovado na segunda-feira. A Flipei afirma que o maior desafio foi coordenar a comunicação com quase 600 trabalhadores envolvidos no evento, distribuídos em quatro grupos: equipe de produção, livreiros, artistas e atrações, e fornecedores.

Segundo a organização, foi possível realizar o evento como planejado, mantendo toda a programação original mesmo com a mudança de espaços em apenas 48 horas. Todas as mudanças de última hora na programação não estavam relacionadas à mudança de espaço: "A maior surpresa foi a capacidade e determinação dos trabalhadores da Flipei de não recuar diante das adversidades e remontar um projeto de seis meses em 48 horas", diz uma nota da Festa.

Clube de vantagens

A campanha de financiamento colaborativo Camarada Flipei registrou adesão expressiva durante o evento. Até 11 de agosto, 293 apoiadores aderiram ao clube, além de mais de 100 voluntários que se disponibilizaram para apoiar o projeto. Os fundos arrecadados até este momento por meio da adesão representam 16% do primeiro alvo da organização. A ideia é mobilizar R$ 237 mil para que todo o valor seja alocado no projeto aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. Com isso, a organização poderá garantir a restituição do valor de aporte no clube para as pessoas que declaram imposto na modalidade completa.

O Clube de Vantagens Camarada Flipei surgiu em 2025 como uma forma mais estruturada e contínua da Festa de sustentar a existência do evento. Em 2023 e 2024 a Festa pirata realizou também campanhas pontuais em formatos mais “tradicionais” de financiamento coletivo —, que contaram com a colaboração de mais de 600 pessoas. O orçamento total de R$ 949,6 mil visa garantir uma nova edição da Flipei completamente gratuita, inclusive para as editoras participantes.

[12/08/2025 16:35:33]