
Os escritos de Blanca Mares, de acordo com Roberto Marcos, natural de Belo Horizonte e residente em Teófilo Otoni, foi produzido há dez anos. É uma ficção que mergulha no Brasil profundo, inspirada em personagens reais de Teófilo Otoni, e traz a história de Timóteo, o velho Tussa, sua relação afetiva com a Estrada de Ferro Bahia-Minas e a loucura perpetuada em sua existência com a morte da esposa. “Acompanho o Prêmio Cepe há muito tempo e tenho o maior respeito pelo trabalho sério que vem sendo realizado em Pernambuco pela literatura. Estou muito feliz com a notícia”, afirma Roberto Marcos.
“Ao reconhecer a quantidade de candidatos ao prêmio e o prestígio da Cepe, sinto-me como se tivesse ganhado na loteria”, destaca Keichi Maruyama, autor de Atemoia, sua primeira ficção. A obra, diz ele, “traz um olhar caleidoscópico sobre o universo do trabalho corporativo.” Nos contos, “um ascensorista vive a vertigem das subidas e descidas do capitalismo, um investidor encontra alívio na falsificação de obras artísticas, uma executiva enfrenta o conflito entre afeto e pragmatismo, e uma entrevista de emprego ganha dimensões metafísicas. As variações entrelaçadas dissecam o absurdo da vida profissional, questionando o papel de cada indivíduo nessa engrenagem que molda - e esgota - a humanidade.” Keichi Maruyama cresceu em Fortaleza e vive em São Paulo.

Cicatrizes na paisagem, do gaúcho de Porto Alegre Felipe Julius, 25 anos, sintetiza em versos a tragédia provocada pelas chuvas que atingiram cerca de 2,4 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul, em 2024. “A obra é uma road novel poética que nos carrega de volta à catástrofe climática mais difícil do estado”, declara Felipe Julius. No texto, vencedor de Poesia, “uma mulher grávida atravessa o Sul do Brasil em meio às enchentes, acompanhada da companheira Maria e de uma família desconhecida com quem divide o carro e o destino”, acrescenta. Ele é escritor, roteirista e redator publicitário e mora em Florianópolis.
Vencedor do prêmio na categoria Infantil, A morte e o estagiário da morte, do gaúcho Ernani Ssó, aborda o tema com humor, leveza e sensibilidade. A narrativa se destaca pela originalidade e equilibra diálogos engraçados e profundos entre os dois personagens centrais. Natural de Bom Jesus, na Serra do Rio Grande do Sul, ele tem mais de 30 livros escritos e traduziu mais de 50. “É uma tremenda alegria, porque não sou apenas eu que ganha o prêmio. Muitas crianças, com quem falei em escolas, me pediram mais histórias sobre a morte. É que algumas se divertiram lendo e outras, através delas, conseguiram lidar com seu luto. Isso não tem preço”, afirmou Ernani Ssó.
A mineira de Araxá Lisa Alves conquistou a categoria Infantojuvenil com A menina que não queria ver Deus. Na obra, ela conta a história de Maria Antônia, de 11 anos, que vê um mundo adulto com brigas, ausências e silêncios e recorre à filosofia, à mitologia e às histórias da avó para tentar compreender o que não faz sentido. Em suas orações, pede para que Deus a ouça, mas não apareça. “Ganhar o Prêmio Cepe com A menina que não queria ver Deus é um alívio amargo. Escrevi esse livro pensando nas crianças que ainda têm tempo de perguntar, porque tantas outras têm sido silenciadas sem misericórdia. Obrigada a todas as mãos que cuidam das palavras. E a quem, como Maria Antônia, ainda prefere as perguntas às certezas”, diz Lisa Alves, escritora, videoartista e roteirista.
O editor da Cepe, Diogo Guedes, destaca a importância dos editais dos prêmios para a valorização da produção literária. “Eles são fundamentais por promoverem a escrita e por trazerem novos originais, já respaldados por um júri especial, para o nosso catálogo, com obras que provaram sua capacidade de mobilizar leitores e se destacarem. Não é por acaso que vencedores de edições anteriores tiveram boas trajetórias em premiações literárias nacionais. Vemos entre esses originais premiados autores jovens, estreias na literatura e também nomes veteranos, de carreira consolidada”, assegura.
Números da edição
A Cepe registrou um total de 1.740 inscrições nos prêmios literários, sendo 1.075 para a categoria adulta e 665 na edição Infantil e Infantojuvenil. Isso representa um aumento de 19,7% em relação aos últimos concursos, em 2022. São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia foram os estados com maior número de candidatos. Desta vez, houve uma proporcionalidade em relação ao gênero, sendo 52,9% componentes masculinos e 47,1% femininos.
Os trabalhos inscritos no 8º Prêmio Cepe Nacional de Literatura foram selecionados por duas comissões responsáveis pela pré-seleção e análise final. O júri inicial teve a participação de Clarissa Galvão, Igor Gomes (Romance), Marina Moura (Contos), Floresta e Júlia Côrtes Rodrigues (Poesia). Compôs o júri final as escritoras Cidinha da Silva, Jussara Salazar e Nara Vidal.
O 5º Prêmio Cepe Nacional de Literatura Infantil e Infantojuvenil contou com um júri único formado pelos escritores Ana Estaregui, Nina Rizzi e Thiago Corrêa. “Buscamos ter um júri composto de pessoas com carreira destacada e significativa no meio da literatura, mas sempre considerando critérios de diversidade. O processo da premiação é anônimo, então o que pesa é a qualidade dos textos e a negociação entre os diferentes repertórios do júri final, que este ano foi composto de três mulheres ", destaca a editora-assistente da Cepe, Gianni Gianni.